O BALÉ DO MESTRE DOS SONS | Perfil do músico baiano Letieres Leite

01/09/2022

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OS ITINERÁRIOS GENIAIS DO MÚSICO BAIANO QUE BRILHOU AO REDIMENSIONAR OS RITMOS AFRO-BRASILEIROS 

Leia a edição de setembro/22 da Revista E na íntegra

O multi-instumentista, maestro, compositor, arranjador, produtor e educador Letieres Leite teve um último encontro com os integrantes do Letieres Leite Quinteto apenas quatro dias antes de falecer – em outubro do ano passado, aos 61 anos, em decorrência de complicações da covid-19. A reunião, em um estúdio de Salvador, foi marcada pelas palavras emotivas do artista, e se tornaria uma das mais fortes recordações que o baterista Tito Oliveira tem do mestre, com quem trabalhou por 15 anos. “Nunca vou esquecer que, na ocasião, ele nos falou da importância que a gente tinha na sua vida pessoal e musical”, lembra Oliveira, um dos componentes do grupo junto ao percussionista Luizinho do Jêje, o contrabaixista Ldson Galter e o tecladista Marcelo Galter. As palavras afetuosas que fluíam a cada ensaio somam-se aos gestos de incentivo, ao entusiasmo, bom humor e à dedicação total à música (em todas as suas dimensões) que acompanharam o maestro ao longo de mais de quatro décadas de carreira – uma trajetória considerada genial. O pensamento teórico-pedagógico do compositor é um de seus maiores e mais originais legados.

“O trabalho de Letieres Leite trouxe uma compreensão sobre a música brasileira de valorização das produções baseadas nas matrizes afro-diaspóricas, que ajuda a retirar delas o estigma de periférico, arcaico, tribal, entre outras formas de adjetivação que lhes atribui uma inferiorização em relação a expressões eurocêntricas – às quais são atribuídos valores como cosmopolitismo, inovação, inventividade”, explica o jornalista e pesquisador musical Marcelo Argôlo. Tal valorização é atestada em toda a obra musical de Letieres Leite, seja em sua atuação individual – cujo virtuosismo está presente em incontáveis gravações e apresentações ao lado de nomes como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Lenine, Hermeto Pascoal, Gilberto Gil e Ivete Sangalo – seja à frente da magistral Orkestra Rumpilezz, criada e regida pelo maestro de 2006 a 2021.

“Quando Letieres dizia que toda a música brasileira é afro-brasileira, ele dizia que a contribuição de ancestrais negros e negras é fundamental para a música do nosso país e que precisa ser visibilizada. A afirmação não tem como objetivo disputar um rigor acadêmico, aliás nada que o maestro fez tinha a pretensão de seguir essas diretrizes metodológicas eurocêntricas”, reflete Marcelo Argôlo. O trabalho desenvolvido pelo multi-instrumentista contribuiu, assim, para que diferentes gerações de artistas compreendessem a riqueza do legado da população negra para a música brasileira. “Percebo os ensinamentos de Letieres como saber identificar e estar atento às claves rítmicas, e produzir toda a criação musical a partir desse elemento muito presente em artistas mais novos”, observa o jornalista e pesquisador.

“QUANDO LETIERES DIZIA QUE ‘TODA A MÚSICA BRASILEIRA É AFRO-BRASILEIRA’, ELE DIZIA QUE A CONTRIBUIÇÃO DE ANCESTRAIS NEGROS E NEGRAS É FUNDAMENTAL PARA A MÚSICA DO NOSSO PAÍS E QUE PRECISA SER VISIBILIZADA”

(MARCELO ARGÔLO, JORNALISTA E PESQUISADOR MUSICAL)

Abrindo caminhos

A música não foi a primeira das paixões de Letieres. Criança, durante as brincadeiras com os oito irmãos, afirmava que seria pintor e desenhista. Adolescente, teve aulas de percussão em um projeto de formação de orquestras afro-brasileiras com atuação nas escolas de Salvador, sob regência do mestre Moa do Katendê (1954-2018), homenageado pelo Letieres Leite Quinteto no álbum O Enigma Lexeu (2019), e com quem o artista afirmava ter aprendido a ser disciplinado. Aos 17 anos, Letieres ingressou no curso de artes plásticas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na mesma época, ao obter um certo sucesso tocando – de forma autodidata – instrumentos de sopro, como flauta e saxofone, interessou-se, também, por uma carreira profissional na música. 

