ALMANAQUE | Passeie por cinco espaços em SP adornados por azulejos

31/10/2022

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Leia a edição de novembro/22 da Revista E na íntegra

Por Luna D’Alama

Oito séculos antes de os portugueses chegarem ao Brasil, os árabes haviam dominado o território da Península Ibérica e difundido sua cultura. Foi daí que se originou a palavra “azulejo” (al-zulaich), cujo significado vem de “pequenas pedras polidas”. A técnica de esmaltar ladrilhos de cerâmica, no entanto, é milenar, utilizada desde as antigas civilizações da Mesopotâmia, Egito e China. Ao desembarcar na América Latina, a partir do século 16, os azulejos usados na decoração de interiores, com imagens figurativas, padrões geométricos ou histórias religiosas, extravasaram os espaços internos e ganharam painéis em fachadas e halls, adornando construções e servindo também para impermeabilizar as estruturas no clima úmido.

Hoje, em Portugal, essas placas quadradas, finas e brilhantes são reverenciadas no Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, e podem ser vistas nas casas e ruas do país. No Brasil, estão presentes como revestimento de cozinhas e banheiros ou como obras de arte, embelezando paredes e atraindo o olhar para diversas cores e relevos. A seguir, conheça cinco lugares no estado de São Paulo onde diferentes estilos de azulejos podem ser apreciados:

  • 1. AZULEJARIA MODERNA

Em cartaz até 14 de janeiro de 2023, no Sesc Santo André, a exposição Pequenas Pedras Polidas: Azulejaria no Acervo Sesc e Outras Coleções estabelece diálogos entre distintas linguagens propostas por artistas brasileiros, com ênfase na produção contemporânea. A mostra reúne cerca de 50 obras, 28 delas pertencentes ao Acervo Sesc de Arte, com trabalhos de Athos Bulcão, Alfredo Volpi, Flávio de Carvalho, Sandra Cinto, Regina Silveira, Hudinilson Jr. e Cristina Pape, entre outros expoentes que se dedicaram à azulejaria. Segundo o curador Yuri Quevedo, mestre em história da arte e professor da Escola da Cidade, Pequenas Pedras Polidas evoca a diversidade e a pluralidade dessas peças, além de subverter esse que é um dos símbolos da colonização portuguesa.

Saiba mais pelo site ou visite presencialmente no Sesc Santo André (Rua Tamarutaca, 302, Vila Guiomar, Santo André, SP). Visitação: Terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábado, domingo e feriados, das 10h às 18h30. Grátis.

Obra de Sandra Cinto na piscina coberta do Sesc Santo André, pela exposição Pequenas Pedras Polidas. Foto: Evelson de Freitas.
Obra de Sandra Cinto na piscina coberta do Sesc Santo André, onde está em cartaz a exposição Pequenas Pedras Polidas. Foto: Evelson de Freitas
  • 2. FACHADA NEOCLÁSSICA

Quem visita a cidade de Santos, no litoral sul do estado, não pode deixar de conhecer uma de suas mais importantes obras arquitetônicas: a Casa da Frontaria Azulejada. Com fachada revestida por sete mil azulejos em alto-relevo – importados de Portugal –, o sobrado em estilo neoclássico foi construído em 1865 para servir de residência e armazém ao comendador Manoel Joaquim Ferreira Netto (1808-1868). O local foi tombado em 1973 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, desde então, já funcionou como escritório, hotel e até depósito de adubos químicos.

Em 1992, os azulejos foram restaurados ou reproduzidos pelo artista plástico espanhol Luis Martin Sarasá. Há 15 anos, a casa funciona como Espaço Cultural Frontaria Azulejada, onde são realizadas exposições, apresentações musicais e atividades beneficentes.

Conheça pelo site ou visite presencialmente na Rua do Comércio, 92, Centro, Santos (SP). Visitação: Segunda a sexta, das 9h às 17h. Grátis.

Fachada da Cada da Frontaria Azulejada. Foto: Rogério Bomfim_Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos.
Fachada da Casa da Frontaria Azulejada. Foto: Rogério Bomfim/Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos
  • 3. ARTE NA PISCINA

A convite da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), o artista plástico carioca Rubens Gerchman (1942-2008) – ligado à pop art, ao concretismo e ao psicodelismo – concebeu serigrafias para os azulejos da piscina, dos vestiários e do restaurante (antiga choperia) do Sesc Pompeia, em 1977. Para criar uma atmosfera mais popular, Gerchman escolheu motivos da cultura brasileira (folhas de bananeira na cozinha, e estrelas-do-mar e peixes-porquinho na área aquática) para decorar as peças de cerâmica, que foram assentadas de modo livre pelos operários durante a obra, misturando-as com azulejos brancos. Após passarem anos submersos, os desenhos da piscina foram restaurados, assim como todo o espaço, entre 2020 e 2022.

