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A ociosidade já assusta usinas de aço

por Alberto Mawakdiye

Um relatório concluído no final do ano passado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e patrocinado pela Associação Latino-Americana de Aço (Alacero) – que representa 51 empresas siderúrgicas da região – está ajudando a aquecer ainda mais a tórrida discussão se o Brasil estaria ou não em processo de desindustrialização.

Na opinião dos técnicos da Funcex, assim como da Alacero, não restam mais dúvidas de que está. E a prova cabal não residiria “apenas” na redução da fatia da indústria na composição do produto interno bruto (PIB), na cada vez menor participação do setor no portfólio das exportações e no avanço dos manufaturados asiáticos no mercado brasileiro, cujos números, assustadores, constam do relatório das entidades. Um índice tão ou mais revelador do processo de desindustrialização é a queda na demanda de aço pelas indústrias – um dado também não exatamente novo, todavia agora mais bem contextualizado na cadeia produtiva pelo estudo.

Segundo o relatório, a entrada indireta de aço no Brasil por meio da importação de produtos acabados já tomou de 15% a 20% de um potencial mercado das usinas siderúrgicas nacionais. “Não se trata da compra externa pura e simples do aço, que também já é significativa, feita por empresas transformadoras instaladas no país”, diz o especialista em siderurgia Germano Mendes de Paula, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), de Minas Gerais, e coordenador do trabalho realizado pelas duas entidades, “mas, sim, do aço que ingressa no Brasil como insumo de produtos prontos, acabados, como automóveis, bens de capital, utilidades domésticas e comerciais e artigos de construção civil”, esclarece.

De acordo com aquele estudo – que utilizou o ano de 2010 como base estatística –, praticamente metade (44,8%) do total das importações brasileiras no período diz respeito a produtos metalomecânicos, que quase sempre levam aço em sua composição, em diferentes quantidades. Nada menos que 62,7% das exportações da China para o Brasil, por exemplo, foram constituídas por produtos acabados desse segmento. Já no item máquinas e equipamentos, a porcentagem de importados alcançou alentados 26,4% no período – ou seja, de cada quatro máquinas comercializadas no Brasil, uma “mais um pedacinho” veio de fora. No tocante aos veículos automotores, por sua vez, a participação dos importados cravou em 18,3%.

Isso fez o volume de importações indiretas de aço saltar de 2,6 milhões de toneladas, em 2009, para 4,2 milhões de toneladas em 2010. Já a compra de chapas e outras modalidades de artefatos em aço bruto passou de 2,3 milhões de toneladas para 5,9 milhões de toneladas de um ano para o outro. Assim, no total, a importação direta e indireta mais que dobrou, chegando a 10,1 milhões de toneladas. O pior é que o cenário se agravou em 2011, o ano em que o estudo foi concluído, embora na aparência tenha melhorado para as siderúrgicas. De acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr), o equivalente nacional da Alacero, a soma das importações diretas e indiretas alcançou 8,3 milhões de toneladas no ano passado, quase 20% a menos que em 2010.

O motivo de essa queda não ter sido comemorada pelo setor está no fato de que o que diminuiu foi a importação direta de aço, que ficou em 3,6 milhões de toneladas, como consequência da redução da atividade fabril provocada pela crise econômica global e da política de preços mais agressiva adotada pelas usinas nacionais (com reflexos óbvios nas margens de lucro). As importações indiretas alcançaram a gigantesca marca de 4,7 milhões de toneladas, superando em 11,3% o volume de 2010. Como termo de comparação, vale informar que a produção conjunta de duas das maiores usinas brasileiras, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, e a Usiminas, de Ipatinga, em Minas Gerais, é de 5 milhões de toneladas de aço bruto por ano – só um dedo a mais que o volume importado indiretamente em 2011.

“Já temos todos os sinais de que a indústria brasileira está regredindo, e a participação dos importados, avançando”, lastima Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do IABr, entidade que tem entre seus filiados as “cinco grandes” do setor siderúrgico no país – CSN, Usiminas, Gerdau, ArcelorMittal e Votorantim –, as quais, juntas, respondem por mais de 95% do volume do aço produzido em território brasileiro. “O mais grave é que a situação, não dá para negar, está indo de mal a pior”, reclama Lopes.