Gravadora Rocinante/Divulgação

Em poucos anos, inseriu-se no meio musical soteropolitano, acompanhando artistas locais. A primeira mudança veio em 1981, quando decidiu explorar outros estados brasileiros. Passou a viver em Santa Catarina e, em seguida, no Rio Grande do Sul. Na capital gaúcha, escreveu arranjos para a  Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) e apresentou-se ao lado de músicos renomados, como o instrumentista Renato Borghetti. Cinco anos depois, daria início aos estudos no Franz Schubert Konservatorium, em Viena, onde morou por quase uma década. 

“Mais que um diálogo entre a tradição europeia e a tradição percussiva no mundo atlântico, Letieres buscou colocar a música percussiva numa posição equivalente em termos de referência e importância cultural. Ele conseguiu perceber os complexos padrões que organizam a música popular, cujas bases são as matrizes das religiosidades negras que se desenvolveram nas Américas com a diáspora africana”, avalia a antropóloga, escritora e pesquisadora Goli Guerreiro. Ao identificar tal padrão, Guerreiro destaca que o músico passou a elaborar um método de transmissão de conhecimento que levantava a possibilidade de inserção das músicas negras no universo acadêmico. Universo esse em que “a biblioteca colonial prevalece, pois as escolas de música continuam desconsiderando, ou desconhecendo, a música percussiva que está presente, segundo Letieres apontou, nas músicas populares de todas as Américas”. [Leia mais no boxe Sonoridades ancestrais].

Ritmos e ideias

Na volta a Salvador, Letieres daria vazão à faceta de educador. Lecionou saxofone na UFBA e, na mesma época, fundou a Academia de Música da Bahia, dedicada ao ensino da música afro-baiana. O retorno às origens renderia, ainda, uma parceria musical de 12 anos com a cantora Ivete Sangalo, período em que incorporou elementos do jazz aos trabalhos da conterrânea – como saxofonista, compositor e arranjador. E foi na sede da Academia onde Letieres deu início às profundas pesquisas rítmicas que resultaram na criação da Orkestra Rumpilezz. 

O nome escolhido é uma referência a rum, rumpi e , como são chamados os três atabaques tocados pelos ogãs musicais alabês nas cerimônias do candomblé. Letieres foi o responsável por todo o conceito da orquestra: dos figurinos e cenários aos arranjos e composições. À frente dos mais de 20 músicos, regia o conjunto com seu jeito único: ora segurando caxixis, ora portando agogôs, mas, quase sempre, movendo os braços com suavidade, bailando em movimentos que fluíam soltos, acompanhando a percussão. 

Com a Rumpilezz inovaria, mais uma vez, ao colocar os sopros dispostos em formato de ferradura, atrás da percussão – subvertendo o formato das orquestras tradicionais. “Vestidos com camisa regata, bermuda e sandália, os instrumentistas de sopro criam uma sala de estar na frente do palco, que é ocupada pelos instrumentistas da percussão vestidos em trajes de gala”, detalha Marcelo Argôlo. “Acho que o jornalista Ramiro Zwetsch foi muito feliz quando escreveu que Letieres Leite era ‘o maestro que dança’. Ele não gostava de ser chamado de maestro, porque essa figura central da orquestra, e responsável pelo desempenho musical, é uma construção branca e europeia. Ele preferia ser chamado de compositor, arranjador, instrumentista e regente”, conta Argôlo. E, de fato, “a condução de Letieres não estava na batuta, sua principal forma de comunicação não era a partitura, era a oralidade; e essa disposição de quebrar a construção eurocêntrica também está presente no figurino e na disposição da Rumpilezz”, complementa o pesquisador musical.

