Sesc SP

postado em 10/01/2020

A que ponto chegamos?

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Ante o avanço da onda nacionalista e da disseminação das fake news, livro faz contextualização histórica indispensável para entender esse “admirável” mundo novo

 

No final do século XX, com o avanço da globalização, havia um quase consenso entre os historiadores de que o nacionalismo era um fenômeno relegado ao passado. Chegando ao final da segunda década do século XXI, no entanto, o orgulho nacional está de volta, e com força. A guerra ao terrorismo, a crise financeira global pós-2008 e a explosão no número de refugiados fez com que, em muitas regiões do planeta, a defesa dos estados-nação impulsionasse novos atores políticos, alguns com preocupantes tendências autoritárias e xenófobas, como na Hungria, Polônia e até nas sólidas democracias dos Estados Unidos, com a eleição de Donald Trump, e do Reino Unido, com os defensores do Brexit. O novo panorama de comunicação trazido pelas mídias socias, onde a produção e disseminação das chamadas fake news ocorre em escala industrial, ajudou a embolar ainda mais esse cenário. Por tudo isso, uma ampla contextualização histórica se mostra cada vez mais necessária para entender esse “admirável” mundo novo.
 
Em 2012, quando a nova onda nacionalista dava seus primeiros passos, o historiador britânico Peter Furtado convidou autores de 28 países diferentes – Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Egito, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Gana, Grã-Bretanha, Grécia, Hungria, Índia, Irã, Irlanda, Israel, Itália, Japão, México, Países Baixos, Polônia, República Tcheca, Rússia, Suécia e Turquia – para, cada um com sua perspectiva particular, refletir sobre a narrativa que construiu historicamente a identidade de sua nação. Agora, com o nacionalismo definitivamente em pauta, os 28 ensaios reunidos em Identidades das nações: uma breve história chegam ao Brasil pelas Edições Sesc, com tradução de Leonardo Abramowicz, introdução crítica escrita pelo professor Robson Della Torre e texto de orelha assinado pelo jornalista Heródoto Barbeiro. A versão brasileira é baseada na reedição lançada na Grã-Bretanha em 2017, com artigos atualizados.

 


Trecho do livro

 

A ideia de Furtado foi convidar os autores – na maioria historiadores, mas nem todos – para escrever sobre seu país natal em uma linguagem acessível. Cada autor teve liberdade para abordar a formação da identidade de seu país a partir de uma diversificada gama de enfoques. Escritos antes da atual onda nacionalista, muitos dos artigos trazem visões críticas e céticas a respeito da própria existência de uma “identidade nacional” e do quanto ela é positiva. Vários dos autores apresentam aspectos da formação das identidades nacionais que as historiografias oficiais dos seus países buscaram ocultar – casos do Brasil e dos Estados Unidos. Alguns mergulham fundo no passado buscando as origens milenares de suas nações, como a China, Índia e Irã. Outros buscaram enfatizar a formação moderna de países com um legado bem mais antigo, como a Itália e a Grécia, ou mesclaram a História Antiga e a Moderna, como no caso do Egito. 

Em comum, todos os artigos mostram que a história e a construção da identidade dos países estão constantemente em disputa, mudam de acordo com a época e o contexto político, e que a história é construída não só na Academia e nos documentos oficiais dos palácios de governo, mas no dia a dia, nas casas, nas ruas das cidades, nas lendas e nos contos folclóricos. Neste momento em que o nacionalismo aparece como uma ameaça à ordem mundial democrática e as mídias socias passam a moldar a opinião pública, a leitura de Identidades das nações torna-se ainda mais relevante. 

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