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Últimos momentos da exposição História da Poesia Visual Brasileira no Sesc Bom Retiro

Foto: Brenda Amaral
Foto: Brenda Amaral

Reunindo aproximadamente 213 obras do acervo de Paulo Bruscky em uma área de 130m², a mostra História da Poesia Visual Brasileira fica em cartaz no Sesc Bom Retiro até 8 de setembro. Com curadoria de Paulo Bruscky, Yuri Bruscky e Adolfo Montejo Navas, conta com obras que rompem os limites das palavras por meio de diversas linguagens.

Mesclando um amplo recorte de artistas e movimentos, a exposição é dedicada a duas figuras centrais do experimentalismo nas Artes Visuais: Vicente do Rego Monteiro, artista e poeta pernambucano de grande importância na Poesia Visual e Experimental, e Wlademir Dias-Pino, poeta, artista visual e gráfico de destaque no grupo Poema/processo no Rio de Janeiro, falecido em 2018. Também são homenageados Falves Silva, Neide Sá, Pedro Xisto e Edgard Braga.

A exposição é um recorte panorâmico da rica e diversificada produção da poesia de vanguarda brasileira, com trabalhos focados em estéticas radicais e no cruzamento entre as mais diversas linguagens e suportes tecnológicos.

Adolfo Montejo Navas falou da importância da exposição: “É um acervo bem abrangente da história da poesia visual no Brasil, um leque que contempla diversas formas em que esse tipo de arte é representada, traz obras de artistas renomados e alternativos, de várias localizações do país e, consequentemente, de movimentos que foram referência no sentido de buscar diferentes significações ao combinar textos com imagens. Poesia visual tem a necessidade de transcender e ultrapassar as páginas da poesia convencional. É uma iluminação para qualquer momento em que estamos vivendo, uma luta contra o analfabetismo visual”.

Foto: Renata Teixeira

 

Dentro da Exposição

A pesquisa que deu origem ao projeto fez um levantamento histórico, que incluiu os movimentos mais representativos e algumas experiências isoladas, que foram pioneiras no contexto da Poesia Experimental Brasileira. Entre elas estão o poema pré-concreto de Gregório de Matos, do século 17, as composições acrósticas de Frei João do Rosário, onde letras de cada verso formam palavras ou frases diferentes, datadas de 1753, e a obra de Sounsândrade, escritor e poeta nascido no Maranhão, e que viveu durante a segunda metade do século 19.

O público pode conhecer investigações poéticas como o poema carimbo Miramar, de Oswald de Andrade; o poema Isso É Aquilo, de Carlos Drummond de Andrade, trabalhos de João Cabral de Melo Neto, entre outros. Além das obras, a exposição conta com farto apanhado documental, composto por fotografias, cartazes, catálogos, livros, jornais, revistas e cartas.

A parte dedicada aos diferentes movimentos poéticos está presente ressaltando a Poesia Concreta, criada em 1956 por Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. O grupo criou a Revista Noigandres, publicação lançada em 1952, peça de grande importância para a evolução movimento. Outra referência é o livro Concrétion, lançado também em 1952, de Vicente do Rego Monteiro, em antecipação ao Movimento Concretista.

Adolfo Montejo Navas intensificou o papel dos dois homenageados na mostra. “Vicente do Rego Monteiro tem um trabalho na pintura reconhecido, porém foi um dos percursores da poesia visual com obras na década de 40. É vital colocar sobre os holofotes esse outro lado artístico, um dos mestres do Concretismo. Já Wlademir Dias-Pino colecionou obras-primas em sua carreira ao questionar o uso da palavra e com experimentos híbridos, isso fica em evidente no livro-poema A Ave e Enciclopédia Visual. Essa liberdade em não ficar restrito à linguagem lembra o teórico Roland Barthes que chegou até dizer que a língua pode até ser uma prisão”, afirma.

