Entrevista com Heloisa Starling

15/12/2022

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CPF: Qual o sentido de comemorar os duzentos anos da Independência?

Heloisa: Foi um pouco a ideia que tivemos em nosso seminário, de pensarmos que comemorar significa recordar juntos, e recordar é trazer de volta ao coração. Vamos lembrar, vamos comemorar. Voltar duzentos anos no tempo significa olhar para uma ideia de país que estava sendo construído naquele momento, que estava sendo imaginado naquele momento. É uma ideia de futuro, inclusive. Não existia o Brasil, mas existia uma ideia do Brasil.

E essa ideia do Brasil está sendo acompanhada por alguns procedimentos na sociedade que são muito importantes para nós atualmente, como, por exemplo, o grande debate público que se abriu nesse país, nisso que um dia ia ser o Brasil, para trazer as ideias de República, Federação, liberdade, democracia, Constituição, Parlamento, voto. Eu estava me dando conta de que mesmo naquele momento lá, quando se vai pensar e imaginar a Constituinte de 1823, os representantes brasileiros já são eleitos.

É a primeira vez que estamos tratando de votos e representantes; como se estivéssemos varrendo o absolutismo e colocando no lugar uma série de valores da política que são essenciais nos dias de hoje: República, voto, eleição, isso está sendo discutido nos panfletos e jornais… a democracia. Então, tem uma efervescência, um debate entre as pessoas que trocam ideias e são capazes de emitir opiniões juntas. A Independência importa para pensarmos nesse debate, pensarmos nos valores políticos que estão sendo debatidos pela primeira vez, ou que estão assumindo concretude no Brasil contra o despotismo, contra o absolutismo, como escreveram Rafael Cariello e Thales Pereira no livro Adeus, senhor Portugal. O projeto vitorioso é o projeto capitaneado pelo Rio de Janeiro. É centralizador, conservador e fundado numa única instituição, que é a escravidão. É a escravidão, inclusive, que vai garantir essa realização. No Brasil que se forma e que se centraliza em torno das províncias, a grande palavra de ordem que permite a Pedro I essa centralização, em parte, é a Guerra de Independência e a maneira como ele vai reprimir e destruir o ciclo revolucionário. Mas na outra perna está também a escravidão, que faz com que os grandes proprietários adiram ao projeto do Rio de Janeiro. Então, talvez o nó que a gente precisa desmanchar esteja aí.

E tem uma terceira coisa que a gente fez e que acho muito bacana, que é pensarmos que a Independência também nos dá uma arqueologia da esperança. Vamos encontrar nesses anos da Independência, e por isso também importa lembrar a Independência, a população pobre se mobilizando em função dessa esperança, do que virá a ser um país, vemos isso na Bahia com os batalhões, como o João José Reis mostrou, vemos as mulheres se mobilizando, vemos as populações indígenas. Existe uma movimentação em torno da construção da esperança que talvez nos importe quando lembramos a Independência. Refletir sobre esse repertório nos ajuda a conhecer o que somos e o que poderíamos ser, e poderá nos permitir imaginar o que ainda queremos ser e fazer as escolhas juntos.

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