Sesc SP

postado em 12/04/2017

Memória musical

Orquestra Continental de Jaú (1946-1968). Apresentação na TV Tupi, em 1960
Orquestra Continental de Jaú (1946-1968). Apresentação na TV Tupi, em 1960

      


Big bands paulistas: história de orquestras de baile do interior de São Paulo trata de aspectos socioculturais relevantes ao mostrar o impacto dos bailes nas localidades onde eram realizados

 

Pixinguinha (1897-1973) e Radamés Gnattali (1906-1988) são os personagens principais da história das orquestras populares no Brasil, na primeira metade do século XX. Segundo afirma o pesquisador Jairo Severiano em Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade, ambos os maestros-arranjadores criaram, “no então acanhado estágio de desenvolvimento em que se encontrava nosso meio musical, os padrões básicos de arranjo para a música popular brasileira, servindo seus trabalhos de paradigma para os músicos nacionais que pontificaram nas décadas de 1930 e 1940. Pixinguinha, mais chegado aos metais; Radamés, às cordas”.

É com eles, então, que tem início a chamada Época de Ouro da música popular orquestral no país, que irá atravessar as décadas seguintes não somente gozando de grande sucesso junto ao público, mas também exercendo especial poder de atração sobre o imaginário cultural brasileiro. O fato é que a enorme popularidade lograda pelas orquestras de baile de norte a sul do país ocorreu a partir de meados dos anos 1940, com o fim da Segunda Guerra Mundial e por influência decisiva das big bands norte-americanas e europeias, que, desde a década anterior, faziam sucesso em todo o mundo.

Se, por um lado, a história dessas orquestras vem sendo recontada pelo importante trabalho de pesquisa realizado por nomes como Zuza Homem de Mello, Sérgio Cabral, João Máximo, Ruy Castro e Jairo Severiano; por outro, todo e qualquer fenômeno musical brasileiro que não esteja relacionado às capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo tende a viver uma injusta condição de invisibilidade. Decorre daí a importância da edição de um livro como Big bands paulistas: história das orquestras de baile do interior de São Paulo, por meio de cujo lançamento as Edições Sesc São Paulo pretendem suprir uma lacuna até então injustificável.

Resgatar a época de ouro dos grandes conjuntos orquestrais do interior de São Paulo é o objetivo principal da obra, escrita em parceria pelo pesquisador, professor e advogado José Ildefonso Martins, dono de um precioso acervo fonográfico recorrentemente consultado por estudiosos e profissionais; e pelo jornalista e escritor José Pedro Soares Martins, autor de livros sobre meio-ambiente, cidadania, história e cultura. Segundo os próprios autores, o livro deseja prestar um “tributo àqueles que, com seu trabalho, fizeram parte de um momento mágico da música, da dança e da socialização em um período de profundas transformações na sociedade brasileira”.

Para além do belo trabalho de registro da memória musical paulista, o livro ainda trata de aspectos socioculturais igualmente relevantes. Os bailes de antigamente não somente cumpriam uma função comunitária e cerimonial como também geravam intensa atividade econômica, voltada à organização logística, aos serviços de bar e restaurante, de segurança, de ornamentação e decoração dos locais etc.

Com o advento da eletrificação dos instrumentos musicais, da formação de pequenos conjuntos inspirados nos Beatles e nos Rolling Stones e da massificação da cultura mundo afora, as grandes orquestras tornaram-se economicamente inviáveis e começaram a desaparecer. E com elas todo um cenário cultural que Big bands paulistas: história de orquestras de baile do interior de São Paulo, mais do que simplesmente resgatar, procura fazer o leitor reviver.

 


*Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

Veja também:

:: Trecho do livro

 

 

 

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