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Comida que faz sentido

Foto: Adriana Vichi
Foto: Adriana Vichi

Quando lembro dos momentos mais importantes que já vivenciei, todos foram em torno do comer. São inúmeras comemorações de datas importantes, encontro com amigos, desabafos entre cafezinhos, momentos de descanso, almoços e jantares em que a comida serve como pretexto pra reunirmos as pessoas que amamos. Comer é algo corriqueiro, mas tem um potencial enorme para deixar as melhores lembranças. E os sentimentos que acompanharam essas recordações? São sempre carregados de muito amor e carinho. Sou agradecida à minha família, em especial à minha mãe e ao meu pai, que me apresentaram o momento da refeição como algo sublime, durante o qual se pode trocar as mais deliciosas conversas e as mais divertidas piadas.

Na minha família sempre tivemos por perto algum alimento semeado por nós. Das nossas hortas saíam os ingredientes para compor algum prato e assim é até hoje. Mesmo que seja apenas uma salsa para que possamos falar com orgulho: esse tempero veio do meu vaso! Outras vezes temos uma couve para a sopa ou a alface para a salada. Com isso minhas filhas também aprenderam o valor de se deleitar com os morangos e pepinos tortinhos, retirados do quintal dos avós, saboreados a cada mordida.

Recentemente pude passar por uma experiência em que conheci mais de perto o movimento Slow Food, que preza pelo alimento bom, limpo e justo. Lá concluí que toda a minha criação esteve em torno disso, a exemplo do bolo de cenoura feito com os ovos do galinheiro daquele mesmo quintal dos morangos e pepinos.

E então tudo faz sentido e se conecta, pois, como nutricionista, pude participar da inauguração e trabalhar na primeira comedoria, no Sesc Pinheiros.

Desde então, tenho a oportunidade de mergulhar ainda mais nesse universo apaixonante da alimentação fora do meu mundo familiar, e então enxergar tudo isso em uma proporção muito maior, por meio do uso das frutas e verduras agroecológicas, do aproveitamento integral dos alimentos, do convívio social nos espaços dessas comedorias e da celebração do comer. Não posso deixar de citar as pessoas que conduzem esse trabalho. Falo do nosso pessoal das cozinhas e atendimento, que com muita dedicação fazem as coisas acontecerem, como a belíssima salada, o delicioso arroz com feijão, a suculenta sopa e as irresistíveis sobremesas. Posso afirmar com toda convicção que tenho orgulho de conhecer essas pessoas e faço questão de aplaudi-las intensamente, pois elas se empenham pra valer.

As comedorias estão presentes em 39 unidades do Sesc São Paulo para trazer o acesso à comida de verdade, e, acima de tudo, construir recordações, lembranças...

E isso pode ser em um almoço de domingo, no qual um frequentador alegremente diz: “Passei um dia maravilhoso no Sesc e almocei por lá”, mencionando esse momento como uma das principais experiências vivenciadas naquele dia. Aí tudo faz ainda mais sentido.

A comida representa na minha vida laços afetivos em todos os âmbitos: familiares, profissionais e de amizades. Por isso muitas refeições ainda estão por vir e tantas outras pessoas também, para dividir emoções em nossas comedorias.

Débora Cravo Domingues Freitas é nutricionista e trabalha como assistente técnica da Gerência de Alimentação e Segurança Alimentar do Sesc, na coordenação das áreas de alimentação.