Outras presenças marcantes são de trabalhos do grupo concretista do Ceará (1957), a Poesia Práxis, criada em São Paulo, por Mário Chamie (1961); o Poema/Processo, lançado simultaneamente no Rio de Janeiro e em Natal (entre 1967 e 1972), e a Poesia Visual/Experimental, que surgiu no Brasil desde a década de 1940. Por fim estão presentes exemplos de Poesia Visual encontrada na publicidade, brinquedos e utensílios domésticos, criados através do reaproveitamento de latas de produtos industrializados e comercializados em feiras e mercados populares.

Um dos destaques da exposição é a posição vanguardista dos artistas. O questionamento sobre a relação entre linguagem e sociedade foi vital em suas obras. Com abordagens nada convencionais, os trabalhos representam um rompimento das convenções artísticas, propondo experimentações e novas maneiras de se comunicar, a partir das palavras e das formas”, diz Michael Anielewicz, técnico de programação de artes visuais do Sesc Bom Retiro.

Durante o percurso, uma linha do tempo revela toda a trajetória do gênero do Brasil, uma seção tecnológica e interativa foca na poesia sonora, e a biblioteca da unidade recebe materiais e atividades ligadas aos temas da exposição. “A linguagem classifica objetos, pessoas e define papéis sociais, enquanto as obras de Poesia Visual rompem com as convenções do mundo à sua volta. As obras articulam inventividade em forma de gravuras, tipografias e colagens, criando novos significados, e questionando os limites da escrita e da fala. Nos obrigam a pensar como indivíduos inseridos no meio social, e refletir sobre as fórmulas e estruturas pré-concebidas de comunicação”, enfatiza Anielewicz.

Todos os materiais e obras presentes integram o arquivo do artista multimídia pernambucano Paulo Bruscky. Referência internacional para pesquisadores em arte contemporânea, o Instituto Paulo Bruscky é o maior acervo de arte e multimeios da América Latina, e um dos maiores do mundo.

Constituído ao longo de cinco décadas de pesquisa, contém aproximadamente 70 mil itens, de aproximadamente 1.000 artistas de 52 países, abrangendo as mais importantes vanguardas do século XX, como futurismo, dadaísmo, pop art, grupos Cobra, Gutai e Fluxus, arte conceitual, vídeo arte, arte correio, áudio arte e poesia experimental. O Instituto integrou a 26ª Bienal de São Paulo, sendo remontando integralmente no pavilhão expositivo. Também já cedeu, por empréstimo, materiais para instituições como MAC/USP, Casa França-Brasil, Instituto Tomie Ohtake, Bienal do Mercosul e Centro Georges Pompidou.

 

Sobre Paulo Bruscky

Pioneiro na utilização de mídias contemporâneas, como a arte postal, audioarte, videoarte e xerografia no Brasil, é um dos maiores artistas conceituais na arte brasileira. Durante os anos 1970 carregou sua obra com intenso conteúdo político como forma de protesto ao sistema ditatorial brasileiro. Foi responsável por renovar a cena artística nacional dos anos 1970 e por inserir na arte brasileira outros tipos de mídias como xerox, fax, carimbo, artdoor, entre outras.

Bruscky desenvolve, por meio do uso de palavras e intertextualidade, um trabalho carregado de significados. Com a arte correio, pôde driblar a censura durante os anos 1970, se inserindo no Movimento Internacional de Arte Correio.

Participou de várias edições da Bienal de São Paulo, e outras pelo mundo. Sua obra está presente nas coleções de museus como Centre Pompidou (França), Tate Modern (Inglaterra), Museum of Modern Art – MoMA (Estados Unidos), MAM. e MAC USP, Museu d’Art Contemporani de Barcelona (Espanha), Museu de Arte Moderna de Amsterdã (Holanda), entre outros.

>> A mostra, que segue até 8/set, tem entrada gratuita e também conta com programação complementar. Veja todos os detalhes aqui.