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Danilo Santos de Miranda - diretor do Departamento Regional do Sesc São Paulo

Foto: Nilton Silva
Foto: Nilton Silva

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Durante a conversa que manteve com a revista A Terceira Idade, Danilo discorreu sobre a questão das políticas culturais no Brasil e acerca de seu trabalho à frente do sesc São Paulo. Ao completar seu 60º aniversário, reflete sobre o fenômeno do envelhecimento e fala a respeito dessa fase da vida.

 

REVISTA - Danilo, fale um pouco sobre sua história familiar.

DANILO - Eu nasci em 1943 em Campos, cidade de porte médio, situada ao norte do Estado do Rio. Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial e o Brasil vivia um momento de impacto, de dúvida. Sou de uma família típica de classe média. Meu avô era farmacêutico na cidade, minha mãe era sua principal auxiliar.  Meu pai era jornalista e dentista recém-formado, já iniciando as atividades. No interior, as pessoas misturam vários papéis. Houve urna época em que ele também foi visitante comercial na área de remédios. Éramos urna família antiga da cidade, ligada à tradição local, com parentes de todo lado. Campos era urna região próspera. Minha família herdou um conceito de relação com a vida, com as coisas, com a natureza, com a cultura, com a música, com a arte, proveniente desse ambiente no século XIX, início do século XX. Meu pai e minha mãe se casaram em 1936. Meu irmão mais velho é de 1939, o outro irmão nasceu em 1942 e o que veio depois de mim, é de 1945. Foi um momento próspero de minha família, meu avô tinha a principal farmácia na cidade.

REVISTA - Você conviveu com seu avô?

DANILO - Um pouco. Era um homem calado, mas com personalidade muito firme, rígida. Nasceu em São Paulo, mas casou-se em Campos, com "Donana". Ana, minha avó, era a filha mais velha de um casal de portugueses, proprietários de urna fazenda em Dores de Macabu, e era conhecida como Dona Ana que virou Donana. Era uma pessoa de liderança forte, ligada a movimentos religiosos. As Mães Cristãs provocavam uma mobilização grande, tinham um vínculo enorme com tudo que era ação de caráter caritativo, filantrópico e social na cidade. Meu avô também. É curioso que minha avó, tão frequentemente chamada de Donana, com o tempo ficou conhecida como Dona Donana.

REVISTA - Quanto tempo você viveu em Campos?

DANILO - Até os 11 anos. Perdi minha mãe com sete anos de idade. Minha mãe faleceu em 50 com urna doença que não é grave hoje, mas na época era: morreu de nefrite. Eu tinha sete anos de idade e ela tinha cerca de 31. Meu irmão mais novo estava com cinco, o mais velho com dez. Fornos criados então pela minha avó Donana, que já tinha conosco urna relação muito próxima cormo típico das famílias tradicionais. O filho mais novo dela tinha mais ou menos a idade do meu irmão mais velho. Era urna coisa de continuidade, tudo muito perto. A gente morava muito próximo aos nossos avós. Conheci também minha bisavó Maricota, - a vovó Cota, que viveu até os 96 anos.

REVISTA - E depois de Campos?

DANILO - Fui para urna escola interna em Friburgo, já pensando na história do seminário. Foi uma opção de criança. Minha opção é claro, mas uma criança com 11 anos. Fui por várias razões. Primeiro porque houve nisso urna novidade. Eu tinha urna estrutura familiar, digamos substituta, importante - minha avó, meu avô, meus tios, meus irmãos, tudo na mesma casa. Mas era uma coisa já meio diferente do tempo anterior em que estavam meu pai, minha mãe e meus irmãos. Já havia assim "um clima”... um momento de dizer "vamos sair por aí". Meu irmão mais velho acabou saindo também logo em seguida. O Dilmar, meu segundo irmão, foi para Friburgo também. Na época havia um movimento no qual os padres percorriam o Brasil afora em busca de vocações. Famílias religiosas eram procuradas por isso. Chegavam padres jesuítas lá de Friburgo, conversavam com o padre local para saber se havia jovens com esse perfil nas famílias.

REVISTA - Você era uma pessoa religiosa?

DANILO - Era religioso por influência familiar, era cruzado eucarístico. Fui criado na Igreja. O curioso é que, já naquele tempo, meus irmãos e eu buscávamos algo que viesse a ser enriquecedor, algo um pouco além daquela vida do dia-a-dia. É claro, fazia esporte - atividade normal de criança brincava na rua, corria... Mas eu tinha essa coisa do religioso. A minha avó me puxava: "Menino, vamos lá, está na hora da missa, padre fulano está te esperando para celebrar". Eu vivia nesse meio que tinha esse caráter religioso e isso foi formando meu jeito de ser, minha vocação. Eu fui para Friburgo sem saber direito o que estava fazendo. Fui para fazer o exame de admissão ao ginásio, mas não fui aceito porque os padres acharam que talvez não fosse conveniente. Tenho a impressão que eles tinham uma ligeira desconfiança de que o ensino em Campos não era lá essas coisas. Mas era bom. Assim, fiz o curso de admissão para entrar no ginásio, em 1955.

