O Canto Afro de Sapopemba
"É impossível compreender a música popular brasileira sem passar pelo terreiro."
Se você abrir o encarte de Gbọ́ - termo em yoruba que significa ouça e que dá nome ao novo álbum de Sapopemba, logo de cara vai dar com os olhos nessa frase. É nas batidas do candomblé que somos herdeiros de múltiplas áfricas, reelaboradas pelas pessoas escravizadas em solo nacional.
Pelas estradas da vida, o percussionista alagoano de 72 anos, viu e ouviu de tudo. Guiado pela curiosidade de transportar, reinventar e descarregar o universo revelador de canções, ele conseguiu unir dimensões sonoras ao popular contemporâneo. De pintor de parede a mecânico e ganhando a vida como motorista, José Silva dos Santos é um caso recorrente de musicalidade carregada na pele. Com nenhum estudo formal de música, o artista acabou conquistando seu espaço ao carregar um tipo de sabedoria rara e não encontrada nos livros: as experiências de vida relacionadas à música.
Do nordeste para o bairro da Zona Leste de São Paulo, viajou o país como caminhoneiro, foi cantor do grupo de balé folclórico Abaçaí, foi à Europa nove vezes para se apresentar em festivais, passando por cidades como Berlim, Paris e Lisboa. Também cantou na cerimônia de encerramento dos Jogos Pan Americanos que aconteceram no Rio de Janeiro em 2007. Na maioria das ocasiões, entoando músicas de autores nordestinos tradicionais ou mostrando as cantigas de Orixás, do Candomblé, no qual tem a função de ogã.
Ao longo de 2019, o Selo Sesc percorreu alguns desses caminhos ao lado de Sapo, registrou encontros com quem ajudou a levantar sua carreira musical, o amadurecimento de seu repertório, sua orixalidade e a transposição dum universo de matrizes africanas distintas para um álbum autoral com 15 faixas (já disponível para venda na Loja Sesc e também nas plataformas digitais).
O resultado pode ser conferido nesta página no documentário O CANTO AFRO DE SAPOPEMBA, disponível a partir de 20 de janeiro.
