Sesc SP

postado em 22/10/2018

Ao Vivo Jazz na Fábrica - Matthew Shipp

Matthew Shipp no Festival Jazz na Fábrica em 2016 | Foto: Lauro Lisboa Garcia
Matthew Shipp no Festival Jazz na Fábrica em 2016 | Foto: Lauro Lisboa Garcia

O Jazz na Fábrica foi um festival que transformou o Sesc Pompeia em um espaço de encontro do público com uma sonoridade apresentada com inventividade e improviso musical. Em todas as suas edições, o festival teve como marca a presença de diferentes vertentes do jazz, e buscou no cenário internacional diversos artistas que são conhecidos por explorar novas possibilidades musicais, sem se deixar esquecer dos grandes nomes que, de uma forma ou outra, participaram da transformação estética do jazz. Prova disso é a série Ao Vivo Jazz na Fábrica do Selo Sesc, que trouxe registros ímpares da improvisação livre de Anthony Braxton Quartet, William Parker Quartet e Roscoe Mitchell, além do lendário grupo brasileiro Grupo Um.

A partir de 2018, o festival ganhou uma nova roupagem e amplitude em seu alcance estendendo-se as unidades do interior de São Paulo. O Sesc Jazz segue promovendo a circulação de músicos nacionais e internacionais das mais variáveis vertentes do jazz e suas linguagens.

Entretanto, para boa surpresa dos que se aventuraram no festival, o Selo tira da cartola este mês mais um registro ocorrido no Jazz na Fábrica. Em 2016, o pianista norte-americano Matthew Shipp apresentou  11 faixas ao vivo com alguns dos grandes standards do jazz como Angel Eyes, On Green Dolphin Street e Summertime, além de composições próprias.

Para nosso deleite, em quase uma hora, Shipp evoca ritmos e precisão técnica, que contempla um universo amplo de escolas jazzísticas, do free-jazz à música de câmara. O álbum já está disponível para venda na Loja Sesc, tanto pelo site como nas unidades da rede Sesc. Fechando o papo, fique com as palavras do professor Bernardo Oliveira sobre o disco e deleite-se!

Matthew Shipp - Pintor Sonoro

Para além da perceptível centralidade histórica nas formações instrumentais do jazz norte-americano, não são poucos os exemplos pelos quais se identifica uma tradição do piano em sua versão solo. Álbuns clássicos como The Köln Concert, de Keith Jarrett, Mingus Plays Piano, de Charles Mingus, Meditations, de Mal Waldron, The Piano, de Herbie Hancock, entre tantos outros, indicam que o piano solo extravasa o apelo formal e se oferece como um amplo território de possibilidades, capaz de converter o intérprete em criador, o instrumentista em compositor, o compositor em improvisador.

Realizada durante uma apresentação ao vivo no Festival Jazz na Fábrica, no Sesc Pompeia em agosto de 2016, a presente gravação se configura como uma oportunidade de conferir os motivos pelos quais Matthew Shipp é considerado um dos grandes pianistas em atividade. Ao longo de três décadas, participou em cerca de trezentas gravações, tanto acompanhando os grandes nomes do free jazz e do hard bop, como William Parker, David S. Ware e Roscoe Mitchell, quanto também emprestando seu estilo multifacetado às tendências sonoras contemporâneas, como o quarteto de hip hop avant-garde Antipop Consortium e o filósofo das carrapetas, DJ Spooky. Criando para si um espaço de relativa independência dos estilos preconcebidos e expectativas que orbitam em torno de uma música tradicional como o jazz, Shipp desenvolveu seu trabalho dentro da lógica da diversidade.

Durante uma hora de apresentação, mesclando clássicos como On Green Dolphin Street e Summertime com seu trabalho autoral, Shipp executa o piano como um pintor se lança sobre a tela: evoca tonalidades, ritmos e deslocamentos abruptos com precisão técnica, virtuosismo e imaginação penetrante, ora deslindando arabescos etéreos, ora martelando o piano de forma intensa e dramática. Ao final, resta a beleza do método: Shipp usa o piano para explorar o espaço-tempo em torno da sala. A plateia, imersa e compenetrada, embarca. Parece consciente de que, se fosse possível detectar um estilo que caracterizasse seu trabalho, este se definiria por uma atitude, digamos, conceitual: tomar o jazz não somente como um gênero ou repertório fixo, mas um campo indeterminado de exploração sonora.

 

Bernardo Oliveira é professor adjunto da Faculdade de Educação da UFRJ, pesquisador, crítico de música e cinema, produtor. É produtor do selo musical QTV e do Quintavant, evento de música de vanguarda que há sete anos ocorre semanalmente na Audio Rebel (Botafogo-RJ).

1. Symbol Systems

2. Angel Eyes

3. Whole Movement

4. On Green Dolphin Street

5. Invisible Light

6. There will never be another you

7. Blue in orion

8. Yesterdays

9. Patmos

10. Gamma Ray

11. Summertime

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