REVISTA - Na adolescência, o que chamava a sua atenção intelectualmente, que assuntos o atraíam?

DANILO - Sobretudo fatos históricos. Não era de estudar muito, mas era bom aluno porque tinha uma capacidade de retenção razoável e raciocínio rápido. Não era brilhante em matemática, mas tinha facilidade para entender, recebia prêmios de excelência como melhor aluno, disputava as melhores notas. Há uma emulação em geral nos colégios de padres, no sentido de você ser bom, ganhar nota, subir, crescer. O colégio publicava todo fim de ano uma espécie de catálogo de todos os alunos; tinha um quadro de honra e eu sempre estava muito bem situado desde a primeira série ginasial. Havia o ginásio e depois o clássico com opção para ser jesuíta. A vida religiosa fundamentou meu interesse pelo lado político, aquilo de você não ser só você mesmo, de abrir-se um pouco, perceber o entorno. Um órfão tem muita facilidade para compreender os outros. À medida que você tem carências, você entende a carência externa. Não quero simplificar isso, não quero fazer psicologismo, mas para mim isso teve fundamento.

REVISTA - A condição de órfão tornou-o mais sensível?

DANILO - Sim. Eu era objeto de muita atenção e me lembro que, quando minha mãe morreu, achava estranho aquele negócio de todo mundo ficar muito atento comigo: "Coitado, o orfãozinho". Nós éramos quatro, todos garotos de calça curta e todos homens, não tinha irmã. Diziam: "O que vai ser agora da vida desses meninos? Ainda bem que tem a avó que é nova ainda". Essa era a reação das pessoas. No dia em que minha mãe morreu me levaram para a casa de um médico. Cada um foi para um lado. Como tinha apenas 7 anos, as coisas ficaram muito vagas na minha cabeça. Nunca fui treinado, por urna questão até de sorte, de família, de dureza na vida, para aceitar essa coisa da carência como urna vantagem. Sempre fomos à luta, nós quatro. Minha avó teve inúmeras filhas e filhos, temos muitos primos da mesma geração e nós quatro fomos os que foram para fora, que se formaram, viajaram para o Exterior. Acho que esse nosso perfil tem um pouco a ver com essa situação familiar especial. A ausência da mãe, substituída pela avó e tias, é uma substituição insuficiente. Mas também não houve trauma, a ponto de se dizer assim: "fulano é um coitado pelo resto da vida, está marcado". Esse contexto me ofereceu muitas opções, me deu perspectiva de ir para o seminário, de querer me dedicar aos outros. Ir para o seminário revela certa renúncia a uma vida própria. Claro que com 11 anos você não tem condição de enxergar isso, mas isso já vai se formando. Na Escola Apostólica dos Jesuítas, em Friburgo, tínhamos urna atividade intelectual muito intensa. Havia muita atividade física e esportiva. Era a estratégia usada com a intenção de ocupar o tempo, cansar o corpo, "baixar a bola". Éramos também estimulados a conhecer música e poesia, a escrever, a compor e até a cantar. Eu participei de coral desde garoto. Aliás, tenho urna gravação, que muitos anos depois foi recuperada e transferida para um CD. Minha voz, de contralto, está lá, fazendo solo, num coral com algumas dezenas de vozes.

REVISTA - Você acha que toda essa experiência no seminário, o estudo, as artes e a atividade física, pode ter contribuído para sua identificação com o trabalho do Sesc?

DANILO - Essa tendência surgira havia tempo. Meu pai tocava violão muito bem e nós cantávamos com ele. Formávamos urna espécie de um grupo. Eu cheguei a me apresentar algumas vezes, cantando em festas da igreja. Tinha uma moça que tocava acordeom e eu cantava com ela músicas de Luiz Gonzaga - músicas meio caipiras. Eu tinha um pouco esse traço ligado às artes. Formei grupos de teatro infantil.

REVISTA - Você concluiu o seminário nos agitados anos 60, não foi?

DANILO - Em 1963, entrei no noviciado jesuíta em Itaici.

REVISTA - O mosteiro onde se reúne a CNBB?

DANILO - Exatamente. Aliás, ajudei a construir aquele prédio, pus tijolo lá. E na época do golpe militar aconteceu um fato muito interessante. Fiz um retiro espiritual, inspirado no retiro espiritual de Santo Inácio de Loyola: durante um mês inteiro se fica em silêncio, não se pode ter contato com o mundo exterior por 30 dias. Lá pelas tantas, num dos intervalos, soube que tinha acontecido o golpe de 64. Alguém me falou: "Estourou a revolução". Eu já tinha uma certa relação com o movimento estudantil como secundarista, lá em Friburgo. Participei da criação do Parlamento Estudantil de Nova Friburgo, época em que fui para a reunião de estudantes secundaristas em Niterói. Conheci um grupo de rapazes mais ou menos da minha idade que posteriormente vieram a formar o grupo MPB-4. 

