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Sessões Selo Sesc postado em 16/11/2020

Sessões Selo Sesc #11: Orquestra Sinfônica de Santo André + Hamilton de Holanda

OSSA site portal

Data: Vinte e três de novembro de dois mil e dezenove.
Local: Sesc Santo André.
Hora: Fim de tarde, início da noite. 

Guarde bem essa cena, pois ela reservou uma noite de encontros e presentes que chegaram na hora certa tanto pra música brasileira como... bom, como também para uma torcida numerosa do nosso futebol (mas fique por aí, que vamos retornar a esta última lá no fim do texto). 

Para ilustrar a primeira, músicos, em sua maioria jovens compositores, produzindo, arranjando e criando em sintonia com o seu tempo. O primeiro, Gustavo Petri, maestro da Orquestra Sinfônica de Santos, presenteou a sua companheira do ABC paulista com um arranjo batizado de Quadros do Nordeste, um "grande pincel nessa aquarela musical brasileira", nas palavras de Abel Rocha, regente da Orquestra Sinfônica de Santo André marcando a primeira estreia desta noite. A potência da composição vem logo nos primeiros acordes explosivos de Alegria Alegria, de Caetano Veloso, primeiro retrato formado por um arranjo em pot-pourrit onde também se escutam La Belle de Jour, de Alceu Valença; Como Nossos Pais, de Belchior (imortalizado na voz de Elis Regina) e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, que só não levou aquela outra noite, em 67, porque não ferveu o público com a mesma altura de Ponteio, de Edu Lobo.

Seguindo a noite, o maestro matogrossense João Guilherme Ripper, talvez o compositor brasileiro vivo que escreveu mais óperas (e que ainda seguem sendo executadas) presenteou a Sinfônica de Santo André com Psalmus, composição baseada no Salmo 150, uma louvação bíblica que evoca justamente uma celebração divina ao som da orquestra, de uma maneira bastante específica aos fiéis inclusive: "[...] ao som de trombeta, louvem-no com a lira e a harpa, com tamborins e danças, louvem-no com instrumentos de cordas e com flautas, louvem-no com címbalos sonoros, louvem-no com címbalos ressonantes." 

Ainda com a gente? Mais brilho e esplendor para o que ouviremos a partir do meio da apresentação. E lá que finalmente chegamos a estreia mundial de Concerto Brasileiro para Bandolim e Orquestra de Hamilton de Holanda. O bandolinista conhecido pela sua trajetória em torno de produções coletivas e individuais escreveu esta obra em três movimentos (I. Natureza Divina, II. Povo Solidário e III. Reconstruindo o Futuro) inspirado num Brasil de problemas e soluções. E você, caso ainda tenha em mente que o bandolim tem seu uso quase restrito ao chorinho, não se espante. Ele foi instrumento de concerto desde o barroco. Vivaldi compôs dois concertos para solo de bandolim. Calace, Barbella, Giuliani e, mais tarde, Beethoven e Paganini também deixaram obras para esse instrumento. 

Assim como o próximo presente da noite, os quatro movimentos da Suíte Retratos, do maestro Radamés Gnattali, compositor que transitou com igual desenvoltura entre a música clássica, que em declarações dizia preferir, e a música popular, que garantia sua renda. Na obra, Gnattali sustenta a narrativa musical sob a ideia de que os movimentos constituem retratos musicais destes compositores, a partir de um modelo, de uma peça que serviria de roteiro para a composição, como a valsa Expansiva de Ernesto Nazareth (1863-1934) e o choro de Pixinguinha (1897-1973). Anacleto de Medeiros (1866-1907) e Chiquinha Gonzaga (1847-1935) são os outro lembrados. Para interpretá-la, mais uma surpresa, a Orquestra Sinfônica de Santo André recebeu um regional de Choro, formado pelos músicos Fernando César (violão de 7 cordas), Rafael Toledo (pandeiro) e Henrique Araújo (cavaquinho).

Hamilton de Holanda ainda dividiu o palco com a Orquestra em outras duas peças autorais: Capricho 24 para Bandolim e Orquestra, com arranjo de André Mehmari, e em Guerra e Paz, obra que compôs inspirado no painel colossal que Cândido Portinari produziu para estampar a sede da ONU na década de 60. Presentes de gigantes. E se falta mais um clássico pra arrematar, um solo de Hamilton para Canto de Ossanha, música de Vinicius de Moraes (1913-1980) e Baden Powell (1937-2000) eternizada na voz de Elis Regina (1945-1982). 

Se você conseguiu chegar até aqui, saiba que tudo isso foi devidamente registrado em disco na última edição do Sessões Selo Sesc #11: Orquestra Sinfônica de Santo André + Hamilton de Holanda disponível gratuitamente no Sesc Digital e a partir do dia 25 de novembro também presente nos principais players de streaming. Uma rara oportunidade para ouvir e acompanhar a produção sinfônica brasileira que está sendo criada, pensada e performada nos tempos atuais sem precisar se deslocar a uma sala de concerto.

