Livro percorre épocas e culturas distintas para evidenciar o papel da sexualidade como um fato social incontornável para o entendimento das relações com o prazer e a liberdade
A partir de uma viagem por diferentes períodos, agentes e acontecimentos históricos, o livro Uma história das sexualidades, organizado pela historiadora francesa Sylvie Steinberg, analisa o comportamento sexual como um espaço de disputa e tensão que constitui as interações humanas. “Estruturados na ideia da diversidade e no entendimento da sexualidade como um mosaico firmado em dispositivos de controle que regem as práticas dos sujeitos sociais, os estudos aqui reunidos abrangem a história do Ocidente, que principia na Antiguidade clássica, percorre o catolicismo medieval e o Renascimento, atravessa a sociedade burguesa do século XIX e alcança a crítica ao binarismo e o direito à pansexualidade deste início de milênio”, afirma a historiadora sobre a publicação.
Com linguagem acessível e baseado em uma ampla pesquisa documental e em reflexões ancoradas na antropologia cultural, o livro entrelaça representações, práticas, fantasias e opressões vinculadas ao corpo e ao desejo, evidenciando o papel da sexualidade como um fato social incontornável para o entendimento das relações com o prazer e a liberdade.
Ao apresentar o título ao público brasileiro, a professora livre-docente do Departamento de História da Unicamp, Margareth Rago, lembra que a canônica obra História da sexualidade, do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), já em 1976 foi decisiva para evidenciar, nas práticas sexuais, as enormes diferenças nas experiências, nas interpretações e nos códigos morais vigentes ao longo da história ocidental. “Adotando uma perspectiva multidisciplinar e valendo-se da ampla gama de documentos, este trabalho sob a organização de Steinberg recobre uma enorme variedade de temas constitutivos da história das sexualidades, convidando o leitor a uma prazerosa incursão pelas dimensões fundamentais da nossa existência”, diz.
:: Trecho do livro
De acordo com Steinberg, enquanto campo de pesquisa, a história da sexualidade surgiu nos anos 1970, gestada por um contexto social e político da chamada “revolução sexual” e, também, por uma corrente de estudos preocupada em reconstruir a vida privada dos indivíduos. Sob os olhares cruzados da demografia histórica, da antropologia cultural e da história social surgiu uma história da sexualidade que não podia ficar isolada dos outros aspectos da história humana.
Para a organizadora, contar uma história da sexualidade hoje consiste em escrever, a partir das muitas heranças e dos inúmeros registros, uma história plural e abrangente, por isso no título o uso do termo “sexualidades”, levando-se em consideração tanto a diversidade de práticas – em função de idade, sexo, orientação e legitimidade de parceiros – como as formas históricas de estilização da sexualidade de acordo com a época.
Nesse sentido, a sexualidade no fundamento das relações de poder ou, simplesmente, refletindo outros modos de dominação social, é, para Steinberg, uma questão que encontra respostas diferentes conforme o contexto histórico ou, ao menos, suscita questionamentos historiográficos. “Em todo caso, a história das sexualidades também é escrita com as palavras da política. Hierarquia, dominação, discriminação, desigualdade, igualdade, liberdade, revolução, utopia e democracia são noções que, relacionadas à sexualidade das mulheres e dos homens do passado, encontram elucidações neste livro, sem que o desejo e o prazer (da leitura) sejam esquecidos”, complementa.
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