Sesc SP

postado em 21/05/2013

Em produção: CD Fala de Bicho, Fala de Gente

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Acompanhamos um dia de gravação com Marlui Miranda, Nelson Ayres, Caito Marcondes, John Surman e Rodolfo Stroeter. “Realmente chamei esse grupo porque eu sabia que eles iam compreender a música” explica Marlui Miranda sobre o time de músicos convidados para participar do CD com canções indígenas da tribo juruna.

E foi assim que os arranjos criados superaram qualquer expectativa.

 

Em gravação

Quando chegamos ao estúdio tudo parecia muito tranquilo, e não era para menos: cronograma de gravação seguido à risca, todo o trabalho estava bastante adiantado. Na técnica, presenciamos algumas conversas entre todos os músicos sobre o rumo dos arranjos de algumas das canções, que originalmente ficaram a cargo de John Surman e Marlui Miranda. A barreira da distância Oslo - São Paulo foi sobreposta facilmente: Marlui (que mora na capital paulista) e John trocaram figurinhas sem nenhum problema. Os dois já se conheciam: “trabalhei em arranjos com ele, em parcerias. E a música dele me impressiona muito pelo caráter universal e pela transparência que tem. A capacidade de transformar a música em alguma forma que vai estar sempre perto do teu ouvido, você vai ser tocado por essa música, tem um ponto emocional muito forte” elogia Marlui. O multi instrumentista inglês radicado na Noruega conheceu Marlui através do baterista Jack DeJohnette; “e um dia Marlui me disse: eu quero que você ouça isso, e era uma gravação que ela havia feito de um arranjo para uma música indígena. Isso é fantástico!” conta Surman, que tem uma relação muito próxima com a música folk de seu país.

O percussionista Caito Marcondes explica a mistura de culturas: “você acaba trabalhando com arquétipos, com coisas do inconsciente coletivo. E o John vem com frases celtas e combina, porque [os estilos] se encontram lá nos primórdios. A sonoridade geral fica mais rica”. Rodolfo Stroeter, produtor musical e contrabaixista, explica que “o CD ganhou contornos de jazz, é um disco completamente diferente (...) estou achando que o resultado vai ser muito surpreendente”. “É engraçado que a mistura [dos músicos], embora a gente [esta formação] nunca tenha tocado junto, parece que a gente toca junto há anos” reflete o pianista Nelson Ayres.

O CD Fala de Bicho, Fala de Gente será composto por 14 músicas dos juruna, em sua maioria canções de ninar. Para que o projeto fosse possível, a tribo indígena registrou todas as obras em nome de Yabá Juruna, então nenhum fonograma está em domínio público. “O projeto é inclusivo, não exclusivo” explica Marlui, que tentou levar alguns dos índios para participarem da gravação. Como não foi possível, Yabá e Tarinu puderam acompanhar as gravações via Skype: “eles estão aí, dando a opinião deles e todo mundo ficou sabendo; isso nos estimulou”.

O objetivo de fortalecer a cultura e as tradições indígenas, agregar valor às canções e estimular os jovens a continuarem interpretando faz com que Marlui reflita: “fazer parte dos projetos da comunidade é de grande importância. Grande honra também, né? Trazer a música juruna para que o público em geral possa conhecê-la e entendê-la melhor, porque o trabalho não se resume a esse CD de reinterpretação” explica a cantora. "De alguma maneira, trazer esta música dos índios para o público em geral e poder contribuir para a vida deles, isto é importante” explica John Surman. “A Marlui é uma das maiores cantoras que esse país já produziu, e talvez a maior em música indígena” elogia Caito Marcondes. “Escolhi os melhores”, Marlui rebate, elogiando os músicos que a acompanharam. 

 

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