O livro São Paulo na disputa pelo passado aborda o processo de construção do Monumento à Independência e mostra como a cidade o utilizou para marcar sua importância no cenário nacional
A Independência do Brasil é uma passagem da história do país cercada de controvérsias e que vem sendo descontruída e ganhando novas versões ao longo dos anos. Aprendemos que em 1822, por iniciativa de Dom Pedro I, teria acontecido a separação entre colônia e metrópole, sem que houvesse luta armada e sem que a sociedade sofresse efetiva transformações. No entanto, desde meados do século XX, tem ocorrido esforços na direção de problematizar e descontruir essa narrativa histórica restrita e simplificada.
Nesse sentido, o livro São Paulo na disputa pelo passado: o monumento à independência de Ettore Ximeses, de Michelli Cristine Scapol Monteiro, integra os esforços de elucidar esse momento histórico que há décadas faz parte do imaginário brasileiro. A obra trata do processo de construção do Monumento à Independência, às margens do riacho do Ipiranga, por ocasião da celebração do Centenário do nascimento do Estado brasileiro. O monumento foi parte de uma intervenção urbanística mais ampla, envolvendo um amplo jardim, inspirado no Palácio de Versalhes, e as instalações do Museu do Ipiranga.
“Michelli Monteiro nos apresenta as motivações que levaram à apresentação e, em meio a dificuldades de toda ordem, à realização desse projeto, pelo prisma dos interesses da cidade de São Paulo em marcar sua importância no cenário nacional, em oposição ao Rio de Janeiro, então capital da República. O gesto fundador de D. Pedro em 1822 constituía um território simbólico extraordinário, a ser explorado por uma cidade que, cem anos mais tarde, crescia, recebia imigrantes e se industrializava, ao mesmo tempo em que as elites “nativas”, cafeeiras, davam provas de seu refinamento, cosmopolitismo e origens bandeirantes”, escreve Gabriela Pellegrino Soares, professora do Departamento de História da USP, na contracapa do livro.
As celebrações pelo Centenário da Independência atraíram as atenções de políticos, imprensa e da opinião pública, que procuravam explorar e redimensionar o ato de Dom Pedro em relação a história do país. Nesse contexto, a autora propõe reflexões sobre o Monumento à Independência, desde o momento que o projeto do artista italiano Ettore Ximenes (1855-1926) torna-se o vencedor até às apropriações que dele se fizeram após a inauguração do monumento em 1923. A pesquisa de Michele Cristine, que é base desse livro, mostra de forma argumentativa as disputas pelas simbologias desse episódio da história brasileira.
:: Trecho do livro
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