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postado em 16/05/2019

A gandaia sonora do Premê

box portal

São Paulo, São Paulo, ano de 1976
por Lauro Lisboa Garcia

Um grupo de jovens estudantes do departamento de música da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) toma a liberdade de formar um grupo para quebrar o protocolo da erudição reinante no ambiente, fugindo da batuta do professor, regente, compositor e pesquisador Olivier Toni.

Igor Lintz Maués, Mário Manga, A. Marcelo Galbetti e Claus Petersen, e logo em seguida Wandi Doratiotto, formaram o núcleo do que viria a ser o Premê (os que aparecem na divertida capa do primeiro LP), mas outros estiveram juntos de passagem ou ficaram de vai e vem com eles em quatro décadas de aventuras discográficas e teatrais: Azael Rodrigues, Adriano Busko, Regina Gouge, Osvaldo Luiz, Skowa, A.C. Dal Farra, Sylvinho Mazzucca, Mario Campos, Danilo Moraes e tantos mais.
 

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Mário Manga, Claus Petersen, Igor Lintz Maués, Wandi Doradiotto e A. Marcelo Galbeti (1976) | Foto: Nininha Araújo.

Para as apresentações esporádicas nos últimos anos, além de Manga (composição, arranjo, guitarra, violão, violoncelo, cavaquinho, bandolim, voz), Marcelo (composição, arranjo, coreografia, violão, cavaquinho, clarineta, piano, voz), Claus (composição, arranjo, flauta, flautim, sax, cavaquinho, piano, voz) e Wandi (composição, arranjo, cavaquinho, violão, voz), integram os shows também Adriano Busko (bateria e percussão) e Danilo Moraes (violão, guitarra, baixo, voz), filho de Wandi, que toca com o grupo desde 1996.

Reunião de amigos que se conheciam também de outros colégios e cursinhos, o Premeditando o Breque iniciou as atividades em 1976 tocando choro e seu derivado samba de breque, como indicava o próprio nome. Porém, logo a formação de regional de choro ganhou baixo e guitarra e incorporou uma diversidade de estilos e influências (como o rock, especialmente o dos Beatles), além da música clássica e eletrônica, da escola de humor da dupla caipira Alvarenga e Ranchinho, da malícia de cantores sambistas como Jorge Veiga e Moreira da Silva e da veia de cronista do conterrâneo Adoniran Barbosa, que alguns deles traziam na Kombi sonora lotada de referências.

“Até na época o pessoal exagerava dizendo que éramos grandes músicos. Não somos grandes músicos, somos músicos que trabalham. Ninguém do Premê é um virtuose dos instrumentos (salvo Manga na guitarra, claro!). Não tivemos formação clássica, mas formação musical”, dizem.

 

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A. Marcelo Galbetti, Wandi Doradiotto, Mário Manga e Claus Petersen (2018) | Foto: Alexandre Nunis.

Um bom exemplo de como o Premê gostava de brincar com a formação musical, e que se notabilizou pela criatividade nos arranjos, foi a inserção do Quinteto Paulistano de Cavaquinhos, uma espécie de grupo dentro do grupo que apareceu em gravações esporádicas, como a “Marcha Turca”, de Mozart, no álbum Quase Lindo, e “Killing Me Softly With His Song” (Charles Fox e Norman Gimbel), do Vivo. O Quinteto foi inspirado no Sexteto Paulistano de Violões, que tinha entre os integrantes mestres do “violão chorado” como Alfredo Scupinari e Nelson Cruz.

O Premê burilou outros clássicos, fosse regravando-os, como “Ronda” (Paulo Vanzolini) e “Brasileirinho” (Waldir Azevedo), ou nas inúmeras citações em todos os álbuns, incluindo dobrado militar, Tom Jobim, Beatles, Webern, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho. “Claro que sabíamos da grandeza do Mozart, ninguém brincou com esse tipo de coisa. Tínhamos aquele jeito de fazer arranjos engraçados, mas feitos como tal, não era soando estranho, com instrumentos que não combinam”, dizem.

No encarte do primeiro álbum, de 1981, havia um aviso: “o Premeditando o Breque vai virar Premê”. E a abreviação facilitou de certo modo a fixação do nome do grupo. Na cabeça da maioria deles nem passava a ideia de fazer sucesso popular, embora Osvaldo Luiz acreditasse no potencial do grupo para isso, e acabou furando a bolha do circuito universitário pouco tempo depois.

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Este texto compõe o livreto presente na "Caixinha do Premê", um box com 7 discos (sendo 1 inédito) do grupo que é considerado um representante modelar de uma época, de uma cidade e de um movimento, denominado de Vanguarda Paulista.

Boa parte da discografia presente no box também está disponível nas plataformas digitais. Ouça neste link.

 

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