Sesc SP

postado em 28/05/2018

Viola Paulista - Volume 1

cd viola paulista-conteudoteca

Ela ecoa no Brasil inteiro, de norte a sul e, provavelmente, você conhece alguém que sabe tocá-la com destreza!

Mas ainda fica a dúvida, chegando mais perto nesta terra que todo mundo desconhece sua real extensão, onde toca a viola em São Paulo?

Nessa pegada e com uma pulga atrás da orelha, o Selo Sesc aceitou a missão de mapear artistas no Estado de São Paulo que tem a viola como fiel escudeira. No primeiro volume reunimos grupos e artistas solo expoentes da nova geração da viola de dez cordas, mas como um CD tem espaço pra pouco menos de 20 faixas, apertamos 19 artistas em 19 faixas representando uma fração do que vem sendo feito com o instrumento no Estado de São Paulo, tudo com a ajuda do mestre Ivan Vilela.

São artistas de influências múltiplas, violeiros de formação, que tem em comum a paixão pela história e pelo som da viola. Quem fala sobre o projeto, que será lançado em junho numa turnê pelas unidades da capital e interior, é o próprio Ivan. Diga-lá!

Ivan Vilela


Talvez ninguém nunca tenha imaginado o que a viola se tornaria no Brasil. Seu uso, cada vez mais expandido, tem conquistado um espaço notável em meio a pessoas de todas as faixas etárias e segmentos sociais. De suas origens populares na Portugal medieval e renascentista, a viola se espalhou por todo o mundo lusófono, mas em nenhum outro lugar se desenvolveu tanto quanto no Brasil. Aqui, acompanhou o desenvolvimento da luteria do violão e, aos poucos, tem conquistado espaços que outrora sequer sonhara frequentar.

Até a primeira metade do século XIX, a viola foi o principal instrumento acompanhador de cantores em cidades como Rio de Janeiro, Recife e Salvador. Sua caminhada ao interior se deu sobretudo a partir da região Sudeste com as bandeiras e depois tropeiros num espaço que foi chamado, por Alfredo Ellis Jr., de Paulistânia. Este pedaço de chão compreende os estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e Sul de Minas Gerais, Norte do Paraná, parte sul do Mato Grosso e de Tocantins.

O que chamamos de cultura caipira se estende por toda esta região e é onde ainda se consome em grande escala a música caipira. Certamente as gravações pioneiras de Cornélio Pires ajudaram a fixar a viola no Centro-Sudeste brasileiro a ponto deste instrumento ser nacionalmente conhecido como viola caipira, mas não devemos nos equivocar ao pensarmos que o modo de tocar caipira é a única maneira autêntica que se tem de pontear a viola. Vale lembrar que os primeiros registros escritos sobre a viola no Brasil provém de Recife, em 1580.

Assim, devemos ter sempre muito cuidado para não circunscrevermos um instrumento a uma cultura específica, pois o fato dele beber em expressões culturais diversas não tira a sua propriedade de ser sempre livre para voar por onde a música o levar. Um instrumento musical deve estar, antes de tudo, a serviço da Música.

Impulsionando um novo voo da viola paulista, o Sesc nos presenteia com este registro sobre uma parte da produção musical feita com a viola no estado de São Paulo. Para esse disco não foram escolhidos os violeiros já consagrados e com vasta discografia, mas sim os que estão iniciando suas carreiras ou os que depois de um tempo de estrada não conseguiram, por razões diversas, o reconhecimento esperado e, diria, merecido por seus trabalhos.

São 19 músicos de vertentes distintas, do rock à música clássica contemporânea, da toada caipira aos temas instrumentais. A sonoridade do Nordeste se faz presente na voz de migrantes que vivem agora em terras paulistas, bem como a viola de cocho, natural do Mato Grosso. A viola soa nova quando inserida nos toques de Umbanda ou vestida de sons distintos como o de um quinteto de cordas ou ainda junta de um cravo.

Evocações a um passado idílico no campo onde se vivia com feliz simplicidade, e contestações aos altos custos dos pedágios das rodovias paulistas comprovam a presença plena da viola em tempos passados e presentes. Vale nos reportarmos à palavra era, termo tupi que faz alusão a algo que foi, que é, e que continuará sendo, como nos ensina o professor José de Souza Martins. Tal qual a tapera que é uma casa velha que representa um passado, mas está ali e continuará a estar por um tempo indeterminado. Presente em todos os tempos.

Assim devemos ver a viola, encontrada no Brasil desde o século XVI. Um instrumento que canta o passado, o presente e aponta para um futuro incerto, mas vindouro.

 

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