BRINCAR AO AR LIVRE | Os benefícios das áreas verdes às crianças

01/05/2023

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Contato com áreas verdes ajuda a reduzir danos provocados ÀS CRIANÇAS pelo confinamento Na pandemia

Por Luna D’Alama 

Leia a edição de maio/23 da Revista E na íntegra

A cena foi presenciada no Espaço de Brincar do Sesc Mogi das Cruzes: duas crianças com idade em torno dos 3 anos maravilharam-se ao encontrar, pela primeira vez, um ser humano com sua mesma faixa etária. Nascidas durante a fase mais restrita da pandemia de Covid-19, elas ficaram privadas de frequentar espaços de convivência, como escolas, parques, praças e clubes, e foram impedidas de interagir com outras crianças.

Sobretudo ao público da chamada primeira infância, ou seja, de 0 a 6 anos, a pandemia e o consequente isolamento coletivo causaram impactos cujas consequências começam a ser compreendidas agora. Profissionais que trabalham com esse público apontam desafios enfrentados durante esse período, e que reverberam até hoje – entre eles, dificuldades de sociabilização, aprendizagem e autonomia dos pequenos (sobretudo os nascidos nesse cenário), aumento da insegurança alimentar, prejuízos à saúde mental e a direitos fundamentais, como saúde, educação, moradia, liberdade e cultura. Os reflexos ainda variam de acordo com o contexto socioeconômico e geográfico de cada criança.

Estudos recentes buscam entender a amplitude e as consequências da pandemia no país sobre jovens e crianças. Em comum, todos trazem dados, mapeiam pontos sensíveis e apontam para a importância de políticas públicas, sobretudo, sociais e educacionais, a fim de minimizar ou reverter os danos causados nos últimos três anos. “Assim como os adultos e idosos, as crianças foram muito afetadas pela pandemia. Mas não houve uma única reação, depende da realidade de cada uma, do perfil das famílias, das condições e necessidades delas. Emocionalmente, criou-se
uma dependência de telas, houve a falta da coletividade, da presença dos pares e o excesso ou a falta de estímulos, conforme o segmento social”, analisa a pedagoga Adriana Friedmann.

Por outro lado, o convívio familiar se intensificou – de forma positiva e negativa, com maior incidência de conflitos, abusos e violência doméstica –, mudando a dinâmica e a rotina de todos. “Organizei uma grande pesquisa, via WhatsApp, para ouvir as crianças pequenas país afora. A partir da voz delas, recebemos um material muito interessante. Elas nos relataram várias brincadeiras e um intenso uso da criatividade e da imaginação nesse período”, acrescenta Friedmann, que também é mestre em educação e cofundadora do movimento Aliança pela Infância e do coletivo A Vez e a Voz das Crianças.


CRIAR ESPAÇO

O psicopedagogo e terapeuta social Reinaldo Nascimento, especialista em pedagogia de emergência e do trauma, destaca outros efeitos da pandemia. “A questão física foi abalada no ritmo, na rotina, no sono e na alimentação, e a psicológica, pelo medo da doença, pela solidão e tristeza. Crianças são verdadeiras ‘esponjas’, observam e absorvem tudo, então, conviver com adultos doentes (física e/ou mentalmente) foi um desafio enorme para elas”, constatou. Ele também explica que a adaptação ao novo contexto foi ainda mais difícil para os pequenos que tinham horários muito rígidos e extensas jornadas de aulas e atividades extracurriculares.

Com a volta às aulas presenciais e à rotina, vieram mais desafios. “A gente não continuou de onde parou em 2020. Após dois anos, numa retomada [ou início] da experiência coletiva, as crianças já não eram as mesmas. Nesse período, muitas delas não tiveram contato com a natureza, com espaços ao ar livre, apenas famílias com melhores condições. Aos poucos, tudo isso vem sendo recuperado”, diz Friedmann.

Nascimento, que acompanhou 23 mil professores das redes pública e particular durante a pandemia, complementa: “Muitas voltaram ao convívio bastante quietas, isoladas, não falavam nem brincavam. Outras regrediram em atividades que já realizavam com autonomia. Na escola precisamos de mais áreas verdes, aulas de ciências, de biologia, que falem sobre a terra e incentivem os alunos a olhar para a terra, mexer na terra”.

ESSÊNCIA DAS BRINCADEIRAS

Na visão de Leticia Zero, coordenadora da secretaria executiva da Aliança pela Infância, que promove no Brasil, desde 2009, a Semana Mundial do Brincar [Leia mais em Brincantes por natureza ], o livre brincar é a forma como as crianças se comunicam. “É a maneira de se conhecerem e conhecerem o outro, de descobrirem como se relacionar com o mundo, com o meio ambiente e as pessoas à volta. Essa é a base e a essência do desenvolvimento infantil”, ressalta.

A natureza, segundo ela, possibilita o crescimento saudável de meninos e meninas, que a todo tempo testam seus limites e aprendem sobre suas potências. “Ações simples, como correr em um gramado, subir em um tronco de árvore ou plantar uma semente, favorecem o desenvolvimento físico, psíquico e a imunidade das crianças. Acima de tudo, a natureza é um território imenso de saberes, tons e texturas”, descreve Leticia Zero.