De fato, está. Uma estimativa tabulada pela poderosa Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que representa o setor de bens de capital, mostrou que, se a produção industrial brasileira cresceu cerca de 40% entre 2004 e 2010, o consumo interno de bens de média e alta tecnologia deu um salto de 76% – quase o dobro, portanto. Trocando em miúdos: a diferença foi coberta pelas importações, que, segundo a Abimaq, cresceram absurdos 177% entre 2004 e 2010, no caso desse tipo de produto.

Perfil discreto

Na verdade, a importância do relatório da Funcex/Alacero não está tanto em seu conteúdo. Afinal, dados e análises sobre a possível desindustrialização do Brasil circulam nos meios produtivos e governamentais, assim como nas universidades e na imprensa, já faz um bom tempo. A novidade está no fato de ter sido essa a primeira vez em que a siderurgia resolveu abrir a boca para valer. As empresas do setor sempre mantiveram um perfil discreto sobre o assunto, e faziam isso como se o problema não lhes dissesse respeito. Era, enfim, uma ausência sentida, principalmente porque, em termos de poderio econômico e político, as usinas de aço não ficam muito atrás do agronegócio, da indústria petrolífera e da mineração em termos de importância econômica. Vale lembrar que o Brasil já ocupou lugar de honra entre os dez maiores produtores mundiais de aço bruto. Hoje, é o nono do setor, com uma capacidade instalada de 47,4 milhões de toneladas, e os programas de investimentos já definidos (mas agora não inteiramente confirmados) devem elevar essa oferta para 55 milhões de toneladas em 2015 – embora a produção média anual não tenha conseguido superar a marca de 40 milhões de toneladas.

O Brasil é, de longe, o maior produtor siderúrgico da América Latina, com um parque industrial de proporções invejáveis, representado por 14 companhias privadas controladas por dez grupos empresariais. O parque fabril propriamente dito é composto por 28 usinas de grande porte distribuídas em dez estados, todas elas fora dos centros urbanos. As instalações industriais e a maquinaria estão entre as mais modernas do mundo, sendo reconhecidamente bem mais avançadas que as congêneres americanas, por exemplo.

O país é, por isso, tido mundialmente também como um fabricante de qualidade diferenciada. Explica-se: o parque produtor brasileiro está apto a entregar ao mercado qualquer produto siderúrgico de linha, desde que, é claro, a produção seja plenamente justificável no aspecto econômico. Por ora, só não consegue confeccionar algumas ligas especialíssimas, como as que são desenvolvidas na Alemanha e no Japão.

É esse tesouro fabril, que se desenvolveu lentamente à sombra do Estado depois da criação da CSN, nos anos 1940 – e que recebeu uma injeção cavalar de investimentos a partir da década de 1990, quando as usinas estatais foram privatizadas –, que agora faz ecoar aos quatro ventos a ameaça apontada no estudo da Alacero. Ao analisar basicamente o que, para as siderúrgicas, é sua ponta do consumo, o estudo debruçou-se mais sobre a crise dos mercados atendidos pelo setor do que sobre si mesmo. Foi uma estratégia inteligente. O relatório engrossou o coro dos que alardeiam o processo de desindustrialização em curso no país e, discretamente, inseriu a siderurgia no contexto.

O efeito foi o de um toque de sirene, que continua a fazer barulho. Na prática, o estudo sinalizou, com algumas pinceladas de pânico, que o processo de desindustrialização avançou tanto no Brasil que já estaria colocando as siderúrgicas em palpos de aranha. É bom não esquecer que, em sã consciência, nenhum país pode prescindir das usinas de aço se sonha um dia ser senhor de uma indústria de transformação forte e independente.

