Sesc SP

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O avesso do avesso do avesso do avesso

Ilustração: Marcos Garuti
Ilustração: Marcos Garuti


Introdução

Viva!
Verbo, substantivo, interjeição. 

Não se revitaliza o que já é vivo.
Se vive.

Viver o Centro é viver a cidade.
Sons.
        Cheiros.
                    Cores. 
                             Nomes.
                                        Cabelos.
                                                    Sabores.
                                                                Línguas.
                                                                            Formas.
                                                                                       Gêneros.
Viver o Centro é viver a diversidade de São Paulo na sua melhor forma.
Revitalizar é colonizar.

Capitulo I

Alguma coisa acontece em meu coração

Há pouco passei a frequentar diariamente o Centro. cheguei vindo da periferia, mais precisamente de Campo Limpo onde até então gerenciava as ações da unidade que fora inaugurada em 2014 e onde tomei contato com uma das mais criativas e efervescentes cenas culturais da cidade. O Sarau do Binho, o Festival Percurso, a Cooperifa do Sérgio Vaz e do Zé Batidão onde se come o melhor escondidinho de SP, o Ferrez, A Noite dos Tambores, A Felizs, A casa de Cultura do MBoi Mirim, e claro os Racionais, com aquele mural fantástico do Kobra na entrada da Fundão.

Pena que poucos conhecem, mesmo os artistas, talvez pela distância, talvez pelo preconceito.

Chego ao Centro regularmente de transporte público, a melhor opção, as vezes pelo 8700 Campo Limpo/Praça Ramos ou pelo Metrô com aquela frase icônica “deixe a esquerda livre”.

Me deparo com outra periferia, agora do mundo. Ou seria a mesma?

Conhecia o Centro de visitas esporádicas, muitas das quais pra gastar uns trocados na Baratos Afins do Calanca, o ícone da resistência da boa música e que completará 40 anos em 2018. Ou para degustar algumas das inúmeras iguarias gastronômicas do Centro, da baixa e da alta gastronomia (ah!! isso mereceria um texto à parte).

É impossível não denotar a diversidade e a intensidade do lugar.

Dizem há anos em revitalizar o Centro.

Mas não percebem que o Centro é exponencialmente vivo.

O Centro é pra ser absorvido em todas suas nuances, suas sutilezas, suas diferenças, sua rudeza, tropeçar em suas mazelas.

Isso é o Centro de São Paulo.

Isso é São Paulo.


Um capitulo à parte

Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços

Basta dar um google. Paulo Mendes da Rocha.

Um dos mais importantes arquitetos contemporâneos.

Assina o prédio do Sesc 24.

Criou um prédio pulsante, com vida e de concreto.

É possível.

Um condomínio ao contrário. Um prédio que não isola mas absorve, convive, agrega. De concreto.

Um prédio que incorpora. No tecniquês um prédio permeável, onde estar dentro é estar fora, sentir a cidade.

Chuva, frio, calor, ruído, vento, aclives e declives. Uma essencial simbiose.

Seus andares abertos. A visão da cidade. Do jardim da piscina vê-se o jardim da cidade.

A convivência, no mesmo plano da galeria. Do reggae, da África, da atualidade e da ancestralidade.

A arquitetura são as pessoas. A cidade são pessoas.

Um prédio que convive e convida.

Uma gota azul no oceano cinza da cidade.

Magistral.
 
 
Capitulo III

E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho

Não há como falar do Centro sem fazer referência à imortal esquina da São João com a Ipiranga, há apenas 2 quarteirões da 24 de Maio. Mas há que se lembrar que a esquina da 24 com a Dom José de Barros é o marco inicial do hip hop em São Paulo. Gravado numa pedra quase escondida sob os transeuntes. Lá estão os nomes de seus protagonistas nos anos 80, encabeçados pelo Nelsão Triunfo, aquele mesmo que ganhou a capa do James Brown na lendária Chic Show do Palmeiras, mas a perdeu na mesma noite. Sobrou o registro em foto.

E impressiona ainda aqueles que não entenderam o Hip Hop e seus grafites, MCs, Bboys e Djs. Bem, mas não há do que se espantar. Já são 100 anos de samba e ninguém entendeu nada.

  
Prólogo.

E quem vende outro sonho feliz de cidade

Abrigado no que foi um antigo prédio de uma das mais icônicas lojas de departamentos de São Paulo, a Mesbla, o Sesc põe na prateleira outros produtos, talvez mais urgentes que aqueles de dantes.

Produtos que dizem sobre a natureza humana.

O conhecimento, de si e dos outros. O respeito. O conviver.

Nas gôndolas a reflexão, o teatro, a literatura, o debate, o encontro.

O corpo, o esporte, a dança, a prática. O Sustentável, o que sustenta.  A alimentação, a dentição, o sorriso.
O ontem, o hoje, o amanhã. Como não entender os tempos? Também estes, bicudos.

A beleza, o estranhamento e o entranhamento. A música, o som e o sentido. Estáticas ou em movimento. A imagem. A mensagem, os infomeios. A verdade e a pós verdade.

Para os mais jovens, para os bem mais jovens e para os mais velhos,  para nós, para elxs, para todos.
Sesc 24 de maio. Bem-vindos.

 

Paulo Casale, formado em Letras, é gerente da nova unidade Sesc 24 de Maio.

 

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