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Traços da história

Foto: Rafael Roncato
Foto: Rafael Roncato

MEMÓRIA E ANCESTRALIDADE DAS POPULAÇÕES NEGRAS GANHAM DESTAQUE NA ARTE DOS QUADRINHOS

 

Não é de hoje que eventos históricos são revistos no formato dos quadrinhos, mas essa vertente tem sido renovada pela criatividade de autores que buscam novas abordagens e temáticas. Entre elas, ganha relevo a trajetória das populações negras, seus personagens e símbolos. Um expoente dessa faceta das HQs é o premiado quadrinista, ilustrador e professor Marcelo D’Salete, autor de Encruzilhada (2011), Cumbe (2014) e Angola Janga (2017). Esses livros colaboram com uma nova visão de fatos “ao abordar temas como memória e ancestralidade e pôr em destaque a vida dos nossos antepassados africanos escravizados e espoliados na busca de liberdade”, explica o diretor curador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo.

 

Entre tempos

Nos bastidores dos álbuns gráficos, há muita pesquisa bibliográfica e iconográfica. Entre outros motivos, porque, quanto mais se volta no tempo, maior é a dificuldade em recriar visualmente o período. D’Salete gosta de ler sobre história do Brasil, e a produção de Cumbe e Angola Janga – com enredos baseados em acontecimentos do século 17 – é fruto de anos de apuração. Segundo o quadrinista, sua sorte foi poder consultar a biblioteca do Museu Afro Brasil para recriar as imagens históricas.

Questionado sobre como as HQs discutem estruturas hegemônicas que oprimiam e oprimem populações negras, D’Salete lembra que houve um “esquecimento sistemático em relação a certas narrativas, em demonstração de poder de um grupo em relação a outro”. Também enfatiza a necessidade de várias perspectivas, abordando personagens que ficaram à margem dos fatos narrados. “É possível pensar que nossa história é uma história de violências, de concentração do poder”, afirma.

Para o autor, as HQs cativam pelo seu formato, mas estão longe de ser menos complexas que outras narrativas. “o quadrinho não é uma mídia mais simples, mas pode oferecer uma forma diferente de acessar certos conteúdos e narrativas. É uma forma específica e interessante para os dias de hoje, tão complexa quanto a literatura, o cinema e a música”, completa.

 

Premiado e presente

Obra de quadrinista é revisitada em exposição

Após ser apresentada em 2018, no Museu Afro Brasil, em São Paulo, a exposição Marcelo D´Salete – A História Negra em Quadrinhos, com curadoria de Emanoel Araujo, estava pronta para visitação no Sesc Araraquara em março de 2020. A pandemia obrigou o adiamento de sua abertura. Imagens da obra de D’Salete selecionadas para a exposição se desdobram também nas próximas páginas. O curador destaca a qualidade das ilustrações, “o domínio do traço da figura humana”, mostrando “o quanto esse aspecto expressionista do desenho fala, age, mexe no subconsciente de forma extraordinária e emocional”.

O artista foi reconhecido internacionalmente pelo Prêmio Eisner (o Oscar dos quadrinhos) na categoria Melhor Edição Americana de Material Estrangeiro pelo livro Cumbe, em 2018.

 

Divulgação

 

 

 

Em 432 páginas, o quadrinista desenha a história de Angola Janga (2017), que significa “pequena

Angola” e nos livros de história ficou conhecida como Palmares: a obra ganhou o 60º Prêmio

Jabuti na categoria Quadrinhos

 

 

Os descaminhos de moradores de uma grande cidade capaz

de engolir um a um na próxima esquina dão forma a Encruzilhada (2014)

 

 

 

Risco (2014) aborda as adversidades enfrentadas por

um guardador de carros que tenta ganhar dinheiro no centro da cidade

 

 

O artista foi reconhecido internacionalmente pelo Prêmio Eisner (o Oscar dos quadrinhos) na categoria Melhor Edição Americana de Material Estrangeiro pelo livro Cumbe (acima), em 2018.

 

 

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