Conheça mais detalhes pelo site ou visite presencialmente na Rua Clélia, 93, Água Branca, São Paulo (SP). Visitação: Terça a sábado, das 10h às 22h. Domingo e feriados, das 10h às 19h. Grátis.

Piscina do Sesc Pompeia adornadas por azulejos assinados pelo artista Rubens Gerchman. Foto: Camila Macedo.
Piscina do Sesc Pompeia adornada por azulejos assinados pelo artista Rubens Gerchman. Foto: Camila Macedo
  • 4. DE PALÁCIO A MUSEU

Erguido em 1878, com mármores, metais e lustres importados, o Palácio dos Azulejos, em Campinas, foi inicialmente a residência da família do comendador Joaquim Ferreira Penteado, mais conhecido como Barão de Itatiba. Com inspiração neoclássica, o solar do prédio, tombado pelo Iphan em 1967, tem azulejos portugueses em sua fachada, uma claraboia com vidros coloridos e um pátio interno construído após uma das reformas. Desde 1996, tornou-se o endereço do Museu da Imagem e do Som (MIS) e, em 2004, foi restaurado e aberto à visitação.

Saiba mais pelo site ou visite presencialmente na Rua Regente Feijó, 859, Centro, Campinas (SP). Visitação: Terça a sexta, das 9h às 17h. Sábado, das 9h às 15h. Grátis.

Museu Imagem e Som de Campinas / Palácio dos Azulejos. Foto: Rogerio Capela.
Palácio dos Azulejos, sede do Museu da Imagem e do Som (MIS) em Campinas. Foto: Rogerio Capela
  • 5. MESTRE DOS PAINÉIS

Um dos maiores nomes da azulejaria brasileira, o carioca Athos Bulcão (1918-2008) trabalhou em parceria com o artista plástico Candido Portinari (1903-1962) e com o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) em obras como o mural da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e painéis de prédios públicos e pontos turísticos espalhados pelo mundo. Sua arte colorida e cheia de formas geométricas decora residências, espaços culturais, institutos, aeroportos, hospitais e escolas.

A assinatura de Bulcão, que deixou a medicina para dedicar-se à pintura, passa também pelo Sambódromo do Rio de Janeiro, por vários locais do Nordeste e, principalmente, por Brasília (na Igreja Nossa Senhora de Fátima, estão os famosos pássaros brancos no painel azul). No exterior, seu legado está presente nas embaixadas do Brasil em Buenos Aires, Cabo Verde, Lagos e Nova Délhi. Já na capital paulista, os azulejos de Athos Bulcão compõem, desde 1988, o restaurante do Memorial da América Latina, ao lado do Pavilhão da Criatividade – podendo ser vistos na saída das exposições.

Confira o site do Memorial da América Latina ou visite presencialmente na Av. Mário de Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo. Visitação: Segunda a domingo, das 10h às 17h (o Pavilhão da Criatividade não abre às segundas). Grátis.

Painel de azulejos de Athos Bulcão no Memorial da América Latina, 1988. Foto: Tuca Reinés.
Painel de azulejos de Athos Bulcão no Memorial da América Latina, onde está desde 1988. Foto: Tuca Reinés

A EDIÇÃO DE NOVEMBRO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Neste mês, discutimos a acessibilidade em museus e espaços expositivos. Para além de uma arquitetura acessível, instituições culturais apostam em recursos táteis, auditivos e visuais para ampliar a fruição e acolher públicos cada vez mais diversos. Conheça as políticas de acessibilidade de espaços como a Pinacoteca, Museu do Ipiranga, Museu do Futebol e unidades do Sesc São Paulo.

Além disso, a Revista E de novembro/22 traz outros conteúdos: uma reportagem que destaca a potência da criação coletiva e processual nas artes cênicas; uma entrevista com Eliseth Leão, que defende que a conexão com a natureza ajuda na manutenção da nossa saúde; um depoimento de Gilberto Gil, que se reiventa aos 80 e compartilha conosco memórias, vivências e inspirações; um passeio por croquis, desenhos de cenografia e fotos de palco que celebram o legado do italiano Gianni Ratto; um perfil de José Saramago (1922-2010), escritor português que faria um século de vida; um encontro com a diretora e dramaturga Joana Craveiro, da companhia portuguesa Teatro do Vestido; um roteiro por 5 espaços no estado de SP adornados por azulejos; um texto inédito da prosadora mineira Cidinha da Silva; e dois artigos que fazem um balanço sobre os 10 anos de criação da Lei de Cotas.

Para ler a versão digital da Revista E e ficar por dentro de outros conteúdos exclusivos, acesse a nossa página no Portal do Sesc ou baixe grátis o app Sesc SP no seu celular! (download disponível para aparelhos Android ou IOS).

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