Sesc SP

postado em 29/07/2018

Transformação contínua

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Espaço em obra: cidade, arte, arquitetura, do Guilherme Wisnik e do Julio Mariutti, reacende a discussão em torno dos dilemas urbanísticos que rondam as cidades

 

Ainda que as cidades brasileiras tenham, de modo geral, crescido descontroladamente nas últimas décadas, deteriorando espaços, memórias e alargando a desigualdade social, prevalece a crença de que ainda é possível um planejamento que vise colocar no prumo o que estava torto. É esse o sentimento que se expressa no livro Espaço em obra: cidade, arte, arquitetura (Edições Sesc), do arquiteto e crítico Guilherme Wisnik e do designer Julio Mariutti.

O lançamento da publicação joga luz em questões primordiais como os impasses que cercam o urbanismo no Brasil e no mundo, assim como a relação da arte com as cidades e seus espaços públicos ou privados, interferindo na arquitetura. “Os arquitetos, e eu participo desse sentimento, acreditam que um correto planejamento pode melhorar uma situação estabelecida na ausência de qualquer plano”, afirma Wisnik.

Para ele, no caso do Brasil, desde os anos 1960 o rápido e desgovernado crescimento resultou no inchaço das cidades e no crescimento sem limites das periferias. “Então, hoje, no caso de São Paulo, por exemplo, o fluxo migratório parou de crescer e há uma possibilidade real de se conseguir, a partir de agora, de certa forma, ordenar um pouco melhor esse monstro desregrado que é a cidade. Por outro lado, não parece que as forças políticas atuais no Brasil remem a favor de um planejamento que vá na direção que a gente concorde e considere benéfica. Pelo contrário, tudo vai na direção da privatização, da acentuação dos lucros para os mais ricos. Então, nesse ponto de vista, é difícil de acreditar em melhoras, mas o caminho do planejamento é importante.”

Segundo o escritor, o título escolhido para o livro tem duas leituras possíveis: uma seria a tentativa de se pensar um lugar que seja uma obra aberta, um espaço de obras em processo, sempre se construindo. “Tem a ver com meu ângulo da crítica, que quer se construir com o tempo em movimento.”

A outra leitura é a de uma espécie de registro do estado atual do planeta, permanentemente em obras. “A construção civil ocupa cada vez mais um papel proeminente nas economias em geral. Não é à toa que a Operação Lava Jato estourou aqui com as construtoras. A construção civil tem um papel fundamental na absorção de capital. Cada vez mais novas coisas são construídas, assim como antigas são demolidas”, enfatiza o arquiteto.

E, em meio às incertezas e esperanças urbanísticas, é a arte que cada vez mais se posiciona como elemento agregador da arquitetura, da paisagem das cidades. Geralmente em forma de ações individuais ou coletivas, às vezes com o patrocínio de instituições culturais privadas, mas poucas vezes com o aporte financeiro de órgãos governamentais, artistas das mais diversas vertentes ocupam diferentes espaços e fazem suas criações serem um reflexo dos hábitos, anseios e desejos da população.

 

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