Fenda no tempo

29/04/2025

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Em meio à aceleração do cotidiano, artista visual Stela Barbieri tenta furar a rotina produtivista e convida público à pausa

Leia a edição de MAIO/25 da Revista E na íntegra

Por Marcel Verrumo
FOTOS NILTON FUKUDA 

Quando criança, na cidade de Araraquara (SP), a artista visual Stela Barbieri passava horas a fio se movimentando em cadeiras de balanço, brincando de imaginar histórias. Adulta, se mudou para a capital paulista e se deparou com uma urbe acelerada, marcada por carros que cortam avenidas em alta velocidade, corpos apressados para o próximo compromisso, olhos imersos no celular. Na grande metrópole, trilhou uma jornada nas artes visuais, na educação e na literatura, tendo sido curadora da área educativa de equipamentos culturais como a Bienal de Arte de São Paulo e o Instituto Tomie Ohtake. Em diversas ocasiões, presenciou a pressa e a rotina minguarem o tempo da contemplação e do ócio. 

“Comecei a sentir que, como a vida está muito acelerada, temos o risco de agir mecanicamente: todos os dias, acordamos, vamos para o trabalho, fazemos muitas tarefas. Com tantas demandas, a qualidade da nossa presença pode ficar comprometida. Como podemos cultivar outro tipo de atenção, e uma presença e temporalidade que deem sentido à vida? Como nos dedicamos ao nosso cotidiano, sem sermos atropelados por ele?”, questiona, citando as reflexões que a inspiraram a criar a instalação artística PAUSA, em exposição no Sesc 14 Bis, até 3 de agosto [leia mais em Território do ócio]. 

A artista visual Stela Barbieri em uma de suas instalações no Sesc 14 Bis

Nesse novo trabalho, Barbieri convida o público a dilatar as horas. Uma nova experiência se abre, por exemplo, em três casulos imersivos gigantes, inspirados em casas de animais como o joão-de-barro, redutos que acolhem o visitante e o protegem do ritmo voraz do exterior. Dentro delas, é possível se sentar em cadeiras de balanço – inspiradas nos móveis da infância da artista – e, com fones de ouvido, fechar os olhos e navegar pelo som das águas, contemplar a melodia das músicas, sentir a emoção de poemas e histórias sobre a origem da noite, do planeta, dos vagalumes. Muitas das palavras ditas foram escritas pela própria artista; e as trilhas sonoras, criadas pelo artista Leo Barbieri. 

A pausa pulsa no conceito das obras e em suas materialidades. Nas tramas e cortinas artesanais que compõem os casulos e nas cadeiras democraticamente desenhadas em diferentes tamanhos. Nas partes, há a expressão que se expande no todo. “Nas membranas e chocalhos das cortinas, por exemplo, temos tatibilidades diversas que podem dinamizar a imaginação”, detalha Barbieri, que também guardou nas suas obras de arte a potência para os públicos inventarem outras realidades. “Em um mundo distópico, onde parece que a importância da pessoa está na quantidade de ocupações que ela tem, pausar é um posicionamento político”, finaliza a artista. 

Território do ócio
Visitantes do Sesc 14 Bis expandem relação com o tempo na exposição PAUSA 

As reflexões a respeito da relação humana com o tempo e o ócio perpassam a ação do Sesc São Paulo ao longo do ano, desde a concepção dos espaços até a definição da programação. Nessa linha, o Sesc 14 Bis recebe a exposição PAUSA até 3 de agosto, concebida pela artista visual Stela Barbieri, que convida o público a romper com a lógica do produtivismo e pausar. “Influenciar mudanças e abrir novas perspectivas que instiguem pessoas e vivências mais sensíveis e menos automatizadas é parte da ação cultural transformadora a que se propõe o Sesc. Cultivar um olhar mais generoso e atento promove a construção de relações mais empáticas e solidárias, abrindo caminhos para um futuro mais justo”, afirma Luiz Deoclecio Massaro Galina, diretor do Sesc São Paulo, em texto publicado no catálogo da exposição.

Na exposição PAUSA, da artista Stela Barbieri, casulos de cabeça convidam os visitantes a experimentar um microambiente para a descoberta de novas sensações.


Quem entra na unidade tem a oportunidade de dilatar as horas a partir de uma multiplicidade de possibilidades. O que primeiro salta aos olhos são três casulos imersivos, onde é possível ter uma experiência tátil tocando as membranas que os compõem, entrar em suas estruturas e, em cadeiras de balanço – algumas se movimentam, outras estão paradas –, experimentar outro ritmo.  Próximos a essas instalações, há oito casulos de cabeça que os visitantes podem vestir, criando um microambiente para a descobertas de novas sensações. Alguns deles estão sobre uma mesa, acoplados a fones de ouvido com trilhas sonoras e declamações; outros estão pendentes e, feitos com sementes e cascas de árvores, propiciam ao visitante uma nova relação com os sons da natureza.  

“Diante dessa rua por onde passam milhares de pessoas todos os dias, essa exposição convida o público a findar o ritmo acelerado e propõe outra relação com o tempo. Aqui, a pausa não é um chamamento a parar, é uma oportunidade para seguir outro movimento”, explica a artista, que também preparou um painel com textos, maquetes e desenhos mostrando o processo de criação das obras expostas. 

14 BIS  
PAUSA
Até 3/8 de 2025. Terça a sábado, das 10h30 às 20h30. Domingos e feriados, das 10h30 às 18h30. Grátis.
sescsp.org.br/14-bis 

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