Sesc SP

postado em 29/09/2016

O Som da Orquestra - A Democracia das Madeiras

democracia das madeiras destaque

Você sabe quais são as madeiras numa orquestra? A série O Som da Orquestra do Selo Sesc está aqui para te apresentar cada um desses maravilhosos instrumentos! Lançando o terceiro capítulo da série, o DVD A Democracia das Madeiras esperamos que você fique mais próximo desse universo rico e histórico - além de se divertir ao reconhecer timbres novos no seu antigo repertório. Conheça o projeto no making of abaixo, leia o texto e assista trechos!

 

 

O que é cultura? 

É comum opor natureza à cultura, dizendo que a segunda vem a partir do esforço humano em imitar/reproduzir/enquadrar a primeira. Partindo disso, é interessante nuançar este entendimento nesse nosso mundo já bem distante dos primórdios onde havia natureza abundante. Existem culturas e, não raro, existem culturas hegemônicas que se sobrepõe as outras como distinção de valor na sociedade. Neste processo, quem detém os códigos para acessar esta cultura hegemônica se interessa mais em se posicionar pela negação de outras culturas, ao invés de apontar caminhos que congreguem diferentes visões num entendimento plural sobre cultura.

Para Pierre Bourdieu, a cultura hegemônica é vista como um princípio de ordem que não tem necessidade de desmontar sua utilidade prática para ser justificada. É como um movimento que vem de cima para baixo, onde quem está embaixo se relaciona de maneira superficial com o que foi passado adiante como "bom gosto", como "arte elevada". Essa visão caracteriza um entendimento sobre cultura da chamada Sociologia do Consumo Cultural, postulando que há uma correspondência direta entre o consumo de arte, nas suas mais variadas formas, e a classe social à qual o indivíduo pertence.

Há, no entanto, o risco de se estereotipar visões a partir deste postulado. Outros teóricos como Bernard Lahire e García Canclini, por sua vez, acumulam a visão de Bourdieu e vão além das questões do gosto, focando na experiência estética e cultural do indivíduo, compreendendo que o mesmo objeto cultural pode ser percebido de várias formas diferentes de acordo com as influências de cada ator. Se a primeira proposta apresenta grandes categorias e tem visão metodológica mais quantitativa, orientada pela correspondência entre hierarquia social e cultural; a segunda trata da singularidade do consumo, visto que cada indivíduo pode se apropriar da arte de uma forma única.

Tanto Lahire, como Canclini, inferem que se não houver a apropriação do bem cultural a partir do consumo, de nada adianta aproximar as pessoas da oferta cultural por estratégias de distribuição ou ainda de preço. Apropriação é a chave.

Pode-se dizer que a série O Som da Orquestra opta por este caminho. Ao apresentar as seções que fazem parte da orquestra, talvez uma das formas mais aristocráticas da música ocidental, os DVDs miram na desmistificação dos instrumentos, apontando didaticamente de onde vem e quão próximo está o som de cada um desses organismos da nossa escuta, mesmo que pouco habituados à frequentar concertos de música dita erudita.

 

 

O jornalista e crítico musical João Marcos Coelho apresenta a série, com direção de Marcelo Machado. A cada capítulo, um universo de possibilidades da música se descortina para o espectador. O livreto que acompanha os DVDs expande o conteúdo apresentado no vídeo, introduzindo a história dos instrumentos abordados, quem foram /são os grandes instrumentistas e ainda coloca possibilidades de estudo para aqueles que decidirem mergulhar neste universo.

Terceiro DVD da série, A Democracia das Madeiras, antecedido por Piano e A Família das Cordas, escrutina oboé, fagote, clarinete, flauta e saxofone. Aproximando a música enquanto linguagem primeva, somos apresentados à uma outra visão das flautas, por exemplo: são os instrumentos mais antigos da humanidade, feitos a partir de ossos ocos - tambores, para se ter uma ideia, são muito mais "novos" e envolvem processos mais sofisticados na sua elaboração.

Em seu repertório, a "Democracia..." revela as intenções do DVD em esparramar o entendimento sobre os instrumentos para além da música de concerto: Bach, Mozart, Vivaldi, Brahms e Ligeti estão lá; mas também estão Guinga, Paulinho da Viola, Severino Araujo e Paul Desmond, todos interpretados magistralmente por um time de instrumentistas do quilate de Cássia Carrascoza, Fábio Cury, Quinteto Villa-Lobos, conjunto Sujeito a Guincho e Saxofonia.

Entrar em contato com este produto é a possibilidade de andar sobre novos caminhos e, de certa forma, se apropriar deles para construir outros significados na música. O esforço é mostrar que a distinção por gosto existente não deve reforçar as barreiras que impedem desfrutar da música que, convenhamos, é das melhores coisas/sensações/artes da existência. Trata-se de um DVD que pode auxiliar na apresentação da orquestra, bem como, aproximar universos distantes da música erudita: a música caminha no ar e não deve se limitar ao que dizem que é bom ou não. A música dá a volta no mundo e pode nos levar nesta viagem.

O próximo capítulo da série está em processo de gravação: O Exército dos Metais. Os concertos acontecerão no Sesc Consolação, de 6 a 9/10 - trompa, tuba, trombone e trompete são as estrelas das apresentações, interpretados pelo Trio de Trompas de São Paulo, Quarteto Caso Grave, Grupo Trombonismo e Quinteto BrassUka. Para se programar, clique aqui.

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