Beleza ameaçada

25/09/2020

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Com imagens espetaculares e pouco conhecidas, Pantanal, livro do fotógrafo João Farkas, revela a um só tempo a vulnerabilidade e a resistência de um dos biomas mais ricos do país

Depois de dez expedições realizadas entre 2014 e 2019, João Farkas reconhece o desafio de retratar um ecossistema que já foi objeto de muitos ensaios fotográficos. “Não valeria a pena fazer um livro com os mesmos aspectos ou com a mesma visão. Trata-se de um olhar autoral com imagens que fogem do simplesmente documental e trazem uma visão pessoal, por vezes idílica, por vezes dramática”, diz o fotógrafo. O resultado pode ser conferido no livro Pantanal, obra que reúne oitenta imagens de um dos biomas mais ricos do país.

Ao mesmo tempo em que instiga mistério e distanciamento, a obra de Farkas remete a um assunto amplamente discutido e em evidência: as constantes ameaças e profundas transformações pelas quais passam o Pantanal por conta do assoreamento de seus rios e da mudança climática. “Na edição de todo o material produzido, eu incluí imagens das consequências destas alterações ao lado de fotos espetaculares e pouco conhecidas de alguns aspectos da região, como a floresta de buritis, as lagoas do Rio Paraguai e a fantástica florada dos ipês”. Ainda segundo o autor, encontrar imagens diferentes e inesperadas do Pantanal era fundamental para que as pessoas dessem atenção ao trabalho, cuja missão subjacente é alertar a sociedade para o processo de degradação ambiental.


Cidade de Paconé – Área de mineração industrial. Foro: João Farkas

Quanto ao aspecto mais humano de Pantanal, Farkas recorre ao retrato – sua especialidade – para estampar a melancolia das pessoas que ali residem e resistem à destruição causada pela exploração irresponsável das áreas produtivas. Esse olhar tristonho é recorrente nas imagens de um povo acometido por dificuldades e isolamento.


Peão pantaneiro. Foto: João Farkas

A obra também revela a existência de heróis locais, como Ruivaldo Nery de Andrade, que, por meio de sua apaixonada luta em defesa do meio ambiente, inspirou o filme Ruivaldo, o homem que salvou a Terra. Com 46 minutos de duração, o documentário conta com direção de Jorge Bodanzky e é codirigido pelo próprio Farkas. Depois de estrear internacionalmente em Bruxelas em setembro de 2019, ter sido apresentado em Corumbá (MS) e na capital paulista, o título participou do evento Manifestos Para Adiar o Fim do Mundo e, mais recentemente, da programação especial dedicada à Semana do Meio Ambiente, que antecipou a nona edição da Mostra Ecofalante de Cinema.

Escolhido para escrever a orelha do livro, o fotógrafo Luciano Candisani, em sua reflexão sobre a profundidade do trabalho de Farkas, afirma que a obra imprime uma tônica fiel ao que o leitor verá em seguida. Por sua vez, o biólogo Sandro Menezes Silva, professor-doutor da Universidade Federal da Grande Dourados e um dos maiores especialistas sobre o Pantanal, presenteia o leitor, no final do livro, com todo o suporte teórico necessário para entendimento da realidade deste paraíso inundado. Bilíngue, a edição conta também com textos em inglês.

Veja também:

:: Terra de encontros | O livro Pantanal foi tema da matéria gráfica na edição de julho da Revista E

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