Tantos futuros

O legado do maestro segue pulsando, hoje, no Instituto Rumpilezz, formado pela Orkestra Rumpilezz, Letieres Leite Quinteto, Coletivo Rumpilezzinho e o projeto Rumpilezzinho. Esse último, um laboratório de formação musical sobre o qual discorria com entusiasmo. “Letieres era uma explosão de ideias. Ele tinha uma cabeça fervilhante e muitos projetos em mente”, conta a produtora cultural e comercial do Instituto Rumpilezz, Marília Carneiro. 

Ela explica que uma dessas ideias foi a realização da segunda edição do Festival Rumpilezz – Música e Pensamento, idealizado por Letieres com o intuito de jogar luz sobre o legado dos ritmos de matriz africana na própria constituição da música brasileira, apresentando os seus conceitos fundamentais e estruturantes como consequência da diáspora negra. “Ele queria mesmo era provocar, colocar as questões na mesa, dialogar, trazer a música afro-diaspórica para o centro do debate. Ele, no seu universo caótico, de poucas horas de sono e muitas horas de música, se fez marcante para os que contribuíram com ele para a música brasileira, e deixou um legado inquestionável”, destaca a produtora.

Foto: João Atala

A herança de Letieres Leite é inestimável e ainda precisa ser descoberta e analisada a fundo para ser amplamente disseminada. É o que aponta a antropóloga Goli Guerreiro. “Sua ausência física é tão lamentada, pois seu talento de professor anti-hermético é inigualável. Vem talvez de sua leitura ampla da música ocidental somada a seu pertencimento ao berço baiano”, defende Guerreiro. Segundo a pesquisadora, Letieres “atravessou a oralidade dos terreiros e construiu o espaço da produção de conhecimento da escola formal, sem que os fundamentos da música religiosa fossem abandonados”. Para a antropóloga, a ausência de Letieres é “tão recente e tão inesperada que não sabemos bem como fazer para honrar seu legado, como seguir acessando seu conhecimento, que vivia seu auge.” 

(Por Manuela Ferreira)

“MAIS QUE UM DIÁLOGO ENTRE A TRADIÇÃO EUROPEIA E A TRADIÇÃO PERCUSSIVA NO MUNDO ATLÂNTICO, LETIERES BUSCOU COLOCAR A MÚSICA PERCUSSIVA NUMA POSIÇÃO EQUIVALENTE EM TERMOS DE REFERÊNCIA E IMPORTÂNCIA CULTURAL” 

(GOLI GUERREIRO, ANTROPÓLOGA)

Sonoridades ancestrais

UNIVERSO PERCUSSIVO BAIANO, MÉTODO DE ENSINO CRIADO POR LETIERES, SEGUE AMPLIANDO AS BASES DA TEORIA MUSICAL

No Franz Schubert Konservatorium, Letieres Leite reuniu os pilares do seu método Universo Percussivo Baiano (UPB), sistema de ensino prático e teórico de música afro-brasileira estruturado por ele ao retornar ao Brasil, em 1994. Ainda estudante em Viena, sentia o corpo falar mais alto à medida em que avançava nos estudos teóricos. Já ali, seu pensamento pedagógico se manifestava em palmas, batidas das mãos e dos pés, no corpo que não esquecia o ritmo do afoxé que dita o tom dos cortejos do carnaval de rua baiano. 

“A presença do corpo foi a grande transformação, a grande eureca da minha vida”, definiu o próprio artista na aula de abertura do curso Universo Percussivo Baiano (UPB), disponível no canal do Centro de Música do Sesc São Paulo, no Youtube. “Eu sentia uma dificuldade tremenda de educar os alunos europeus. Nascemos com outra rítmica, é claro, que não estava dentro do vocabulário que eles realizavam musicalmente. Foi quando eu tive que procurar uma solução para que eu não ficasse tão frustrado. Sempre que eu fosse executar meus arranjos das músicas, ritmicamente, nunca ficava a contento”, disse o maestro. [Leia mais no boxe Lições singulares]

A necessidade, naquele momento, era de que todos os instrumentos tocados estivessem conectados, em ritmo com o “sotaque” das músicas que ele propunha. “Eram músicas brasileiras de diversas origens – samba carioca, partido alto, frevo, maracatu, samba de crioula, congado, jongo. Todas elas são organizadas pelas mesmas regras: a bossa nova, os sambas contemporâneos da Bahia que ficaram mais conhecidos, como o samba-reggae e o samba-afro. Todas essas músicas são frutos de uma mesma árvore, a matriz africana, com suas raízes seculares, que foram forjadas durante todo esse grande holocausto que foi o período da escravidão no Brasil”, declarou o maestro. 

