Sem sair da Grande SP, viaje por culturas de vários cantos do mundo

31/08/2023

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Embarque EM cinco cantos da capital paulista e da região metropolitana que remetem a Bolívia, Peru, Israel, França, Ásia, áfrica e Inglaterra

Leia a edição de setembro/23 da Revista E na íntegra

Por Luna D’Alama

A mistura de culturas, origens geográficas, saberes e idiomas dos moradores de São Paulo cria um ambiente favorável à diversidade de experiências e interações. Turistas, imigrantes e refugiados vindos de diferentes partes do planeta contribuem para essa miscelânea de vozes, sotaques e influências. Segundo a Prefeitura da capital paulista, a maior cidade do país reúne mais de 360 mil imigrantes legais, e o ranking é liderado por bolivianos – com quase um terço do total –, seguidos por chineses, haitianos, peruanos e estadunidenses. Entre as pessoas em situação de refúgio, predominam venezuelanos, sírios, afegãos e congoleses. Nesse rico e complexo mosaico cultural, é possível sentir-se um pouco em outros cantos do mundo, da religião à gastronomia, sem precisar pegar um avião. O embarque é doméstico e por terra. Boa viagem!

BOLÍVIA E PERU

LATINOAMÉRICA VIVA – Nome de uma flor que cresce no planalto da Cordilheira dos Andes e que tem as cores da bandeira da Bolívia, a palavra kantuta também batiza, desde 2001, uma feira que acontece aos domingos, na zona norte de São Paulo. Expositores bolivianos (principalmente de La Paz e Cochabamba) e peruanos oferecem, em 40 barracas, diversas opções de gastronomia, artesanato, roupas, acessórios, souvenirs e até cortes de cabelo. Entre as comidas, fazem sucesso o anticucho (coração de boi no espeto), ceviche, peixe na parrilla, pollada (frango assado com batata), saltenhas (empanadas) e sopas. Para beber, o público encontra sucos como o mocochinchi (à base de pêssego) e a chicha morada (de milho roxo), além de cervejas e refrigerantes locais. As crianças podem se divertir em infláveis gigantes e, para movimentar a festa, a Feira Kantuta realiza apresentações folclóricas de músicas e danças típicas. Grupos de morenada, tinku e salay, devidamente trajados, contornam a praça em cortejos. Segundo a vice-presidente da feira, a peruana Cecilia Lumbreras, essa é a primeira diretoria comandada exclusivamente por mulheres. “Queremos humanizar e revitalizar a Kantuta após a pandemia. Lutamos para preservar nossas raízes, costumes e o trabalho feminino”, destaca.

Feira Kantuta. Praça Kantuta, 924, Canindé, São Paulo. Entrada também pela Rua Pedro Vicente, 620 (próximo à estação Armênia do metrô, Linha 1-Azul). Domingos, das 12h às 19h30. Entrada grátis.

No Canindé, zona norte de São Paulo, a Feira Kantuta é espaço para comida e artesanato andinos, além de apresentações de dança e música típicas. Foto: Adriana Vichi.
No Canindé, zona norte de SP, Feira Kantuta é espaço para comida e artesanato andinos, além de danças e músicas típicas. Foto: Adriana Vichi

ISRAEL

MEMÓRIA MILENAR – Inaugurado há dois anos, no espaço onde funcionava uma das sinagogas mais antigas da capital, o Museu Judaico de São Paulo busca preservar as expressões, histórias, memórias, tradições e valores da cultura e da religião judaicas, em diálogo com o contexto brasileiro e com o tempo presente. O local abriga quatro andares expositivos, uma biblioteca com mais de mil títulos e um café que serve pratos típicos. O público pode conferir duas mostras permanentes, A vida judaica e Judeus no Brasil: histórias trançadas; e uma temporária, Marcelo Brodsky: exílios, escombros, resistências. Em cartaz até 5 de novembro, com curadoria do crítico Márcio Seligmann-Silva, esta exposição faz uma retrospectiva da carreira do fotógrafo argentino Marcelo Brodsky, cuja obra tem uma forte carga política. Por meio de fotografias, vídeos e instalações, seus trabalhos tocam em temas sensíveis como memória, resistência e direitos humanos. O Museu Judaico oferece, ainda, visitas guiadas (agendadas ou espontâneas), mediação de leituras, contação de histórias, oficinas, cursos e palestras.

Museu Judaico de São Paulo. Rua Martinho Prado, 128, Bela Vista, São Paulo. Visitas de terça a domingo, das 10h às 19h. Grátis aos sábados.

O Museu Judaico, na Bela Vista, oferece exposições permanentes e temporárias, além de visitas guiadas ao espaço, oficinas, cursos e palestras. Foto: Júlia Thompson.
Museu Judaico, na Bela Vista, oferece exposições permanentes e temporárias, além de visitas guiadas, cursos e palestras. Foto: Júlia Thompson

FRANÇA

JARDINS DE VERSALHES – Adornado por rosas, azaleias, buxos e pinheiros, o Jardim do Parque da Independência, em frente ao Museu do Ipiranga, foi projetado, no início do século 20, pelo paisagista belga Arsène Puttemans (1873-1937), que recebeu a encomenda do primeiro prefeito da cidade de São Paulo, Antônio da Silva Prado (1840-1929). Puttemans se inspirou nos jardins barrocos franceses, como o do Palácio de Versalhes, sede do poder político local até a Revolução de 1789. Inaugurado em 1909, 14 anos após a abertura do museu, esse é o terceiro jardim de grande porte construído na capital, e conta com canteiros geométricos e eixos de vegetação que conduzem ao edifício central. Uma década após sua abertura, o espaço entrou em reforma para as comemorações do centenário da Independência, reabrindo apenas em 1923. Ganhou um espelho d’água, chafarizes e uma escadaria, num projeto do francês Félix Émile Cochet (1881-1916), responsável também pelos jardins do Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro. O Parque da Independência, do qual o jardim faz parte, é tombado desde 1998 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e também pelos órgãos do estado e do município. Em sua fauna, destacam-se espécies de borboletas, mamíferos e aves como pica-paus, gaviões e falcões. Com a reforma do museu para o bicentenário, o jardim ganhou nova vegetação e iluminação de LED.

