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postado em 10/08/2018

A perspectiva do oprimido nas HQs de Marcelo D'Salete

Ilustração de <em>Cumbe</em>. Divulgação
Ilustração de Cumbe. Divulgação

      


Premiado internacionalmente, quadrinista Marcelo D'Salete fala de sua arte durante a Bienal do Livro de São Paulo

 

Cumbe, do quadrinista Marcelo D'Salete, está entre as HQs brasileiras mais celebradas nos últimos anos. Lançada em 2014, com narrativa ágil, pouco texto e toda em preto e branco, ela ganhou em julho deste 2018 o célebre Eisner, maior prêmio de quadrinhos do mundo, na categoria melhor edição americana de material estrangeiro.

No enredo de Cumbe, o artista reflete a violência durante o período colonial brasileiro com histórias que abordam perseguições a escravos fugidos, roubo de bebês e rebeliões de quilombos. O que nem todo mundo sabe é que Cumbe faz parte de uma saga em torno do quilombo de Palmares.

A graphic novel que veio na sequência, lançada ano passado, é o Angola Janga, com mais de quatrocentas páginas, demonstrando mais uma vez a força de criação de D'Salete, que participa nesta sexta, 10 de agosto, do encontro O ofício do quadrinista, no BiblioSesc Praça da Palavra, durante a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo (Confira a programação completa aqui).

Investigar, expor o olhar do oprimido e denunciar abusos são uma espécie de identidade do trabalho do quadrinista. Basta saber, por exemplo, que antes de Cumbe, ele já havia chamado a atenção com Encruzilhada, livro que compreende uma série de histórias curtas, as quais mostram a violência e desigualdade de classes na São Paulo do século XXI. 

Nascido e criado na periferia de São Paulo, D'Salete habituou-se desde pequeno a ver corpos desovados em um matagal que ficava atrás de sua casa. Também se habituou com o preconceito e com o achar que, sendo negro e pobre, pouco já era o suficiente.

Foi a arte que modificou os caminhos de sua existência. Primeiro, copiava os traços do irmão, que, por sua vez, copiava os gibis. Depois, estudou design gráfico na escola Carlos de Campos, no Brás, o que abriria seus horizontes. Para finalizar, tomou contato com importantes graphic novels e com a street art produzida por nomes como como OsGemeos, Speto e Onesto. Pronto, estava consolidado o ambiente que culminaria na importância que D'Salete tem hoje para a cultura brasileira de HQs.

“A gente está tão saturado de imagens que a leitura não se aprofunda. Por isso, gosto também de trabalhar com a dubiedade e a ambiguidade, algo que só as HQs são capazes”, comentou ele certa vez ao falar de sua obra.