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Lar, doce (e funcional) lar

Aumento da expectativa de vida levanta debate sobre modelos de residência para a terceira idade


Onde morar e como serão as residências que vão abrigar uma população cada vez mais longeva são questões em consonância com a atual expectativa de vida no Brasil. Isso porque de 1940 a 2016 foi registrado um aumento de mais de 30 anos de vida, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no final do ano passado. Por isso, um espaço que possa, ao mesmo tempo, prover segurança e conforto às pessoas na terceira idade retoma importância na arquitetura.

Professora doutora do Curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP), a arquiteta Maria Luisa Bestetti confirma essa preocupação. “Sendo a arquitetura o meio de organizar o ambiente construído de modo adequado, ela se torna parceira do envelhecimento por proporcionar soluções para o planejamento habitacional adequado para todos, desde a moradia propriamente dita até o bairro e a cidade que a envolve.”

Alternativas à vista

Cinco amigos de Estocolmo (Suécia), de idade entre 50 e 60 anos, reuniram-se em 1987 para discutir onde poderiam morar com qualidade de vida, sem depender de filhos, netos ou do serviço social. Quase dez anos depois, eles inauguraram a Färdknäppen, prédio que responde ao conceito de residência coletiva criado nos anos 1970, denominado cohousing.

Abreviação de collaborative housing – casa colaborativa onde vive um grupo de pessoas com interesses em comum –, a primeira a ser construída no Brasil inaugura em 2020, na cidade de Campinas, e já está com inscrições encerradas. Criada pela associação de professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Vila ConViver junta-se a outras alternativas de residência como asilos e repúblicas. Espaços que proporcionam condições de viver e conviver num meio seguro e saudável.

Aliás, também é do Estado de São Paulo a primeira República de Idosos, inaugurada no ano de 1996, em Santos. Seja o cohousing, o asilo ou a república, outros modelos de residência voltam a ser repensados pela sociedade. “Penso que podemos criar outros modelos intergeracionais, além de manter os residenciais especializados para idosos atendidos por profissionais preparados para situações mais específicas”, sugere a arquiteta.

O fato é que “com o envelhecimento da população, e a velhice vivida de maneira heterogênea, faz-se necessário discutirmos os diversos formatos de moradia (antigos e contemporâneos) com a sociedade, família e idosos”, pondera a assistente da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc São Paulo Alessandra Périgo. Sendo assim, “a decisão sobre onde e com quem querem morar é primordial e deve ser respeitada, se assim os idosos tiverem condições de fazê-la”, complementa.

 

 

Série Habitar  |  SescTV
No episódio Asilo, da série Habitar, de Paulo Markun e Sergio Roizenblit, que será exibido pelo Sesc TV no 27 de fevereiro (canal 128 da Oi TV ou pelo site www.sesctv.org.br/aovivo), é feita uma reflexão sobre moradia na terceira idade. Entre alguns entrevistados, moradores de asilos de São Paulo e de Porto Alegre, além de idosos que residem em habitações individuais em condomínios como a Casa dos Artistas, no Rio de Janeiro, e a Vila dos Idosos, no bairro do Pari, na capital paulista. “Uma das dimensões fundamentais de envelhecer num asilo é que este costuma ser um envelhecimento coletivo. O cotidiano e ritmo precisa se adaptar ao de outras pessoas. Todo esse trabalho de relacionamento é um trabalho constante”, pondera o antropólogo Lucas Graeff, um dos pesquisadores entrevistados no episódio.

 

Mostra Finitudes  |  Sesc Ipiranga
Ao levantar diferentes perspectivas de vida e morte, a mostra Finitudes realizou, de outubro a novembro passado, bate-papos, espetáculos e exibição de filmes na unidade Ipiranga. Sobre o tema moradia, foi exibido o longa-metragem E Se Vivêssemos Todos Juntos (2011), uma co-produção de Alemanha e França que conta a história de cinco amigos – Annie, Jean, Claude, Albert e Jeanne – juntos há 40 anos. Quando a velhice mostra limites e desafios, eles decidem morar juntos.
O que a princípio parece ser loucura torna-se uma nova forma de viver e conviver em república aos
75 anos de idade.

 

Para morar bem


Que aspectos de uma casa ou de um apartamento podem ser adaptados para que a moradia na terceira idade seja confortável e funcional? Confira algumas dicas:


Retirar tapetes: deve ser feito de modo cuidadoso, pois, se for um acessório de estimação, pode ser instalado como painel de parede, por exemplo. É preciso lembrar que a história individual é composta de lembranças com valor sentimental.

2
Instalar barras de apoio: elas são coadjuvantes para todos e em qualquer idade uma vez que há momentos de fragilidade, convalescença, cansaço ou tonturas eventuais.

3
Prestar atenção a portas de armários, fios soltos e objetos muito baixos (tais como mesas de centro
ou vasos): cada um desses objetos pode se tornar obstáculo e provocar quedas.

4
Adotar um animal doméstico: eles são considerados terapêuticos, mas é preciso observar se há o risco de provocarem tropeços.

5
Evitar camas muito altas ou muito baixas: não só pelo risco ao se levantar, mas pela dificuldade de assistência de um cuidador para garantir o manejo adequado.

6
Utilizar mesa ou apoio de cabeceira para manter luminária, copo d’água e outros objetos: o móvel deve ser firme para que a pessoa também possa tê-lo como base de apoio para se levantar da cama.

7
Escolher móveis de cozinha adequados à estatura do idoso: especialmente a pia, pela profundidade da cuba e a distância da torneira.

8
Dispor de equipamentos de calor numa altura que não exija esforço demasiado, pois a retirada de pratos pesados e quentes torna-se incômoda e perigosa.

9
Colocar utensílios ao alcance do tato e da visão: portas sob a pia geralmente exigem um agachamento para a retirada de objetos, sendo uma boa solução utilizar gavetões em trilhos telescópicos, permitindo uma visualização de toda a gaveta e facilitando o acesso a objetos de todos os tamanhos.

10
Organizar objetos leves em armários altos: eles também devem ser rasos para que não exijam o uso de escadas ou banquinhos para que se enxergue o espaço por completo.

11
Pintar os ambientes da casa de cores que facilitem o reflexo da luz: tais cores devem ser repetidas em paredes e cortinas, uma vez que o uso de estampas pode “embaralhar” a vista. O contraste entre tons quentes e frios torna a composição harmoniosa e agradável.

12
Instalar pisos antiderrapantes: eles evitam escorregões em áreas molhadas ou que possam receber respingos de gordura ou sabão. Na cor clara fica ainda mais fácil identificar objetos derrubados que poderiam causar acidentes.

 

Fonte: Maria Luisa Bestetti, arquiteta e autora do blog www.sermodular.com.br


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