REVISTA - Eles são de Campos, não são?

DANILO - Um deles é de Campos, os outros são de Niterói, Formavam um grupinho de estudantes que cantavam no Centro Popular de Cultura da UNE em Niterói. Foi um momento importante. A movimentação estudantil, a situação política. Na igreja já se falava do concílio.

REVISTA - E o golpe?

DANILO - Lembro que vieram me contar, com muita felicidade: "Estourou a revolução, Amaury Kruel, Adhemar de Barros, Magalhães Pinto, Carlos Lacerda...”. Mas tive que refutar: "Não foi a revolução que estourou. Estourou a contrarrevolução! Isso não é revolução, é um golpe". Depois voltei para o retiro. Fiquei em ltaici durante dois anos, mais voltado para o recolhimento, para a meditação, para o estudo da história da Igreja, da história da Companhia de Jesus, com muito latim e muito grego. Em ltaici, como é próprio aos jesuítas, são realizadas provações e peregrinações. Sem um tostão no bolso, pede-se comida na rua durante um mês. Fiz também o que era conhecido como "operariado". Além das obrigações de noviço, você trabalha durante um período, na colheita do algodão ou então numa construção. Acordava de madrugada e almoçava no campo, com marmita. Depois de Itaici fui para a Faculdade dos Jesuítas, na via Anhanguera. Ali vivi questões muito interessantes, já vinculadas com ação política mais responsável. Enfim, tive uma formação muito intensa do ponto de vista político, institucional, ideológico, religioso, cultural e artístico. O caráter do conhecimento e da informação sólida era um valor primordial para os Jesuítas.

REVISTA - Você tinha que idade nessa época?

DANILO - Estava com 21, 22 anos. Fui aluno do padre Mendes, hoje Dom Luciano Mendes de Almeida. Fui contemporâneo do padre Henrique de Lima Vaz, sumidade, falecido recentemente. Era uma pessoa fantástica, um pensador excepcional. A Ordem dos Jesuítas era naquele tempo a maior Ordem da Igreja Católica e muito relacionada à questão de cultura e do fortalecimento intelectual, assim tive a possibilidade de conhecer bibliotecas fantásticas. Em 1967, já com 24 anos, decidi sair. Tive algumas razões para isso. Não havia um fato específico, mas decidi que aquela vida não tinha a ver comigo, a minha contribuição estava limitada, eu seria uma pessoa infeliz, eu tinha questões muito sérias a serem entendidas e resolvidas. Procurei um amigo que estudou comigo, leigo, para ver se ele me arrumava um emprego. Ele falou que não podia me arrumar nada, mas me indicou uma agência de empregos chamada Masapa, em São Paulo. Fui à Masapa no final de 67 e eles me empregaram na própria agência, como entrevistador. Paralelamente eu cultivava minha vida política. Tinha muitos amigos, participava de muitas reuniões e era ligado ao Comando Nacional de Estudantes de Filosofia e Teologia. Conheci frei Tito, conheci frei Beto, conheci o Serra, o José Dirceu, Luís Travassos, Catarina Meloni - todo esse povo que circulava pela UNE. Sai do seminário já envolvido com esses movimentos.

REVISTA - Como surgiu o Sesc na sua vida?

DANILO - Eu estava entrevistando um candidato na agência - também um ex-seminarista, e ele comentou que o Sesc estava realizando um concurso de seleção. Eu tinha uma ideia vaga do que era SESI e Sesc. Em Campos, conhecia o Sesi. Os jesuítas mantêm, até hoje, uma casa de férias na praia de Boracéia, que era frequentada por nós seminaristas. Fui até lá duas ou três vezes passar férias. Chegar em Boracéia era uma aventura. Íamos de carro, atravessávamos a balsa no Guarujá e depois a balsa para Bertioga. De Bertioga até Boracéia íamos pela praia.

REVISTA - Não havia a rodovia Rio-Santos...

DANILO - Não tinha nada. Era tudo deserto. Íamos a Boracéia e passávamos pelo Sesc em Bertioga. Era a única coisa que eu conhecia do Sesc. Mas, o rapaz que eu entrevistara me falou sobre um anúncio, desses que saem em sessão de empregos, que dizia mais ou menos o seguinte: "Precisamos de gente com interesse em se relacionar com pessoas, com facilidade de comunicação...” Não exigiam experiência. Eu falei então: "Sou eu!" Participei das provas de seleção e, assim, entrei no Sesc. Tive palestras com Lauro de Oliveira Lima, palestras sobre questões ligadas a comportamento, à atividade social, política, economia, atividade esportiva, cultural e outras. É interessante observar que a formação de seminarista facilitou muito o ingresso de pessoas com o perfil que o Sesc exigia. Aliás, o Sesc tem vários funcionários que foram seminaristas.