Ah, e tem aquele presente citado lá em cima. Dois pra ser mais exato e na casa do adversário (Andreenses compreenderão). Gabigol, atacante do Flamengo, virou o jogo para cima do River Plate e deu o título da Copa Libertadores da América ao time rubro-negro. Nem precisa dizer que Hamilton, flamenguista roxo, dedicou os minutos finais de Guerra e Paz para dedilhar o hino de seu time do coração no bandolim.

 

 

Tracklist

1. Quadros do Nordeste (Como Nossos Pais / La Belle de Jour / Domingo no Parque / Alegria Alegria - versão pout-pourrit
Autores: Belchior, Alceu Valença, Gilberto Gil e Caetano Veloso
Arranjo: Guga Petri

2. Psalmus
Autor: João Guilherme Ripper

3. Concerto Brasileiro para Bandolim e Orquestra - I. Natureza Divina
4. Concerto Brasileiro para Bandolim e Orquestra - II. Povo Solidário
5. Concerto Brasileiro para Bandolim e Orquestra - III. Reconstruindo o Futuro
Autor: Hamilton de Holanda

6. Último capricho (Capricho 24) para Bandolim e Orquestra
Autor: Hamilton de Holanda

7. Suíte Retratos - I. Pixinguinha (choro)
8. Suíte Retratos - II. Ernesto Nazareth (valsa)
9. Suíte Retratos - III. Anacleto de Medeiros (schotitisch)
10. Suíte Retratos - IV. Chiquinha Gonzaga
Autor: Radamés Gnattali

11. Guerra e Paz I
Autor: Hamilton de Holanda
Arranjo: Paulo Aragão

12. Canto de Ossanha
Autor: Vinicius de Moraes e Baden Powell

 

Ficha-técnica

Bandolim: Hamilton de Holanda

Violão de 7 cordas: Fernando César
Pandeiro: Rafael Toledo
Cavaquinho: Henrique Araújo

Regência: Maestro Abel Rocha

1º violinos: André Viana, Danilo Alves da Silva, Eder Esli Granjeiro, Eduardo de Oliveira, Fábio Silva, Fellipe Santarelli, Henrique Franquim, Paulo Gonçalves de Moura, Ramon Rodrigues e Wanessa Nunes Dourado
2º violinos: Adriana Albano Maresca OSSA, Dorothéia Elke Gruber, Fernanda Garcia Ribeiro, Jonathas Fernandes Barbosa, Noemi Burba, Olga Maria Leoni, Sérgio Senda e Wellington de Oliveira Silva
Clarinete: Isabel de Latorre e Samuel Derewlany
Contrabaixos: Alex Eduardo Dias, Danilo Zangheri, Pablo Lyon e Thiago Hessel de Paula
Fagotes: Mary Rodrigues de Macedo e Ronaldo Pacheco
Flautas: Amanda Bomfim Correia, Danilo Lopes Costa Silva e Mônica Ferreira Camargo
Oboés: Gizele Guimarães Sales e Rosana Moret
Percussão: Leandro Lui, Marcel Balciunas e Saulo de Arruda Camargo
Tímpanos: Marco Antonio dos Santos Monteiro
Trombones: Diego Calderoni, Fernando Cardoso e Jaaziel Narciso Gomes
Trompas: Gerdson Monteiro, Mario Rocha, Ricardo Cruz Silva e Vitor Ferreira
Trompetes: Fábio Korsakov e Wagner Luis Félix
Tuba: Rubens de Araújo Mattos
Violas: Alexandre Argentin, Antonio Carlos de Mello Pereira, Diego Paz, Elisa Monteiro, Erlon Lima e Francisco Darling
Violoncelos: Ana Chamorro, Danilo Dark, Franklin Martins, Marina Estanislau, Paulo César Cardoso e Wellington Ramos

Inspetor: Wilson Vieira
Montagem: Donizetti Souza e Ricardo Nascimento
Arquivista: Victor Queiroz

Produção executiva: Wilson Vieira
Som: Adonias Souza Jr.
Produção: Raul Lorenzeti
Produção gráfica: Alexandre Calderero

Gravação - André Sangiacomo, Fernando Ferrari e Lucas Silva (Audiomobile)
Mixagem e masterização - Renato Copolli (AudioFreaks!)
Produção - Raul Lorenzeti
Produção gráfica - Alexandre Calderero
Imagens (Vídeos) - Renan Abreu e Aylton Lélis Joaquim (Pelé)
Assistência de câmera (Vídeos) - Adenilson Muniz
Edição (Vídeos) - Renan Abreu

 

      


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