“Letieres dizia que a linguagem da partitura previu determinadas formatações musicais (de compassos, de divisão rítmica, entre outras) e não previu outras. Entre essas, as que são utilizadas nas músicas da diáspora negra. Por essa razão, ele dizia que não conseguia escrever as composições e arranjos do jeito correto. O que ele fazia, então, eram aproximações, e os músicos precisavam compreender na oralidade e na corporalidade o jeito certo de tocar as músicas da Rumpilezz. Eu interpreto esse movimento como decolonial, porque quebra completamente com uma suposta universalidade da forma eurocêntrica de produção e de transmissão do conhecimento musical, e traz para o centro, para o norte, modelos e metodologias afrocentradas, como são a oralidade e a corporalidade”, expõe Marcelo Argôlo.

O método UPB foi amplamente difundido pelo maestro em workshops e palestras no Brasil e no exterior, ressoando em estudos acadêmicos que perpassam ritmos como o jazz latino-americano, a cumbia cubana e o tango argentino. “Quando descobri o trabalho do maestro fiquei impressionada com a forma como sua proposta, sem deixar de ser jazz, propunha relocalizar a tradição do gênero de outro centro epistêmico, diferente do cânone global do jazz, com base na musicalidade da UPB – composta principalmente pela música dos blocos afro, o samba do Recôncavo (baiano) e a música sacra do candomblé”, descreve a musicóloga e pesquisadora em etnomusicologia Berenice Corti. 

“A conceituação que ele desenvolveu – como exemplo, o uso do termo ‘sagrado’, historicamente associado à música de tradição europeia –, e sua aplicação à arquitetura musical de suas composições, arranjos e apresentação cênica, revela um particular ‘jazz-reflexão musical’, uma espécie de ‘filosofia social em ação’, como diz [o sociólogo] Muniz Sodré. A matriz africana, ou melhor dizendo, as matrizes africanas, são trazidas por Letieres à tona, tanto estética quanto conceitualmente e politicamente”, pontua Berenice Corti.

Toques de ouro

O TRABALHO DO MAESTRO SOB A ÓTICA DOS PARCEIROS DE VIDA, PALCO E ESTÚDIO

“Foram vários os momentos de genialidade que eu presenciei. A aplicação dos conceitos da UPB era incrível, a fluidez do improviso, a explosão de transformar a situação de cabeça para baixo em um segundo e enxergar o que ninguém mais enxergava eram extremamente impressionantes. Tudo isso eu tento trazer para o meu dia a dia. Acima das claves, acima dos modos do Messian que ele gostava, acima dos ritmos e ideias, a generosidade e o respeito ao indivíduo e aos seus caminhos é o que eu mais quero absorver dele.”

JORDI AMORIM 

Diretor musical do Coletivo Rumpilezzinho

“Tocar com Letieres ao longo desses anos foi um período de total imersão e busca de sonoridades. Ele tinha o grupo como via de acesso a ambientes não tão explorados na música instrumental. Suas provocações musicais em torno desse universo nos trouxe um entendimento e amadurecimento muito particular. Sua criatividade, generosidade e alegria sempre contagiaram a todos.” 

LDSON GALTER 

Diretor musical do 

Letieres Leite Quinteto

“A primeira vez que tive a oportunidade de trabalhar com ele foi na gravação do meu segundo álbum, Canção e Silêncio (2014), para o qual ele escreveu quatro arranjos para a orquestra e regeu os músicos em todas as faixas, com cordas e sopros. O meu último álbum lançado, Do meu Coração Nu (2020), também tem arranjos do mestre. Era fascinante a sua didática e carinho, ao nos ensinar e ensaiar os seus arranjos. Um grande mestre griô.”

