Por Ivaldo Bertazzo*
Sempre que ouço recomendações de que praticar exercícios físicos melhora a saúde e traz longevidade, penso: “Claro, já entendemos isso”. Está comprovado por estudos, estampado em jornais e sendo discutido em conversas de bar. Mas, honestamente, a forma como isso é dito não move ninguém. Essa repetição didática – um tanto careta – não toca a alma nem acende um desejo. Não se trata de números; é sobre viver com vitalidade, com desejo, com tesão – sim, tesão, porque ele é o motor da vida.
Vamos começar pela libido, essa potência interna que vai além do sexo. A libido é o desejo de viver e fazer parte do mundo. É tocar, cheirar, sentir. É a faísca que liga nosso corpo ao universo. Ela se transforma com o tempo. Não é mais como na juventude, quando o tesão surge numa explosão imediata e “resolvemos o problema” sem pensar. O tesão chega e ganha outros contornos. Não se resume apenas ao desejo sexual – é o desejo de criar, de dançar, de cozinhar algo delicioso, de sentir a pele se arrepiar com um toque ou um cheiro.
Precisamos dizer isso que envelhecer não é virar um corpo funcional e ajustado que vai à academia “levantar peso”. Envelhecer é saber transformar a energia que sobra e a energia que falta. É sentir o calor de uma pele bem cuidada, perceber o aroma de uma fruta madura ou do café sendo passado. É conduzir o tesão para outras criações, porque ele nunca some, apenas muda de direção.
Academia e o engano da massa muscular
Agora, falemos sobre a obsessão moderna pela musculação. Muitos idosos acham que precisam se tornar halterofilistas de uma hora para outra. Gente, calma. A ideia de “massa muscular” está enraizada em um discurso raso, quase cruel, que promete o corpo da juventude em corpos maduros. Um idoso que levanta peso como se tivesse 20 anos está abrindo caminho para fibroses e destruição das articulações. Você quer aumentar os músculos? Ótimo. Mas, então, cadê os aminoácidos? Cadê os líquidos que nutrem as cartilagens? Cadê a percepção do que o corpo realmente precisa, em vez de um espelho que impõe estereótipos?
Não é a quantidade de peso na barra que vai trazer vitalidade. É o movimento que estimula conexões neurais e amplia o tônus de base, transformando cada gesto em algo funcional e prazeroso. É envelhecer sem pressa, com inteligência e sem “prejudicar as juntas” na tenttiva de se encaixar em um padrão estético sem sentido.
Tesão pelo movimento e pelo mundo
E o movimento? Ah, meus amigos, movimento é a libido em ação. Quando se fala que o povo do Mediterrâneo vive mais por causa da dieta, ou que os japoneses em Okinawa chegam aos 100 anos com elegância, esquecem de dizer que é porque tratam o corpo com naturalidade. Eles têm prazer na vida, nos gestos cotidianos, na comida, no caminhar. Isso vai além de “exercícios”. É uma relação sensorial com a existência.
Envelhecer não é só sobre correr na esteira ou fazer agachamentos. É cheirar a vida, tocar as texturas ao redor, dançar sem se importar com o ritmo, sentir o corpo se movendo no mundo como uma peça que ainda funciona – e funciona bem.
Envelhecer com liberdade, não com restrições
O grande erro é tratar o envelhecimento como um processo de perdas. Não é. O que chamamos de “perda” pode ser uma transformação, se olharmos com outros olhos. Envelhecer é entender o que o corpo ainda pode oferecer e como transformar isso em potência. Não tem problema se a libido diminui; ela se transforma em desejo por outras coisas. Não tem problema se o músculo já não responde como antes; ele pode se adaptar para responder de formas diferentes. A vida sempre dá um jeito, mas a gente precisa aprender a viver fora das armadilhas que a sociedade nos vende, como o culto à dor ou à performance.
Então, fica aqui o recado: a sua pele ainda sente, seu nariz ainda cheira, seu corpo ainda dança. Viva com tesão, mas não o tesão de 20 anos – viva o tesão que o seu corpo tem agora. Isso é o que vai transformar o envelhecimento de uma fase temida para uma fase desejada, cheia de humor, sensualidade e, acima de tudo, vida.
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