Segundo o psicopedagogo e terapeuta social Reinaldo Nascimento, o livre brincar pressupõe oferecer possibilidades, expandir, criar e vivenciar o mundo. Além disso, a criança precisa se desenvolver por meio dos sentidos, cheirando, tocando, levando os objetos à boca e experimentando-os com o corpo. “A gente precisa entender que a terra, os animais e as plantas devem fazer parte do nosso dia a dia. Infância saudável é aquela em que as crianças conhecem os bichos, pisam no barro, andam na grama, sobem em árvore. E os pais precisam entender que, na natureza, existe pernilongo, que água de cachoeira é gelada, que o sol é forte (mas dá para usar chapéu). Se não tivermos contato com a natureza, não entenderemos como ela funciona, de onde vem tudo, como as sementes viram plantas”, cita.

A pedagoga Adriana Friedmann concorda que, para se desenvolver adequadamente, as crianças precisam desse contato direto com fauna e flora. “Também é importante brincar com o próprio corpo, com outras crianças e adultos, com amigos imaginários, objetos diversos – não necessariamente brinquedos. Os pequenos são pesquisadores, exploradores do entorno. Precisam de cuidado e acompanhamento, mas nem tudo deve ser direcionado. Há necessidade de se criar um equilíbrio, conhecer as crianças, escutá-las e observá-las a partir de suas manifestações espontâneas”, avalia.

NECESSIDADE VITAL

A importância do livre brincar na natureza é a mesma que temos de respirar, dormir ou comer, na análise de Julia Berro, integrante do movimento Quintais Brincantes e do coletivo Taboa, iniciativas que pesquisam a relação entre infância, natureza e práticas educacionais. “É uma necessidade vital para a nossa existência. E a natureza do brincar é a liberdade. Por isso, recomendo às crianças caminhadas em praças, parques, trilhas na floresta, brincadeiras com água, terra e ar e contemplação do céu por entre folhas de árvores”, exemplifica.

Parceira de Julia nos Quintais Brincantes e no coletivo Taboa, a bióloga Carolina Paixão, que é mestre em geografia e mãe de Serena, de 8 anos, diz que a natureza é fonte de vitalidade, saúde e criatividade, sobretudo na primeira infância. “É ao ar livre que as crianças desafiam seu corpo a criar habilidades, a conhecer a vida em todas as suas formas e aprender a importância do pertencimento. A natureza é o lugar onde elas podem encontrar espaço para soltar a imaginação, fazer descobertas e liberar emoções, além de equilibrar forças internas, conectar-se aos mistérios do universo e serem guiadas às suas próprias naturezas”, completa.

Parques, praças e outros espaços verdes ao ar livre estimulam a criatividade, a autonomia e a sociabilização na infância. Divulgação

BRINCANTES POR NATUREZA

Semana Mundial do Brincar reúne oficinas, cursos, debates e outras atividades que valorizam as brincadeiras ao ar livre

Desde 1999, celebra-se o Dia Internacional do Brincar em 28 de maio. A data foi reconhecida pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e hoje é comemorada em mais de 40 países, ao longo de uma semana. Neste mês, a Semana Mundial do Brincar é realizada entre os dias 20 e 28 pela Aliança pela Infância, rede mundial que promove o evento no Brasil desde 2009 – e desde 2013, em parceria com o Sesc São Paulo. A edição deste ano tem como tema A Natureza no Brincar, buscando incentivar o livre brincar em áreas verdes, como parques, praças, quintais, hortas e jardins – além de outros espaços abertos, como praias e rios. Dessa forma, as crianças podem descobrir o mundo, desenvolver suas potencialidades e aprender seus limites, além de respeitar as diferenças e entender a importância da sustentabilidade ambiental.

Camile Lopes Magalhães, assistente técnica da Gerência de Programas Sociais do Sesc São Paulo, explica que é por meio das brincadeiras que a criança se apresenta, se reconhece e comunica ao mundo seus desejos e impressões. “Portanto, a Semana Mundial do Brincar é um convite à imersão e à ressignificação de um brincar que respeita a natureza presente nas infâncias. O tema escolhido para este ano reforça essa expressão genuína da criança, que é capaz de transformar qualquer local num espaço de brincar”, conclui.

Confira alguns destaques da programação:

24 DE MAIO

Praça dos afetos: iniciativas em espaços públicos que favorecem o brincar

Roda de conversa propõe intersecções entre cidadania, infâncias, direito à cultura, autogestão comunitária e o brincar como direito. Com Mineia Oliveira (Brincando na Kebrada), Lívia Arruda (Motoca na Praça) e Catarina Cervelleira (Praça Elis Regina).

Dia 20/5. Sábado, das 14h às 16h. GRÁTIS.

INTERLAGOS

Apartamentando! Trazendo elementos da natureza para ambientes fechados 

Oficina propõe experiências que possam ser replicadas em casa pelas crianças e suas famílias, usando materiais naturais adequados a pequenos espaços. Com o artista visual Fábio Amadeu.

Dia 25/5. Quinta, das 9h30 às 11h. Dia 27/5. Sábado, das 11h às 12h10 e das 12h30 às 13h40. Dia 28/5. Domingo, das 11h30 às 12h40 e das 13h às 14h30. GRÁTIS.

CAMPO LIMPO

Brincar nas quatro estações

Bebês, crianças e adultos cuidadores regam plantas, fazem bolhas de sabão e procuram bichinhos no jardim. Ocupação com a educadora Evelyn Dalla Marta.

Dia 27/5. Sábado, das 10h30 às 12h30. GRÁTIS.

JUNDIAÍ

Uma casinha no quintal 

Espaço ao ar livre com uma casinha criada a partir de técnicas de bioconstrução, além de outros recursos para brincar.

De 20 a 28/5. Terça a domingo, das 10h30 às 12h e das 15h às 17h. GRÁTIS.

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