ZÉ MANOEL 

Cantor e compositor

“Quem me abriu a oportunidade de trabalhar com Letieres foi Márcia Castro. Sugeri que ele fosse o produtor, junto com Lucas Santtana, do álbum Axé (2021), que a gente faria junto. E ele topou. Eu só conhecia o Letieres artista. Mas Axé aconteceu e isso mudou totalmente. Em estúdio, ficamos logo amigos. Letieres não dava uma ideia ‘mais ou menos’, todas eram certeiras: uniam a erudição natural dele com uma linguagem pop que tão bem dominava.  Letieres Leite era todo espetáculo.”

MARCUS PRETO 

Jornalista, produtor musical e diretor de arte

“Ficou evidente para mim, desde o primeiro momento, a exuberância do maestro, a maneira como ele praticava e entendia a música. Isso ficava muito evidente na hora em que os arranjos foram mostrados a mim, com sutilezas e camadas nunca jamais imaginadas. Era um tsunami a maneira como ele fazia com que os músicos tocassem com um tipo de dinâmica e relevo que era muito impactante para qualquer um, não só para mim. Qualquer um que entrasse nesse universo para cantar as canções arranjadas e tocadas pela Rumpilezz, rapaz…tem que ser um bom surfista, porque é um tsunami!”

LENINE 

Cantor e compositor

“Trabalhamos desde os anos 1990, logo que ele retornou da Europa. Foi uma empatia mútua, uma relação que já começou muito respeitosa e foi sendo preenchida com admiração recíproca. Ele sempre mostrou um conhecimento sofisticado de harmonia. Quando o trabalho com a Rumpilezz surge, passamos para uma dimensão muito maior, muito diferente porque mexeria com coisas estruturantes, com coisas importantes demais. Me impactou demais a forma como ele teve o propósito de revelar para o mundo uma sofisticação que estava nessa música que sai dos terreiros de candomblé.” 

JOATAN NASCIMENTO 

Trompetista da Orkestra Rumpilezz

“Sempre tenho em mente os momentos de ansiedade e de nervosismo antes de algum show ou de alguma gravação, algo que ele via que era de muita responsabilidade e, ao mesmo tempo, não era que ele não fosse capaz daquilo; era como se ele fosse um menino, um jovem fazendo aquilo pela primeira vez. Isso aconteceu algumas vezes – em shows com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Lenine. Um dos grandes ensinamentos que levo como aprendizado para minha vida é que ele mostrou que, para o percussionista, tudo é possível. Porque tudo é percussão, tudo é tambor.” 

TIAGO NUNES 

Percussionista da Orkestra Rumpilezz

“Uma coisa muito poderosa que aprendi com o maestro é valorizar cada pessoa como única. Ele fazia isso musicalmente, dizendo que ‘dava para cada um o que cada um podia comer’. Também me lembro de quando disse ao maestro que iria me mudar para São Paulo. Ele respondeu: ‘Menina! você tem que ir para fora, tem que morar fora!’. Ele acreditava muito em mim, me deu oportunidades de fazer vários trabalhos e isso foi muito importante.”

ALANA GABRIELA 

Musicista percussionista do Coletivo Rumpilezzinho

“Encontrar Letieres sempre era marcante porque a gente sabia que daquele papo viria uma conversa inusitada, diferente, fora da caixa. Eu costumava falar que era uma pena que a gente não tivesse dinheiro suficiente para fazer um documentário sobre os bastidores da gravação do meu disco Axé. Não pelo disco em si, mas pelas histórias que partiam dele. Eram sempre muitas histórias! Uma figura muito especial, sempre muito afetiva, sempre muito acolhedora com tudo e com todos. Uma pessoa que nunca vi julgar nada nem ninguém.”

