Afro Arte: a riqueza cultural africana

26/03/2024

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A habilidade de contar histórias através de suas criações é uma arte que Vanilda de Souza, de 62 anos, de Pereira Barreto (SP), domina com maestria. Com seu trabalho intitulado “Afro Arte”, a artesã constrói uma narrativa visual da história e riqueza cultural africanas, por meio de bonecos confeccionados com materiais recicláveis, despertando um profundo senso de identidade e orgulho em quem os contempla. 

É um orgulho ver que a minha ancestralidade deixou um legado muito forte. Então, eu trabalho para que as pessoas olhem para esses bonecos e sintam vida“, compartilha Vanilda, cuja missão vai além da mera confecção de peças artísticas, estendendo-se à promoção da autoestima e consciência cultural, especialmente entre crianças e jovens negros. 

Ver negros bem-vestidos, iguais a esses bonecos, faz a gente andar de cabeça erguida. Eu só consegui andar assim quando eu comecei a compreender a nossa história, o lado que não contam, e não foi algo fácil“, explica Vanilda, cuja jornada é marcada pela busca da representação positiva da cultura negra. 

Vanilda apresentou parte de seus trabalhos na Feira de Mulheres Artesãs, realizada no dia 23 de março de 2024, na Área de Convivência do Sesc Birigui. A atividade faz parte da ação em rede “Nós: criação, trabalho e cidadania”, do Sesc São Paulo. 

Retrato da riqueza

Para desmistificar estereótipos e ressaltar a riqueza cultural africana, Vanilda criou uma coleção de sete bonecos, chamada de módulo 1. Com papel, jornal, retalhos, pedras e bijuterias descartadas, ela retrata diversos aspectos da vida africana, incluindo o africano, a africana, a mãe com o bebê, a grávida, o sacerdote, o guerreiro e o capoeira. 

Eu não conto a pobreza, mas a riqueza que veio para o Brasil junto com os africanos, a força, a coragem e a ousadia. Eu inverto a história para levantar a autoestima do nosso povo“, destaca Vanilda, cujo trabalho desafia narrativas convencionais, revelando um panorama mais completo e positivo da herança africana. 

Cada boneco é cuidadosamente elaborado para transmitir uma mensagem específica. A mulher negra, por exemplo, é retratada com vestidos bem trabalhados, joias e adornos, simbolizando a elegância e a contribuição cultural das mulheres africanas. 

A grávida traz para a nação brasileira filhos e filhas que compõem a nossa história, que hoje é essa miscigenação. A mamãe e o bebê retratam as crianças brancas amamentadas pelas negras, ou seja, há sangue negro dentro da alma branca”, diz.

O segundo módulo está em fase de criação e abordará a história dos negros já no Brasil. Vanilda espera que suas criações eduquem e inspirem as pessoas desde a infância, preenchendo lacunas deixadas pelo ensino formal.

Eu quero que as pessoas aprendam o lado positivo da nossa cultura desde crianças.
Eu levei 26 anos para me reconhecer negra, porque nada disso aprendi na escola
”. 

Vanilda de Souza

Preservando a tradição 

Além dos bonecos, Vanilda confecciona abayomis, bonecos de pano artesanais feitos apenas com nós, uma técnica tradicional criada pelas africanas nos navios negreiros. Esses bonecos, feitos sem cola ou costura, representam uma forma de resistência e criatividade em meio à adversidade. As mulheres rasgavam suas próprias vestes para fazer os bonecos e dar alegria às crianças.  

Com formação em pedagogia, Vanilda é também compositora (tem trabalho autoral) e intérprete de músicas afro-brasileiras. Atualmente é instrutora de artesanato afro no Departamento de Cultura da Estância Turística de Pereira Barreto, onde desenvolve o projeto “Preta”. 

Módulo 1 é composto por sete bonecos (Foto: Aline Galcino)

Nós 2024 

Realizada pelo Sesc São Paulo, de 16 a 24 de março, a ação em rede Nós: criação, trabalho e cidadania, fomenta a inclusão produtiva, a geração de renda e a compreensão de que o trabalho é um meio de desenvolvimento humano, social, individual e coletivo. Para isso, dá visibilidade a grupos mapeados nas localidades onde a instituição atua.  

O tema desta terceira edição é “Fomento e fortalecimento de redes locais”, com a realização de mostra de pequenos produtores, oficinas, palestras, rodas de conversa e bate-papos. 

Texto e fotos: Aline Galcino

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