“É consensual que o Brasil está, pouco a pouco, se transformando em uma sociedade de commodities e de serviços. Cabe discutir se isso será bom ou ruim para o país”, questiona Sergio Dias Teixeira Junior, especialista em comércio exterior e professor da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), na Grande São Paulo. “As nações que lograram uma desindustrialização positiva têm, hoje, renda per capita superior a US$ 30 mil, são países ricos. A renda per capita no Brasil está crescendo, é verdade, mas atingiu somente US$ 10,9 mil em 2010 e, apontam os estudos, chegará a US$ 20 mil apenas em 2025”. A desindustrialização positiva, explique-se, acontece quando o rendimento per capita de uma nação permite que os setores de serviços mais dinâmicos aumentem sua participação na formação do PIB, passando, portanto, a ocupar espaços da indústria.

Teixeira diz que o país ainda não atingiu um modelo industrial plenamente desenvolvido, provido de tecnologia de ponta e de diferenciais competitivos, capazes de levar a uma mudança de ênfase em suas atividades econômicas, isto, evidentemente, com raríssimas exceções. Por isso, a queixa das siderúrgicas – e do restante da indústria – é mais que pertinente, e seus reclamos deveriam ser encampados pelo governo e transformados em políticas industriais mais efetivas mediante a adoção de medidas que revertessem o processo ou pelo menos estimulassem o aumento da competitividade do setor. Segundo o professor da UMC, uma boa mexida no câmbio e na taxa de juros também seria bem-vinda.

 “O Brasil emergente, com um alto potencial de crescimento, necessita muito do segmento industrial como fator propulsor do desenvolvimento, a exemplo de suas cadeias produtivas mais longas, como a têxtil e a metalomecânica”, explica Teixeira. “Sem essas precondições, a desindustrialização acabará causando danos irreparáveis à economia do país.”

Em abril último o Planalto lançou um pacote de medidas com vistas a estimular a competitividade da indústria nacional, incluindo mais recursos para financiamento por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e desoneração da folha de pagamento. A iniciativa foi considerada positiva, mas as entidades empresariais acreditam que possa ter pouco impacto. Segundo elas, o grande responsável pela perda de competitividade da indústria nacional é o custo Brasil, que envolve, por exemplo, deficiências da infraestrutura, preços altos da energia elétrica, a pesada carga tributária e até a falta de capacitação da mão de obra. “Se você tem uma doença que provoca uma ferida, não adianta só passar pomada. É preciso eliminar a causa”, disse à imprensa Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Peças e componentes

O caso das indústrias de bens de capital é emblemático. A balança comercial do segmento bateu um novo recorde em 2011. Recorde negativo, é claro. Fechou o ano com um déficit de US$ 17,9 bilhões (13,6% maior que o de 2010), e com um elevado volume de importações, que alcançou no período US$ 29,8 bilhões. E o cenário para este ano não é nada animador. Em janeiro último, o déficit da balança comercial da indústria de máquinas e equipamentos atingiu US$ 1,5 bilhão, resultado negativo igual à soma dos 12 meses de 2005. 

O mais grave de tudo é que o crescimento das importações já chegou à área de partes e de peças. “Atualmente, cerca de 50% dos componentes utilizados na manufatura de bens de capital no Brasil são trazidos de fora porque, alegam as empresas, elas precisam concorrer com um mínimo de competitividade”, diz Carlos Nobre, presidente da Câmara Setorial de Transmissão Mecânica da Abimaq. “É um cenário de desmonte”, afirma.

De acordo com Nobre, o setor tende a tomar o mesmo caminho já trilhado pela cadeia produtiva do setor de injeção de plásticos. Ele relata que os fabricantes desse ramo começaram comprando injetoras da China, cujo valor comercial, calculado por quilo do equipamento pronto, pasmem, era inferior ao preço cobrado pelo quilo da matéria-prima da qual eram feitas. “As indústrias locais simplesmente tiraram essas máquinas de linha porque não tinham como competir com os asiáticos”, ele diz. Resultado: o Brasil deixou de fabricar um item de larga importância e, desgraçadamente, passou a comprar também no exterior boa parte dos artigos de consumo feitos de plástico. “Foi toda uma cadeia produtiva que se perdeu”, observa Nobre.

