Sesc SP

postado em 13/02/2017

Mario Adnet - Saudade Maravilhosa

capa mario adnet

Celebrado pelos projetos "Jobim Sinfônico" e "Ouro Negro", Mario Adnet aterrisa no Selo Sesc com seu novo álbum, Saudade Maravilhosa, recheado de inéditas, além de dois belos arranjos para "Viver de Amor" de Toninho Horta e Ronaldo Bastos e "Caravan" de Duke Ellington, Juan Tizol e Irving Mills. A turnê de lançamento do disco, em São Paulo, começa em 9/3 no Sesc Jundiaí, passa pelo Sesc Bom Retiro, dia 10, finalizando em Sorocaba, 11/3. Para se programar, é só clicar aqui. Para adquirir o seu exemplar, venha por aqui. Para ouvir o disco e conhecer mais dessa figura ímpar da nossa música, siga conosco!

 

 

 

"O pensamento de um homem
é antes de mais nada sua nostalgia"
- A. Camus, O Mito de Sísifo

 

Como acessamos o tempo? 


Quando se plasma a condição etérea da música num suporte (digital ou analógico) tem-se a impressão de que aprisionamos o tempo. Também é assim com o cinema e a película (ou o sensor digital), o pensamento e o papel (e seus equivalentes em pixels). Mas, só esse ato dá conta de suspender a existência e alçar a experiência da escuta a um papel de ponte a outra dimensão? Talvez seja interessante entender o que é esse tempo. 


A vida possui um ritmo e é a ele que nos referimos quando mencionamos o tempo. Octávio Paz, ao falar do ritmo na poesia, nos dá pistas sobre como entender tempo, ritmo e existência. "O tempo não está fora de nós, nem é algo que passa à frente de nossos olhos como os ponteiros do relógio: nós somos o tempo, e não são os anos mas nós que passamos".


Seguramente, Saudade Maravilhosa tem a ver com o tempo e, por mais óbvia que seja a relação dada no nome, olhar para o álbum durante sua escuta amplia seu entendimento - e seu valor. Adnet explora, nos 10 temas do disco, saudades diversas: algumas faixas estavam adormecidas nos cantos da cabeça do compositor, empoeiradas pela dificuldade de finalizá-las ou pela falta de vontade da obra vir ao mundo, mantida em gestação, como Flor do dia.


Outras saudades se materializam (uma pista sobre acessar o tempo?) nas inspirações que acometeram Mario durante o processo: Cecília no Parquinho, para a neta, e a faixa-título versam sobre lugares diferentes e formas distintas de se abordar uma nostalgia que emana da flauta de Eduardo Neves na primeira, e no arranjo bossa-nova pontuado pela guitarra algo jazz de Ricardo Silveira na segunda - nesta ainda, acorda-se da inebriante saudade ao final, num corte bruto, como se lançados fossemos de volta ao tempo presente.


No encarte do disco, cuja a capa é assinada pelo artista Guilherme Secchin há um comentário de Adnet sobre cada faixa. Você pode conferir todos eles abaixo:

 

 

 

 

 

A escuta de Saudade Maravilhosa em seu conjunto, vai revelar formas já conhecidas, muitas fruto do trabalho de ourives que Adnet realiza ao mergulhar na obra de compositores chave da nossa música como Villa-Lobos, Tom Jobim e Moacir Santos. Todavia, é possível entender essas escolhas a partir do tempo que se ergue delas: se o encadeamento dos acordes da harmonia de Azul da Tarde se dá num jogo entre quintas aumentadas que referencia o samba de Ary Barroso, é porque trata-se de um clichê forjado na identidade musical do país, imprimindo qualidade ímpar à música feita aqui, debaixo deste sol.


A obra coerente e prenhe de sentidos está aí na nossa frente, esperando que adentremos nela, decifrando seus signos e referências que o compositor conferiu as notas, sua matéria-prima, lhes dando forma, aproximando o ouvinte de um lugar que só a sua escuta é capaz de acessar: não se trata só da obra. É algo além, como Proust quando tenta repetir o efeito do chá sobre as madeleines, "bebo um segundo gole em que não encontro nada demais que no primeiro, um terceiro que me traz um pouco menos que o segundo. É tempo de parar, parece que está diminuindo a virtude da bebida. É claro que a verdade que procuro não está nela, mas em mim". 


Saudade Maravilhosa dá acesso a um sentimento, a uma medida que nada mais é do que forma de tornar o tempo presente. O que se ergue da linguagem, do balanço e do arranjo de Adnet, já está para além do compositor: está em cada um que se meta a explorar essas 10 faixas. Não é uma tarefa ingrata: é escrever com o (seu) tempo.


Se você quiser continuar a conhecer o tempo do compositor, arranjador e intérprete Mario Adnet, esse papo dele com Nelson Faria, no canal Um Café Lá em Casa, fornece várias referências bacanas e pistas sobre como Adnet encara seu ofício, sua arte - com muita música no meio, é claro. Divirta-se!

 

 

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