REVISTA - Você comentou a situação do Brasil nos anos 60 e como isso mexia com todo mundo. Como você vê a situação social e política do país hoje? Que expectativas você tem em relação ao governo Lula e de que maneira pode-se enfrentar carências sociais tão grandes?

DANILO – Creio que a gente ainda não chegou lá, mas temos avançado com relação ao entendimento da importância de uma visão igualitária do mundo. Tenho compromisso com essa visão, que se formou com a minha trajetória de vida: a ideia de igualdade absoluta entre as pessoas e da necessidade de criar condições para se atingir esse nível de respeito a todos. Percebo que a gente avança pouco a pouco, mas avança.

REVISTA - O povo brasileiro está mais amadurecido politicamente?

DANILO - A sociedade brasileira está mais amadurecida politicamente. Há um patamar cada vez maior de demanda, de exigência nessa direção. Isso eu observo como um fato positivo. Mas ainda falta muito no nosso país e também no mundo: 80% da população nesse planeta têm uma participação muito reduzida no usufruto da riqueza mundial, 80% participam de 20% da riqueza e 20% detém 80% dela. Esse desequilíbrio é grave e temos um caminho vastíssimo pela frente. Avançamos, sim, mas ainda enfrentamos problemas graves. No Brasil, em particular, temos evoluído e politicamente acho que estamos num momento especial, agora que temos, como presidente da República, uma pessoa proveniente da camada popular ou, como diz a senadora Heloísa Helena, um "filho da pobreza". Ter um homem como o Lula na Presidência da República, sinaliza e simboliza a inversão de um processo histórico, o que é um avanço fantástico para uma sociedade como a nossa marcada até então pelo conservadorismo. Estamos no século XXI e em muitos países tal mudançanão tem a menor condição de acontecer. Aqui aconteceu, e isso foi um avanço importante, mas o fato político ainda é isolado diante das dificuldades imensas que temos para que possamos "arrumar" este país. Há uma grande dificuldade na questão da distribuição de renda, há uma dificuldade também significativa na questão do equilíbrio da Previdência Social. Na França, recentemente, depois de tantos anos de discussão, foi fixado o tempo mínimo de 40 anos de trabalho para conquistar o direito à aposentadoria, ou seja, está havendo uma revisão. Se isso é grave lá, imagine aqui! É claro que essa questão gravíssima tem que ser tratada com toda a seriedade. Veja só uma outra questão: normalmente as pessoas dizem que antigamente as escolas eram maravilhosas, que o nível de ensino era muito melhor, que havia uma felicidade grande. Mas quem e quantos usufruíam dessa escola? Podia ser bem melhor que a escola de hoje, mas era para poucos. Melhorar o ensino significa elevar a qualidade, mas também permitir o acesso de todos a essa boa escola. O mesmo ocorre com a previdência, com o direito ao usufruto dos bens culturais e tudo mais.

REVISTA - Democratização?

DANILO - Exatamente. Para mim essa é a questão básica. Democracia não é só direito ao voto. É direito à dignidade. Eu discuto muito sobre isso, quando as pessoas vêm com saudosismos, com uma visão romantizada do passado. "Era um tempo de mil maravilhas", dizem alguns. Mas, maravilhas para quem? Lembra-se da famosa democracia grega? Era democracia para poucos.

REVISTA - Democracia só para os homens.

DANILO - Para os homens e os patrícios - os gregos livres, que eram uma minoria. Ora, vamos parar com isso!

REVISTA - Sua posição pessoal coincide com o direcionamento do Sesc nessa busca por uma democratização de oportunidades?

DANILO - Sem dúvida alguma. Essa é a ideia essencial que mantém uma instituição como o Sesc e também o Senac, o Senai e o SESL Essas entidades foram criadas na perspectiva de uma generosidade profunda, em que o empresariado voluntariamente se propôs e se dispôs a "tirar do bolso" para formar mão-de-obra adequada e favorecer o desenvolvimento das pessoas. Havia a ideia, claro, naquela época, de favorecer a si mesmo, na medida em que se tinha a mão-de-obra adequada e gente feliz para trabalhar, render e produzir. Mas, de qualquer forma, o empresário quis proporcionar a essas pessoas um processo de crescimento, desenvolvimento e melhoria, sem dúvida.

REVISTA - Você falou uma vez que essas entidades de uma maneira geral já nasceram modernas, ou seja, já delineava, naquela época, a consciência de responsabilidade social que hoje está querendo se aplicar à realidade brasileira.

DANILO - Sem dúvida. Além disso, tudo foi concebido numa dimensão estritamente social. Ou seja, não estabelecia qualquer vínculo desse trabalho com ação publicitária ou mercadológica. Ao contrário, fazia e prossegue fazendo isso, através de um fundo constituído anonimamente por todos. É diferente e friso que essa não é uma comparação valorativa, de alguém que hoje vincula um projeto ao nome da empresa e com isso fatura do ponto de vista publicitário.