Coisa semelhante está começando a afetar a indústria de autopeças. No ano passado, o setor fechou sua balança comercial com um déficit de US$ 4,6 bilhões, 30,9% maior que o de 2010. “A triste verdade é que as indústrias brasileiras têm importado a maior parte dos componentes, peças e moldes que emprega, colocando de lado nossos ferramentais”, observa Milton Rezende, presidente do Sindicato da Indústria de Artefatos de Ferro, Metais e Ferramentas em Geral no Estado de São Paulo (Sinafer). “É como se estivéssemos retornando à condição de colônia e transformando nossos trabalhadores qualificados em desempregados”, pontifica.

De acordo com Rezende, em 2008 esse ramo fabril empregava 282 mil trabalhadores, mas fechou 2010 com 265 mil vagas. A bem da verdade, a redução das oportunidades de trabalho é um fenômeno que pode ser confirmado na indústria em geral. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre 1985 e setembro de 2010 o emprego na área amargou a queda de 28%. No mesmo período, a empregabilidade no setor de serviços cresceu 11%, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, é notória a migração da mão de obra, muitas vezes especializada, do segmento de manufatura para outras áreas de atividade, e tendo seu potencial subestimado. Vale informar que parte dos trabalhadores brasileiros do ramo de serviços recebe, na média, menos que dois salários mínimos mensais.

É provável até que, se as circunstâncias econômicas internacionais não estivessem tão desfavoráveis, a indústria siderúrgica não se sentisse tentada a entrar de cabeça no debate sobre a desindustrialização. Ou, quem sabe, viesse a adiar um pouco a difusão de suas apreensões. Ocorre que, com a desaceleração da produção industrial de grandes players, como Europa, Estados Unidos e Japão, o estoque de aço no mundo nunca esteve tão alto: cerca de 530 milhões de toneladas, conforme dados da Associação Mundial do Aço (WSA, na sigla em inglês). A capacidade produtiva mundial gira em torno de 2 bilhões de toneladas ao ano, o que significa que os estoques já equivalem a pouco mais de 25% disso.

Assim, não causa surpresa que o fantasma da ociosidade tenha começado a rondar as usinas locais. E o problema só não é maior porque o Brasil tem conseguido exportar aço de maneira até surpreendente (principalmente para a América Latina). No exercício passado foram colocadas no exterior 12,8 milhões de toneladas do insumo, um crescimento de 42,6% na comparação com 2010. O volume equivaleu a cerca de um quarto do total produzido, que em 2011 bateu em 39,4 milhões de toneladas.

Uma coisa é certa: o avanço chinês no setor, em âmbito mundial, é inexorável. O crescimento médio anual do consumo de aço nos quatro cantos do globo, entre 2000 e 2010, foi de 5,4%, enquanto a China, sozinha, exibia uma expansão de 16,5% na produção. Mais: os conterrâneos de Hu Jintao participaram com 84% do incremento da produção mundial do metal.

Por enquanto, o produto chinês ainda não é uma grande ameaça porque atende a uma demanda interna que também é imensa. No ano passado, o consumo per capita de aço no país foi de 430 quilos, quatro vezes o da América Latina. Entretanto, se a economia da maior nação da Ásia começar a descer a ladeira, como os indicadores começam a mostrar, certamente o mercado internacional será inundado pelo excesso de sua produção. Aí, então, será um Deus nos acuda.

Tudo indica que a siderurgia brasileira ainda ficará entre a cruz e a caldeirinha: está perdendo mercado no próprio país, que se desindustrializa, e também no exterior, por conta da crise na Europa e nos Estados Unidos. Não é à toa, portanto, que os empresários do ramo, mesmo que discretamente, fazem coro com os descontentes de outros segmentos. Todos pedem providências efetivas ao governo porque é preciso amparar nosso parque manufatureiro antes que seja tarde.


A marcha da desindustrialização

O estudo “Desempenho da Cadeia de Valor Metalomecânica Latino-americana” envolveu pesquisadores do Brasil, Argentina, Colômbia e México e resultou numa radiografia de mais de 70 páginas sobre o processo de desindustrialização em curso na América Latina.

