Sesc SP

postado em 07/08/2019

Pulsante e singular

Dione Carlo, Isabel Diegues, José Fernando Peixoto e Kil Abreu no Dramaturgias|Foto: Rafaela Queiroz
Dione Carlo, Isabel Diegues, José Fernando Peixoto e Kil Abreu no Dramaturgias|Foto: Rafaela Queiroz

      


Livro Maratona de dramaturgia reúne entrevistas com 12 dramaturgos contemporâneos sobre seus processos de trabalho, angústias e inspirações

Por Gustavo Ranieri*

O fazer dramatúrgico é muito mais amplo do que se pode pensar. Ultrapassa o limite do texto e do palco e adentra um universo de variações. Ao público, o que chega em cena costuma ser o resultado de um longo processo, que reuniu tantos ou mais elementos do que o espetáculo finalizado. O fazer teatral é também alvo constante de medidas e atitudes que constantemente impõem novos entraves econômicos para sua feitura.

Por tudo isso, em meados de 2018, a editora Isabel Diegues, o professor e pesquisador José Fernando Peixoto de Azevedo e o curador Kil Abreu desenvolveram e mediaram por dois dias entrevistas com 12 dramaturgos brasileiros contemporâneos durante a primeira edição do projeto Dramaturgias. Queriam saber o que de fato pensam esses criadores, como são seus métodos de trabalho, inspirações, condições de produção e relação com o público.

Agora, um ano depois, acontece nesse dia 8 de agosto o lançamento do livro que materializa tais conversas. Maratona de dramaturgia é fruto da parceria das Edições Sesc com a editora Cobogó e chega ao público no mesmo dia de abertura da segunda edição do Dramaturgias (veja a programação completa aqui). Assim como na primeira edição, o evento acontece no Sesc Ipiranga, em São Paulo – dessa vez, o projeto discute a relação entre educação e dramaturgia, destaca a produção de dramaturgas dos anos 1960 aos atuais e dedica-se também à dramaturgia performativa.

“Acho que o livro estabelece um bom termo de comparação entre o que era o Brasil um ano atrás e o ponto em que estamos, que está longe de ser um ponto de chegada. O que estamos fazendo, ou o que está fazendo cada dramaturgo ali entrevistado, um ano depois, certamente serve de matéria para refletirmos sobre os vínculos entre arte e sociedade, numa sociedade como a nossa, em que o social converte-se em programa de desagregação e controle, e a arte se evidencia algo tão supérfluo e inútil que chega a ameaçar”, realça Azevedo.

Em sua opinião, o que o leitor observará na leitura é o registro de um processo em andamento, de estabelecimento de formas e procedimentos no campo teatral, “um processo que vai sendo abarcado pelos descaminhos do que se vai definindo como o tempo brasileiro de agora, e que, por isso mesmo, corre o risco de mais um radical cancelamento – como aliás, outros processos nessa sociedade. Uma situação que, como dizia Brecht, é nova, e é ruim, mas é o que importa compreender e enfrentar”. 

Exercício de reflexão

Isabel Diegues, por sua vez, reforça a troca de ideias entre os dramaturgos na ocasião. “Acho que o mais interessante é que eles [os convidados] puderam se ouvir. E esse exercício de reflexão sobre o lugar da dramaturgia, sobre os impulsos que levam ao fazer dramatúrgico é riquíssimo para pensarmos sobre. Dessa forma, com o livro a gente estende aquele momento e o compartilha com todos.”

Ainda na opinião dela, hoje em dia o acesso mais amplo e democrático à informação permite que o público, mesmo o menos habituado ao teatro, compreenda bem a figura do dramaturgo na confecção de um texto que será interpretado em cena. Todavia, o que o livro possibilita é que se conheça como esse processo se dá. “Não gostaria que a gente esquecesse que o teatro tem suas variações, idiossincrasias históricas, e pode ser feito de muitas maneiras. O texto é mínimo e em cima daquilo ali acontecem muitas coisas”, afirma.

Dramaturga e jornalista, a mineira radicada na capital paulista Silvia Gomez foi uma das participantes do Dramaturgias em 2018, assim como Newton Moreno, Alexandre Dal Farra, Grace Passô, Dione Carlos, entre outros. Ela conta que a importância do projeto está na diversidade de autores e preservação da memória para o futuro. “É um modo de valorizar e olhar para essa profissão, multiplicando seu alcance. Ser provocado com perguntas sobre forma, temas e práticas foi uma experiência instigante para elaborar práticas e obsessões, aprofundar questões do ato da escrita. Mas o que mais gostei foi de ouvir os outros dramaturgos; cada entrevista era um novo mundo, pulsante e singular.”


*Gustavo Ranieri é jornalista e escritor.

 

Veja também:

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Serviços:

o que:

Lançamento de Maratona de dramaturgia no Dramaturgias 2

Bate-papo com Isabel Diegues e sessão de autógrafos do livro pelos dramaturgos convidados pela Cobogó. 

onde:

Sesc Ipiranga | R. Bom Pastor, 822 - Ipiranga, São Paulo - SP.

quando:

08 de agosto de 2019, quinta-feira às 19h.

quanto:

Grátis. 

 

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