REVISTA - Fatura duas vezes.

DANILO - Duas vezes, porque é um investimento de caráter publicitário também. Nesse sentido, acaba sendo algo muito mais do interesse da empresa do que do projeto em si mesmo, ao passo que o Sesc e os outros "S" foram criados com a generosa perspectiva da implantação de um fundo único, utilizado sem vínculo com nenhuma empresa, com nenhum nome individual e sim com uma proposta, uma ideia. Nossa identificação é com a proposição institucional, com a metodologia e o modo de agir, que não são ditados pelas contingências ou sazonalidades do mercado, mas por um projeto de transformação social. Este é o objetivo das instituições do chamado "sistema S".

REVISTA - Suas convicções pessoais coincidem com os objetivos do Sesc?

DANILO - Sim. Houve uma forte identificação entre minhas convicções pessoais e a ação do Sesc. Quando eu participo de um evento da Instituição, não o faço apenas por obrigação profissional, mas por prazer e satisfação. É algo que me mobiliza, que me remete àquele início: conhecer, interessar-me pelas coisas, relacionar-me com as pessoas.

REVISTA - Em relação à inquietação a qual você se referiu, quando saiu do seminário, você acha que encontrou o seu caminho?

DANILO - Na realidade, foi uma inquietação restrita a um dado momento. Eu tinha 24 anos e logo em seguida prestei o concurso para ingressar no Sesc. Quais eram as minhas opções quando saí do seminário? Fui convidado pelos padres jesuítas a continuar envolvido com a ação, a lecionar no Colégio São Luís. Eu tinha a opção de me dedicar à carreira
universitária. Já era professor, dava aulas no Instituto de Educação que havia na rua Anhanguera, na Lapa. Tive a possibilidade de enveredar pelo caminho da academia, com um convite da PUC. Tudo isso poderia ter sido muito interessante, mas o caminho da academia não me interessou. No Sesc existe uma completude muito sedutora que reúne e concilia teoria e possibilidades de realização. Isso me fascinou. É a ideia de integrar conhecimento e intervenção prática, desejo e possibilidade de realizar.

REVISTA - E em relação a políticas culturais nos planos municipal, estadual federal, como você as vê você é otimista?

DANILO - Acho que vivemos um momento muito delicado, de revisão completa de significados e paradigmas. Há um processo de mudança e necessidades de afirmar políticas e isso está começando a acontecer também. Existem muitas posições questionáveis, mas sou otimista porque está tudo em discussão.

REVISTA - Já existem mudanças significativas?

DANILO - Não. Mas penso que há uma discussão ampla no governo, especialmente na esfera federal. Há realmente uma discussão e essa discussão diz respeito ao "que fazer", ao "por que fazer”... ao "quem paga a conta". Os elementos em jogo são muito amplos, a discussão está se dando nesse momento. Nesse contexto o Sesc tem muito a contribuir com seu exemplo. Ainda que mantido pela iniciativa privada, tem ação pública na área social e cultural. Essa ação é intrinsecamente balizada por questões como a democratização do acesso às oportunidades ou às ofertas; a questão de dar oportunidade àqueles que não a têm.

REVISTA - E o papel das empresas?

DANILO - O papel das empresas no incentivo à ação cultural pública é muito importante. Mas é preciso distinguir, como já nos referimos anteriormente, ação cultural de interesse público das ações culturais relacionadas ao marketing ou à publicidade. Em políticas públicas, a questão central, essencial, é saber corno dar espaço à produção para que ela venha e flua livremente, isto é, seja autônoma, verdadeira e criativa - três adjetivos que, quando se referem à produção cultural, não devem e não podem ser dissociados.

REVISTA - Políticas públicas não definem realizações e conteúdos, mas permitem a sua fruição?

