Inquietante crítica

22/04/2020

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Lendo e relendo reúne textos que Walnice Nogueira Galvão escreveu entre 1997 e 2018, passando da resistência do teatro brasileiro durante a ditadura a nuances do cinema chinês

É fato a inquietação na escrita de Walnice Nogueira Galvão. Os quarenta livros de sua autoria já publicados demonstram isso. E não poderia ser diferente, visto o quanto ela, uma das maiores críticas literárias brasileiras, reflete com paixão em seus textos sobre as facetas da realidade sociopolítica e cultural de nosso país e do globo. Lendo e relendo, que as Edições Sesc São Paulo lançam agora, em parceria com a Ouro sobre Azul, evidencia esse panorama ao reunir publicações que Galvão produziu entre 1997 e 2018 e encontravam-se dispersas em jornais, revistas e periódicos acadêmicos.

Dividido em quatro partes – “Figuras”, “Duos”, “Paisagens” e “Flagrantes” –, o livro é uma oportunidade de o leitor se debruçar junto com a crítica literária em assuntos como a resistência do teatro brasileiro sob a vigência da ditadura militar (1964-1985), nuances históricas do cinema chinês e a literatura de Coetzee, por exemplo, ou de acompanhar a estudiosa escrever sobre figuras notáveis, como Mário de Andrade, Frida Kahlo, Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, Benedito Nunes, entre muitos outros. A abordagem de tais temas acontecem enquanto Galvão versa sobre literatura brasileira e estrangeira, teatro, cinema, artes plásticas, história, sociologia, teoria literária e política, por exemplo.

Na critica que abre o livro, Galvão fala que “deveria vigorar entre os direitos civis das crianças a inoculação de uma dose de Edgar Allan Poe logo na infância. Nunca mais perderiam a chave daqueles deliciosos calafrios de terror que suas estórias despertam”. Mais adiante, ao escrever sobre Antonio Candido, diz que “o lugar que [ele] ocupa em nossa cultura é múltiplo. De saída, há que destacar seu papel como autor de uma reflexão fundamental para a criação de uma consciência sobre o país, de que é pedra angular seu livro de 1959, Formação da literatura brasileira”. Já quando avança pelo período da ditadura militar (1964-1985), ela enfatiza: “O que a literatura brasileira produziu de mais diretamente ligado a 1968, sem disfarces nem linguagem cifrada, não foi um romance mas uma peça de teatro. A aluna de ciências sociais e ocupante da Maria Antonia Consuelo de Castro, ainda autora inédita (…) Escreveu Prova de fogo, sobre, justamente, o movimento estudantil e a ocupação da Faculdade de Filosofia da USP”.

Professora emérita aposentada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Walnice Nogueira Galvão, 83 anos, dedicou grande parte de sua pesquisa à obra de Euclides da Cunha e Guimarães Rosa. Inclusive, ela organizou, em 2016, uma edição definitiva de Os sertões, publicado pelas Edições Sesc São Paulo em coedição com a Ubu Editora.
 

Trecho do livro

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