As quedas na participação da indústria são mais acentuadas no Brasil e na Colômbia, países que registraram a maior valorização cambial dos últimos anos e, na mesma proporção, o aumento dos índices de importação.

A participação da indústria manufatureira do Brasil no PIB caiu de 19,2%, em 2004, para 15,8% em 2010. Na Argentina, a contribuição do mesmo setor na economia despencou de 21%, em 1980, para 17% no ano passado. Já no México, a indústria, que em 1980 respondia por 18% do PIB, teve sua participação elevada para 20% em 2000, mas recuou para 18% em 2010.

O declínio ocorreu também nas trocas internacionais do setor metalomecânico. Em 2005, de acordo com o mesmo estudo, Brasil, Argentina, Colômbia e México exportaram cerca de US$ 1 bilhão para a China em produtos do segmento e importaram US$ 18,3 bilhões. Cinco anos mais tarde, a soma conjunta das exportações dobrou. No entanto, as importações saltaram para US$ 59,5 bilhões.

No comércio bilateral com a China, a situação do Brasil é hoje quase a de um país subdesenvolvido. Fornecemos ao país asiático basicamente minério de ferro e commodities agrícolas, já que apenas 2,5% dos produtos mandados para lá são constituídos por itens metalomecânicos. De qualquer forma, as vendas internacionais do setor alcançaram US$ 11,9 bilhões em 2011 (alta de 28,2% na comparação com 2010) e 48% do volume foi comercializado com nações da América Latina.

A verdade é que as exportações de bens de capital estão avançando muito menos que as importações. Desde 2004, quando as vendas externas cresceram 60%, as importações ampliaram-se em 290%. Esse é um outro motivo de preocupação para as siderúrgicas. E não é para menos. A participação desses itens na pauta das exportações brasileiras tem caído de maneira generalizada: de 55% em 2005 para 39,4% em 2010, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).


Outro desafio: o custo do minério de ferro 

As siderúrgicas brasileiras também estão sendo levadas a lutar em outra frente, representada pelo minério de ferro, matéria-prima essencial para a produção do aço. Hoje, quase todo o minério utilizado nas linhas de produção das usinas nacionais é fornecido pela megamineradora Vale com base em preços internacionais.

Em 2010, a tonelada de minério de ferro exportada experimentou um incremento médio de preço da ordem de 86,7%. Todavia, o custo médio da tonelada de aços laminados avançou apenas 13,7%. Junto com o carvão, o insumo comercializado pela Vale representa aproximadamente 50% do custo do aço.

Tamanha discrepância no âmbito da mesma cadeia produtiva é explicada pela voracidade da China por minério de ferro e pela retração das economias da Europa e dos Estados Unidos após a crise de 2008, que levou à redução no consumo de produtos siderúrgicos.

Para fugir desse cenário – que se reflete sobre os custos e os preços finais –, CSN, Usiminas, Gerdau e ArcelorMittal pretendem destinar, juntas, mais de US$ 12 bilhões nos próximos cinco anos à expansão da atividade mineradora. A meta de todas é atingir a autossuficiência no suprimento de ferro.

Hoje, a capacidade de produção da Usiminas é de 7 milhões de toneladas de minério, ou 40% de sua necessidade. A meta para 2015, quando pretende chegar a 100%, é de 29 milhões de toneladas. Já a gaúcha Gerdau quer alcançar a autossuficiência ainda este ano, quando deverá produzir 7 milhões de toneladas de minério de ferro. A ArcelorMittal, por sua vez, pretende chegar a 2015 com 75% de sua demanda global atendida por produção própria ou através de contratos estratégicos de fornecimento.

A CSN, entretanto, é a que está indo mais longe. A empresa anunciou que pretende fazer fortes investimentos para ampliar sua atividade mineradora: serão aplicados R$ 13 bilhões até 2015 com vistas a elevar a produção dos atuais 26 milhões de toneladas de minério de ferro para 89 milhões de toneladas. O salto tornará a CSN rival direta da Vale no segmento. Hoje, 75% do minério comercializado pela siderúrgica de Volta Redonda já tem como destino os fornos de terceiros.