Traço comum

21/11/2019

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Em Retratos latino-americanos, ensaios sobre as obras de intelectuais e artistas analisam o papel da memória individual na formação da identidade dessa porção do continente

Vivemos uma época em que todos narram em tempo real suas vidas e intimidade nas redes sociais. Assim, “terceirizamos” nossas memórias nos dispositivos e sistemas digitais, muitas vezes as esvaziando de sentido. Retratos latino-americanos: a recordação letrada de intelectuais e artistas do século XX, coletânea de ensaios sobre autores que produziram obras a partir de suas próprias memórias, analisa a importância desses relatos e do papel da memória individual na formação da identidade latino-americana, que não se limitou a imitar modelos da Europa ou dos Estados Unidos e constituiu uma tradição própria, marcada pelo ecletismo.

Com organização dos professores Sergio Miceli e Jorge Myers, as quinhentas páginas do livro trazem ensaios sobre nomes que habitaram as paisagens literárias, artísticas e acadêmicas do continente, do Uruguai a Cuba, passando por Argentina, Peru, Brasil, Colômbia, Venezuela, República Dominicana e México. Entre eles, Luis Buñuel – naturalizado mexicano –, Adolfo Bioy Casares, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Guillermo Cabrera Infante, Graciliano Ramos, Lima Barreto, Celso Furtado, Pedro Nava, Victoria Ocampo, Jorge Amado, Gianfrancesco Guarnieri, Gilberto Freyre e Mariano Azuela.

No prólogo da coletânea – texto de fôlego que realiza um panorama da chamada escrita periautográfica –, os organizadores lembram que, ao migrar da forma oral para algum tipo de suporte material, como a página escrita, a memória “passa de seu estado puramente subjetivo a um elemento objetivo da realidade social específica de um grupo humano e se vincula por fim a um lugar e a um tempo também específicos”.

:: trecho do livro

Os ensaios estão divididos em oito partes temáticas: “Recordações dos intelectuais a serviço da revolução”, “O empenho literário: recordações da vida artística e intelectual”, “Intimidade na cidade”, “Criações dialogadas: memorialística da interlocução”, “Rastros de uma vida intelectual”, “Paraísos perdidos: infância, viagem e amor”, “Traumas do viver” e “A autobiografia como objeto do discurso intelectual”. 

Miceli e Myers afirmam que o objetivo central do livro foi tornar mais clara a especificidade da experiência memorialística latino-americana, por meio de uma exploração histórica que relacione o conteúdo do texto às condições de possibilidade oferecidas pelo contexto discursivo e sociocultural – marcado, no continente e no século em questão, pelo legado colonial e por guerras, revoluções, ditaduras, resistências e efervescência cultural.

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