DANILO - Exatamente. Especialmente porque quando nos referimos à política cultural, não falamos em defesa da arte pela arte e sim num projeto social. Mais urna vez cito o exemplo do Sesc. Somos orientados pelo ideal de transformação, e para isso, a ação cultural é o instrumento magno. Ela contém elementos verdadeiramente transformadores que colocam o indivíduo frente a frente com ideias e realidades diversas, ricas - que são contrastantes ao cotidiano normalizador. Permite a expressão e o encontro dos modos de pensar, sentir e interagir. No Sesc isso gera ações sólidas, duradouras e processuais. O Trabalho Social com Idosos é exemplo disso. Começou em 1963. Nós somos pioneiros não por diletantismo ou por "sacação" de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Somos pioneiros por urna questão institucionais, por urna questão de vocação, de descoberta, de preparo das pessoas que aqui trabalhavam e trabalham e tem preocupação com o desenvolvimento humano. Nossa proposta institucional propicia às pessoas a oportunida e de estudar, de se preparar, de discutir, de ir atrás de seus objetivos. A autonomia da criação interna permite que as pessoas se desenvolvam. Em 63, nosso colega Carlos Malatesta, orientador social, formou o primeiro grupo de idosos da instituição e foi estimulado pela entidade que percebeu a importância dessa ação. Ele, então, levou adiante seu trabalho que se tornou um marco para a história social brasileira. O nome dessa pessoa vai ficar para sempre registrado. Ternos outros exemplos de ação pioneira, que vão desde a restauração de um prédio histórico para utilização como centro de cultura, o Sesc Pompéia, a projetos sociais notórios, corno o projeto Mesa Sesc Brasil, citado pelo atual governo federal corno urna ação exemplar no combate à fome. E isso porque é revestido de um forte caráter educativo e que soma esforços de muitos parceiros. Aliás, corno em tudo mais o que fazemos: a dimensão educativa tem que estar presente.

REVISTA – Educação informal?

DANILO - Sim, educação informal e permanente. Aquela que se dá no processo normal da vida das pessoas, no dia-a-dia e que não perde os vínculos com o prazer, a espontaneidade, o desejo voluntário das pessoas de participar desse processo.

REVISTA - Como você vê a situação do aposentado e do idoso no Brasil?

DANILO - O idoso é um excluído. E não é excluído apenas porque tem aposentadoria precária, ou porque não tem aposentadoria. Trata-se de exclusão social e de exclusão cultural. E isso tem um nome: morte social. Ele não é considerado, não tem futuro. Observe por exemplo, a atuação da maioria das ONG's. Têm dedicação especial à infância ou outras áreas corno meio ambiente. Mas, sintomaticamente, são poucas as que trabalham com idosos. Rememorando minha formação junto aos jesuítas, me parece muito oportuna a frase sempre repetida no seminário: "opportetilla facere et haec non ornittere"; que significa aproximadamente isso: é preciso fazer aquelas.coisas, sem deixar de fazer estas. Deve-se trabalhar tanto com os jovens como com os idosos. O idoso é detentor de informação, de conhecimento, de história, de memória, de emoções, de sentimentos, de realidade, de vida. Mas entram em consideração muitas vezes como o "peso", numa sociedade que quer fortalecer a massa de consumidores, o mercado. Essa visão "economicista" écruel. A perspectiva de mercado orientou no passado projetos educacionais que foram incapazes de gerar transformação social. Enquanto não colocarmos o ser humano corno portador de direitos, deveres e perspectivas de vida digna no centro de todo o processo de planejamento, não terão saída.

REVISTA - E a aposentadoria, a previdência?

DANILO - A aposentadoria é um problema grave que se agrava ainda mais com a questão do desequilíbrio populacional e demográfico. A população está cada vez mais idosa e a população economicamente ativa é proporcionalmente menor. Além disso, há escassez de emprego. Ternos aí um grave problema.

REVISTA - Você é pessimista ou não em relação à reforma da Previdência?

DANILO - Eu acho muito complicado. É difícil ser otimista. Penso que não será urna reforma instantânea, mas que dependerá de um processo. No início será muito tímida, muito lenta, muito demorada. Só irá se efetivar a medida que a consciência das pessoas, de modo geral, e de algumas categorias em especial, aumentar. O foco central das alterações será o "daqui para a frente", e não o que ficou para trás. Com aqueles que já acumularam para trás será necessário fazer urna transição, o que não está muito fácil.

REVISTA – Ninguém quer abrir mão.

DANILO – Isso será impossível. Viver em sociedade exige concessões. O que está em pauta é o bem comum. Alguns terão que ceder para que o bom senso prevaleça.

REVISTA – E a paridade, o salário integral...

DANILO – Temos que distinguir entre o que é direito e o que é privilégio. Ainda que essas instâncias em alguns momentos se confundam, às vezes carregam a herança de um contexto que o Brasil está deixando para trás: o contexto das políticas excludentes, autoritárias e conservadoras. É preciso “descontaminar” dessa herança perversa as idéias de justiça e direito.

REVISTA – E em outros setores?

DANILO – Falta tudo, saúde, educação, lazer... Eu diria que faltam políticas adequadas e faltam reflexões mais abrangentes. Nesse sentido existem iniciativas louváveis, mas que ainda “derrapam” em discussões pontuais, circunstanciais, tratam de questões que não são o problema em si, mas efeitos de uma questão central ainda não percebida. É como tratar de sintomas sem perceber que doenças os estão gerando. De qualquer forma, há um crescente interesse pela questão do idoso. São gerados muitos discursos, intenções, que oscilam do oportunismo à busca de caminhos alternativos. O importante é que o assunto permaneça na pauta e que as contradições sejam expostas. No SESC, nós temos uma grande vantagem: um dos nossos maiores ativos é o fato de juntarmos a prática à teoria, ou seja, temos a ação e refletimos sobre ela. Nós discutimos, nós falamos, nós debatemos, nós informamos... nós estamos fazendo. E isso, lado a lado com os idosos. Para atacar muito incisivamente a questão do idoso, por exemplo, dispomos de uma variedade de metodologias de ação, que migraram, ou estão migrando, de uma posição mais conservadora e assistencialista para uma posição mais participativa, construtiva e avançada.