Jardim do Parque da Independência. Parque da Independência (acesso pela Rua dos Patriotas, 20), Ipiranga, São Paulo. Grátis.

O Jardim do Parque da Independência foi inspirado pelos jardins franceses do século 17, como o que adorna o Palácio de Versalhes, na França. Foto: Adriana Vichi.
Jardim do Parque da Independência foi inspirado em espaços franceses do século 17, como o que adorna o Palácio de Versalhes. Foto: Adriana Vichi

JAPÃO, CHINA, COREIA E PAÍSES AFRICANOS

LIBERDADE A TODOS – Para fãs de animes, mangás e da cultura oriental, o bairro da Liberdade é o lugar mais indicado para se visitar em São Paulo. Quem estiver com fome pode se deliciar em restaurantes de lámen e nas barraquinhas de rua, que aos finais de semana vendem tempurás, yakissobas e outros pratos típicos do continente asiático. A Liberdade abriga, ainda, o Museu da Imigração Japonesa (a qual completou 115 anos em junho), um jardim oriental e lojas de eletrônicos e produtos com temas orientais. Além disso, em julho, foi inaugurado o Sato Cinema, uma sala com mais de 700 lugares e programação voltada ao cinema da Ásia. Para pesquisadores e ativistas dos movimentos negros, também é preciso reconhecer e valorizar as raízes afro-brasileiras da Liberdade, cuja praça, até o século 19, chamava-se Largo da Forca. No entorno, havia um pelourinho para castigo de escravizados, uma cadeia e um cemitério. Foi, inclusive, numa sessão de enforcamento que o povo começou a pedir “liberdade” a um condenado – e depois virou o nome do bairro. “Quem passeia pela feirinha pode não entrar em contato com a história negra desse lugar. A Capela Nossa Senhora dos Aflitos, por exemplo, fica no fundo de um beco e não há sinalização, então os turistas nem se dão conta da existência dela. Devemos conhecer as diferentes narrativas para preservar a memória urbana”, analisa a especialista em turismo Vanessa Correa.

Bairro da Liberdade. Praça da Liberdade e arredores, São Paulo. Acesso pela estação Japão-Liberdade do metrô (Linha 3-Vermelha). Grátis.

O bairro da Liberdade, na região central da capital paulista, convida o visitante a se perder em suas ruas adornadas por referências culturais asiáticas. Foto: Rogério Cassimiro - MTUR.
Bairro da Liberdade convida o visitante a se perder em suas ruas adornadas por referências culturais asiáticas. Foto: Rogério Cassimiro/MTUR

INGLATERRA

BRUMAS DA VILA – Em tupi-guarani, Paranapiacaba significa “lugar de onde se vê o mar”. Isso porque era a partir dos montes dessa região, localizada na Serra do Mar, que os indígenas avistavam o litoral. Esse distrito da cidade de Santo André (SP) foi construído no século 19 para acomodar funcionários da companhia inglesa São Paulo Railway, responsável pela primeira estrada de ferro do estado, que ligava Santos (SP) a Jundiaí (SP), ao longo de 160 quilômetros. De temperatura fria e com uma névoa permanente, o lugar foi considerado ideal para os europeus estabelecerem residência. No alto de uma colina, hoje fica o Museu Castelinho, que no passado serviu de casa ao engenheiro-chefe da empresa. Rodeada por uma área preservada de Mata Atlântica, com trilhas e cachoeiras, Paranapiacaba atrai visitantes de diferentes partes do Brasil e do mundo, e até virou cenário de filmes como A Princesa da Yakuza (2021). É famosa também pela produção de itens à base do cambuci (fruta verde, azeda e com formato de disco voador) e pela realização do Festival de Inverno e de eventos místicos, como a Convenção de Bruxas e Magos. O jeito mais charmoso – e disputado – de chegar a Paranapiacaba é pelo Expresso Turístico da CPTM, que sai nas manhãs de domingo (e em alguns sábados) da Estação da Luz, em São Paulo.

Paranapiacaba. A 60 km da capital paulista, entre o Centro de Santo André (SP) e Cubatão (SP). De carro, pela Rodovia Anchieta, é só seguir até o km 29 (sentido Riacho Grande – SP) e, então, pela SP-148 sentido Ribeirão Pires – SP). Há também transporte de trem e ônibus. Entrada grátis.

É possível chegar a Paranapiacaba pelo Expresso Turístico da CPTM, que sai todos os domingos da Estação da Luz, na cidade de São Paulo. Foto: Carol Godefroid.
É possível chegar a Paranapiacaba pelo Expresso Turístico da CPTM, que sai aos finais de semana da Estação da Luz. Foto: Carol Godefroid

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