Em meio à aceleração do cotidiano, artista visual Stela Barbieri tenta furar a rotina produtivista e convida público à pausa
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Por Marcel Verrumo
FOTOS NILTON FUKUDA
Quando criança, na cidade de Araraquara (SP), a artista visual Stela Barbieri passava horas a fio se movimentando em cadeiras de balanço, brincando de imaginar histórias. Adulta, se mudou para a capital paulista e se deparou com uma urbe acelerada, marcada por carros que cortam avenidas em alta velocidade, corpos apressados para o próximo compromisso, olhos imersos no celular. Na grande metrópole, trilhou uma jornada nas artes visuais, na educação e na literatura, tendo sido curadora da área educativa de equipamentos culturais como a Bienal de Arte de São Paulo e o Instituto Tomie Ohtake. Em diversas ocasiões, presenciou a pressa e a rotina minguarem o tempo da contemplação e do ócio.
“Comecei a sentir que, como a vida está muito acelerada, temos o risco de agir mecanicamente: todos os dias, acordamos, vamos para o trabalho, fazemos muitas tarefas. Com tantas demandas, a qualidade da nossa presença pode ficar comprometida. Como podemos cultivar outro tipo de atenção, e uma presença e temporalidade que deem sentido à vida? Como nos dedicamos ao nosso cotidiano, sem sermos atropelados por ele?”, questiona, citando as reflexões que a inspiraram a criar a instalação artística PAUSA, em exposição no Sesc 14 Bis, até 3 de agosto [leia mais em Território do ócio].
Nesse novo trabalho, Barbieri convida o público a dilatar as horas. Uma nova experiência se abre, por exemplo, em três casulos imersivos gigantes, inspirados em casas de animais como o joão-de-barro, redutos que acolhem o visitante e o protegem do ritmo voraz do exterior. Dentro delas, é possível se sentar em cadeiras de balanço – inspiradas nos móveis da infância da artista – e, com fones de ouvido, fechar os olhos e navegar pelo som das águas, contemplar a melodia das músicas, sentir a emoção de poemas e histórias sobre a origem da noite, do planeta, dos vagalumes. Muitas das palavras ditas foram escritas pela própria artista; e as trilhas sonoras, criadas pelo artista Leo Barbieri.
A pausa pulsa no conceito das obras e em suas materialidades. Nas tramas e cortinas artesanais que compõem os casulos e nas cadeiras democraticamente desenhadas em diferentes tamanhos. Nas partes, há a expressão que se expande no todo. “Nas membranas e chocalhos das cortinas, por exemplo, temos tatibilidades diversas que podem dinamizar a imaginação”, detalha Barbieri, que também guardou nas suas obras de arte a potência para os públicos inventarem outras realidades. “Em um mundo distópico, onde parece que a importância da pessoa está na quantidade de ocupações que ela tem, pausar é um posicionamento político”, finaliza a artista.
Território do ócio
Visitantes do Sesc 14 Bis expandem relação com o tempo na exposição PAUSA
As reflexões a respeito da relação humana com o tempo e o ócio perpassam a ação do Sesc São Paulo ao longo do ano, desde a concepção dos espaços até a definição da programação. Nessa linha, o Sesc 14 Bis recebe a exposição PAUSA até 3 de agosto, concebida pela artista visual Stela Barbieri, que convida o público a romper com a lógica do produtivismo e pausar. “Influenciar mudanças e abrir novas perspectivas que instiguem pessoas e vivências mais sensíveis e menos automatizadas é parte da ação cultural transformadora a que se propõe o Sesc. Cultivar um olhar mais generoso e atento promove a construção de relações mais empáticas e solidárias, abrindo caminhos para um futuro mais justo”, afirma Luiz Deoclecio Massaro Galina, diretor do Sesc São Paulo, em texto publicado no catálogo da exposição.
Quem entra na unidade tem a oportunidade de dilatar as horas a partir de uma multiplicidade de possibilidades. O que primeiro salta aos olhos são três casulos imersivos, onde é possível ter uma experiência tátil tocando as membranas que os compõem, entrar em suas estruturas e, em cadeiras de balanço – algumas se movimentam, outras estão paradas –, experimentar outro ritmo. Próximos a essas instalações, há oito casulos de cabeça que os visitantes podem vestir, criando um microambiente para a descobertas de novas sensações. Alguns deles estão sobre uma mesa, acoplados a fones de ouvido com trilhas sonoras e declamações; outros estão pendentes e, feitos com sementes e cascas de árvores, propiciam ao visitante uma nova relação com os sons da natureza.
“Diante dessa rua por onde passam milhares de pessoas todos os dias, essa exposição convida o público a findar o ritmo acelerado e propõe outra relação com o tempo. Aqui, a pausa não é um chamamento a parar, é uma oportunidade para seguir outro movimento”, explica a artista, que também preparou um painel com textos, maquetes e desenhos mostrando o processo de criação das obras expostas.
14 BIS
PAUSA
Até 3/8 de 2025. Terça a sábado, das 10h30 às 20h30. Domingos e feriados, das 10h30 às 18h30. Grátis.
sescsp.org.br/14-bis
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