REVISTA – Você se refere a um trabalho de vanguarda?

DANILO – De vanguarda e de proposição. Por exemplo, quando trabalhamos comum grupo da Terceira Idade fechando, segregando, separando, dividindo, confinando num espaço exclusivo, com ações exclusivas, com modos exclusivos de agir, aceit ando muitas vezes o desejo de alguns quanto a ter sua “vidinha” própria, estamos realizando um trabalho pouco educativo, um trabalho limitado. Então, à medida que partimos para uma ação mais participativa, mais envolvida, que confronte, que exige, que desafie, que não segregue, mas que integre o idoso às demais gerações, por exemplo, dessa forma, sim, temos uma proposta inovadora.

REVISTA – Como é que você vê a questão da integração das gerações? Muitos ressaltam um conflito entre as gerações, enfatizando as diferenças de valores.

DANILO – O conflito de gerações é um fato da vida humana, sempre existiu e sempre existirá. É saudável na medida em que não se transforma em embate. O conflito é a mola propulsora para o diálogo, a troca de idéias, a busca do consenso. Administrar um conflito não é impedir que ele ocorra, mas que ela se reverta em transformação. É interessante reunir a rebeldia natural do jovem, com a maturidade e a experiência do idoso. É normal ao jovem a não-aceitação da autoridade paterna e materna, da autoridade do professor, a tentativa de buscar alguma coisa diferente e alternativa, um comportamento meio fora dos padrões e até marginal. Esse é um processo natural que deve ser administrado. É claro que não se pode permitir aquilo que se mostra anti-social ou perigoso. É o momento de estabelecimento de limites.

REVISTA – O jovem experimenta até onde dá para ir?

DANILO – Exatamente. Nesse momento é desejável que aconteça isso. Seria muito difícil, muito complicado, para um pai, não perceber no filho ou na filha esse momento de transição. Essa turbulência é absolutamente natural. Numa sociedade composta por essas diversas gerações, que entendem e sentem o mundo de forma diferente, certamente será mais saudável a convivência, o conhecimento, a troca. Assim, aprecio o desenvolvimento de um trabalho intergeracional no Sesc.

REVISTA – Como você está vivendo os seus 60 anos de idade, completados recentemente?

DANILO - Eu me sinto na plenitude da vida. Do ponto de vista formal, já estou até meio aposentado, já tenho a previdência oficial, mas estou na absoluta plenitude. Acho que a gente acumula informação, vê melhor, vê de mais alto, vê mais longe e tem condição, assim, de poder entender melhor e ajudar melhor. Enfim, eu nunca tive uma percepção tão positiva das coisas à minha volta como tenho hoje. O envelhecimento aumenta demais a sensibilidade, aumenta demais a capacidade não apenas de perceber, mas de contribuir. Você se sente impelido a contribuir de uma forma muito efetiva e o faz. Eu faço isso no meu trabalho, na minha família, no meu grupo social, em todas as oportunidades que tenho. Nunca enxerguei tanta beleza à minha volta como vejo hoje. Você sabia que os ipês-rosas estão floridos atualmente em toda a cidade de São Paulo? Eu nunca percebi isso, e moro em São Paulo há 40 anos. Quando se presta atenção à natureza, se vê o crescer, o aparecer, o definhar de maneira muito mais clara, isso é uma conquista. O meu olhar sobre essa cidade massacrante, cinza, opressora, nunca foi tão apurado para enxergar a beleza, primeiro dos ipês-rosas, depois dos jacarandás, depois das paineiras, depois dos ipês-amarelos. Eu tenho hoje em São Paulo o ciclo da beleza efetiva da cidade. Essa capacidade de perceber do ponto de vista visual é a mesma capacidade deperceber do ponto de vista imaterial, espiritual, das intenções, dos sentimentos das pessoas. Isso é uma coisa maravilhosa, é um olhar absolutamente novo.

REVISTA – É um momento de maior tolerância?