MÁRCIA CASTRO 

Cantora e compositora

Lições singulares

OBRA DE LETIERES LEITE PODE SER ACESSADA EM REGISTROS ÚNICOS

O trabalho musical e teórico-pedagógico do maestro pode ser conferido em registros audiovisuais disponíveis na internet. Um legado que ensina “não só que é possível, como necessário, compreender nossas práticas musicais latino-americanas no marco da história da travessia do Atlântico, do tráfico de escravizados, das assimetrias da indústria cultural e da luta dos povos contra todas as formas de dominação e racismo”, como define a musicóloga Berenice Corti. 

AUDIOVISUAL 

Curso Universo Percussivo Baiano, disponível on demand no canal do Centro de Música do Sesc São Paulo, no Youtube: As aulas, disponíveis em 4 partes, são conduzidas pelo próprio Letieres Leite. O artista faleceu na véspera do dia de estreia do curso, em 27 de outubro de 2021. bit.ly/curso-upb 

Projeto Juntos, porém separados: Nenê & Sizão Machado & Carlos Ezequiel & Letieres Leite: Lançado em 2020, pelo Selo Sesc, o registro apresenta o maestro tocando flauta em sol. Confira um teaser: bit.ly/juntos-separados 

Programa Instrumental Sesc Brasil – Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz: A gravação, realizada ao vivo no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, apresentou a big band em abril de 2013 e segue disponível no SescTV. 

Letieres Leite, Ldson Galter e Marcelo Galter no #EmCasaComSesc: Encontro, gravado em agosto de 2020, reúne o maestro e os músicos Ldson Galter (baixo acústico) e Marcelo Galter (piano), integrantes do Letieres Leite Quinteto. https://www.youtube.com/watch?v=D-oV5_P0eWY

DISCOGRAFIA
Orkestra Rumpilezz – A Saga da Travessia (Selo Sesc, 2016): Álbum vencedor em três categorias no Prêmio da Música Brasileira de 2017: melhor arranjador, melhor álbum instrumental e melhor grupo instrumental. Disponível na página do Selo Sesc: bit.ly/asagadatravessia-selo e no Spotify: spoti.fi/3bSND7S

A EDIÇÃO DE SETEMBRO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Neste mês, a reportagem principal (Palcos por todos os lados – LEIA AQUI) conta como espaços não convencionais, como hospitais, barcos, apartamentos e estações de trem, viram protagonistas de espetáculos criados para serem encenados fora do teatro. Esses trabalhos subvertem a lógica da tradicional caixa cênica, fomentam novas narrativas e borram as fronteiras entre artistas e plateia. Conheça, ainda, os destaques da edição 2022 do Mirada – Festival Ibero-americano de Artes Cênicas, que acontece de 9 a 18 de setembro, em Santos (SP).

Além dessa reportagem, a Revista E de setembro/22 traz outros conteúdos: especialistas da área da saúde e do esporte defendem que a escolha da atividade física mais apropriada para cada pessoa pode ser definida com a ajuda do autoconhecimento; entrevista com a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz que propõe um novo olhar para o passado, incluindo outras narrativas e protagonistas na trajetória recente de nosso país; conheça a trajetória de Letieres Leite, maestro baiano cuja sonoridade ancestral ampliou as bases da música afro-brasileira; a jornalista e cofundadora da Agência Pública Natalia Viana é a convidada do Encontros desta edição e fala sobre os desafios do jornalismo investigativo; conheça projetos arquitetônicos que, com o objetivo de pautar a sociedade e a vida coletiva, refletem os desafios da cidade contemporânea; depoimento da atriz e roteirista Cláudia Abreu, que esteve em cartaz no Sesc 24 de Maio, em julho, com o monólogo Virginia, de sua autoria – sobre a obra da escritora britânica Virginia Woolf; artigos de Fernanda Kaingáng e André de Paiva Toledo refletem sobre conceito, história e questões jurídicas da biopirataria, que consiste na exploração ilegal da biodiversidade e dos saberes tradicionais associados a ela; na seção literária, texto do psicanalista e escritor Caio Garrido sobre os dilemas existenciais de um bebê nascido em maio de 2020; o Almanaque desta edição dá seis dicas de lugares em São Paulo para desconectar da cidade, olhar para dentro de si e relaxar.

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