O que podemos aprender com as culturas indígenas em seu modo de ser, cuidar e se relacionar com a natureza?
“Nós estamos resistindo para podermos existir!” É assim que a Kujã Dirce Jorge, indígena Kaingang, define sua permanência e de sua família na Terra Indígena Vanuíre, no munícipio de Arco-Íris, interior de São Paulo.
Kujã é uma liderança espiritual no povo Kaingang. Assim como Pajé, que detém a sabedoria sobre os costumes, os cânticos e a espiritualidade de seu povo.
Nos últimos dias 22 e 23 de março, os inscritos no curso “Plantando Floresta na Terra Indígena Vanuíre”, promovido pelo Sesc Thermas de Presidente Prudente, participaram de um encontro para conhecer de perto a realidade dos povos indígenas da região. Durante a atividade, aprenderam mais sobre as culturas Kaingang e Guarani-Nhandeva, bem como sobre o contexto socioambiental desse território.
Um dos aspectos mais relevantes foi a desconstrução de preconceitos ainda enraizados em nossa sociedade e dos estereótipos associados aos povos indígenas — reflexo do distanciamento da realidade e da predominância de narrativas construídas sob a perspectiva do colonizador, frequentemente reproduzidas nas instituições de ensino e no senso comum.
Como afirma Elizeu Caetano, da etnia Guarani-Nhandeva: “O preconceito, em pleno século XXI, ainda existe. Nós temos que quebrar esse preconceito. Hoje, nós, povos indígenas, estamos ocupando o nosso espaço por direito”.
Por meio da escuta atenta e da vivência no território, o curso ampliou vozes e narrativas mais condizentes com a realidade, destacando a imensa diversidade de modos de ser indígena no Brasil. São centenas de línguas, mais de trezentas etnias e contextos distintos, seja no campo, na cidade ou na floresta.
No caso específico da Terra Indígena Vanuíre, foi possível testemunhar o que uma participante definiu como “resistência dentro da resistência”. Isso porque, ao estar presente, percebe-se diversas pressões sofridas no território, desde o avanço do agronegócio até questões religiosas e a falta de políticas públicas efetivas para reparação histórica, autonomia e preservação da cultura e da natureza local.
O núcleo familiar Kaingang e Guarani-Nhandeva que foi visitado, por exemplo, persiste em manter seus rituais — cultuando seus encantados, acendendo a fogueira, cantando e dançando como seus ancestrais —, mesmo enfrentando discriminação. Resistem, também, ao plantar floresta, cultivar roças e árvores frutíferas, apesar da pulverização aérea de agrotóxicos nas proximidades, que contamina e desequilibra todo o ecossistema.
Nesse contexto, o curso também destacou a importância da floresta em pé e a urgência da restauração dos biomas, de modo que a ação prática colocou os participantes com a mão na terra para plantarem 152 mudas de árvores nativas, evidenciando o papel coletivo na conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas, regulação do ciclo hidrológico e melhoria da qualidade do ar, entre outros benefícios.
Além de restaurar a floresta, essa experiência buscou “reflorestar” corações e mentes para pensar e agir por outros futuros possíveis, inspirando iniciativas como as encontradas na Terra Indígena Vanuíre, na região do Rio Coiós — representadas pela Kujã Dirce Jorge e sua filha Susilene Elias, do povo Kaingang, e por Elizeu Caetano, do povo Guarani-Nhandeva.
O projeto Direitos Humanos para Todas as Pessoas do Sesc São Paulo, do qual o curso fez parte, tem o objetivo de fomentar reflexões sobre o aspecto formal dos direitos humanos e sua realização concreta na realidade social, discutindo os desafios de transformar a ampla gama de declarações, estatutos, convenções e leis em garantias efetivas da dignidade humana para todas as pessoas.
Conheça mais sobre o trabalho desenvolvido na Terra Indígena Vanuíre: Museu Worikg
Assista o vídeo sobre o curso aqui.
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.