DANILO – Sem dúvida nenhuma. Você se torna uma pessoa muito mais compreensiva. Percebo que a questão do processo de envelhecimento é um farol para a frente, eu tenho futuro. Para mim, futuro é uma realidade, não estou naquela de que vou viver mais 10 ou 20 anos e, então, vou ficar ancorado no passado. É farol à frente e não lanterna para trás. É claro que tenho um passado, a minha história; não tenho grandes arrependimentos, algumas coisas que podia ter feito de outro jeito, mas não coisas graves. Tenho relação com muita gente, muitos amigos, tenho uma excelente relação familiar. Sou um forasteiro em São Paulo, vim sozinho para cá, sozinho. Saí do seminário e vim batalhar em São Paulo, a cidade mais difícil do país. Vim buscar emprego, entrei para o SESC, construí minha vida aqui. Casei nesta cidade, tenho amigos aqui. Completei 60 anos este ano e recebi uma grande homenagem dos amigos, de minha família. Juntei muita gente amiga e parentes, gente que veio do Brasil inteiro. Foi emocionante para mim, receber essa festa a minha madrinha. Ela tem 84 anos. É uma das irmãs ainda vivas da minha mãe. Madrinha Diná, firme e forte. Foi realmente um fato... comovente. Então, eu acho que o meu olhar sobre o envelhecimento é um olhar muito positivo. Tenho uma casinha na serra, vou para lá, fico perdido, olhando a natureza. Tenho essa relação com o mundo absolutamente diferente, mas também uma perspectiva de contribuição grande, imensa, graças a toda essa trajetória que mencionei. E mais do que isso, essas reflexões todas eu quero partilhar, quero discutir com as pessoas, quero debater, quero estar presente. Por exemplo, o Fórum Cultural Mundial, do qual eu sou responsável, presidente em São Paulo, e que vai acontecer no ano que vem, é uma coisa decorrente da minha ação no SESC e, mais do que isso, é decorrente da minha trajetória de vida. A intenção desse fórum é discutir essas questões: a centralidade, a importância da cultura, a necessidade de políticas culturais adequadas, de buscar modos de fazer adequados, modos de financiar adequados, evoluir adequadamente. O fórum mundial, que é objeto de uma atenção especial de minha parte e de algumas pessoas à minha volta, visa uma vinculação com a cidade de São Paulo, com o Brasil: um olhar sobre o Brasil hoje. Estou com 60 anos e acho que muita gente com 60 ou mais tem muito a contribuir, porque acumularam conhecimento. Mas, o mais importante não é acumulá-lo, é saber trabalhar com esse conhecimento. Honestamente, nunca estive com uma sensação tão plena quanto atualmente. E não digo isso demagogicamente. É uma coisa que vem naturalmente, em decorrência do reconhecimento do nosso trabalho. Considero essa perspectiva do “nosso” alguma coisa muito profunda na minha vida. Desde a origem, aprendi sempre a dizer nós, nosso, o coletivo. Sei que pedaço importante da instituição. Se não fosse eu, provavelmente não seria desse jeito. Seria de outro jeito e tudo bem. Mas o trabalho é nosso, somos nós juntos. Tem a colaboração do empresariado, do nosso presidente Abram Szajman, que abre o caminho, que cria condições. Eu não me sinto melhor do que ninguém que sentou aqui antes de mim, não mesmo. Mas tive mais oportunidades de uma ação muito mais completa e profunda dos que me antecederam. E tenho consciência disso. A humanidade vive um momento de perplexidade, um certo impasse no mundo. Mas eu, particularmente, não me sinto com impasse nenhum. Não tenho dúvida nenhuma sobre o que penso, sobre a minha vida, sobre o que tenho pela frente. Mas percebo que o mundo em geral vive hoje um impasse, que não é somente uma crise de valores. É um impasse sobre o que fazer agora, para onde nós vamos, que tipo de perspectiva.

REVISTA – Há uma falta de modelos?

DANILO – É preciso criar modelos ou perceber o que vem pela frente. No pas passado recente, vivemos uma ditadura militar e cultural, uma hegemonia definida e única. Antigamente havia a bipolaridade que não existe hoje, sobretudo política e militar. Isso é um fato novo. E eu tenho para mim que esse fato cria um impasse: e agora, para onde nós vamos? Estive agora na Bienal de Veneza. Os artistas que percebem as coisas, os profetas do mundo novo, estão perplexos também. Estão perdidos. Estão com propostas, mas que refletem o drama do impasse. Tanto que um dos motes que a gente coloca para discussão no fórum é o famoso poema de Drummond, que é “E agora, José?” Para onde nós vamos? Eu não tenho a perspectiva desse impasse. Honestamente, mantenho uma relação com o entorno razoavelmente equilibrada. Minha família é uma família pequena, minha mulher e duas filhas, uma está em Nova York estudando na melhor universidade de artes. Foi conquista dela. É claro que a gente facilitou, mas foi ela que pesquisou, que prestou concurso e conseguiu viabilizar o fato de estar lá na universidade. A outra está montando a vida dela aqui, trabalhando, batalhando, buscando seu caminho no campo que lhe é específico. É o que temos que fazer. Não me sinto realizado, mas realizando, com muita perspectiva positiva. Acho que deixo um legado positivo e promissor. Não me sinto vaidoso por isso. Não vejo a coisa do ponto de vista material. Esse nunca foi o balizamento da minha vida.