Quanto vale comer uma fruta colhida no pé?

31/01/2025

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É indiscutível a importância dos estudos que englobam a economia verde. Em todo o planeta, o avanço das pesquisas evidencia os impactos que a humanidade vem causando em larga escala ao meio ambiente. Também são notáveis os esforços de pesquisadores para desenvolver técnicas e tecnologias que reduzam danos ambientais, preservem recursos naturais e teçam uma relação mais justa entre os seres. Já sabemos que uma floresta nativa em pé presta uma série de serviços ecossistêmicos: produção de água e alimentos, sequestro de carbono, regulação do clima etc. 

No entanto, nem mesmo todos os estudos científicos, agendas e tratados internacionais se mostraram capazes de reverter os danos e preservar o que ainda nos resta. Nem mesmo ações como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) ou o ESG (Environmental, Social and Governance) são capazes de mudar o cenário a que estamos submetidos. Enfrentamos o aumento médio da temperatura do planeta, eventos climáticos extremos, escassez de água e de alimentos, sem previsões otimistas sobre o que está por vir.  

Povos indígenas e quilombolas vêm dando esse alerta há muito tempo. Ailton Krenak, Davi Kopenawa, Nego Bispo nos falam sobre as feridas na terra, sobre o peito do céu queimando, sobre trocar desenvolvimento por envolvimento. Em suas cosmovisões, nem a maior fortuna do planeta é capaz de pagar o valor da vida. 

Como educadora, questiono constantemente se a educação ambiental vale a pena.  O que mais nos falta para despertar? Por que a gente não muda? Há seis anos trabalhando em um viveiro de plantas do Sesc Interlagos, observo a reação do público ao se deparar com a exuberância das plantas e dos animais silvestres. Pressa e euforia se transformam em passos calmos e contemplação. Olhos e pescoço já habituados à mesma posição de mirar o celular dão chance a novos movimentos. Pessoas olham para o céu, para o chão, experimentam diferentes cores, cheiros e texturas. Sentem o peito expandir com um suspiro. 

Atender crianças trouxe experiências ainda mais formidáveis. O gramado convida as pequenas perninhas a correr e ganhar logo a imensidão do espaço, ultimamente tão emparedado e verticalizado. Da horta surgem as caretas mais bonitas quando as crianças comem a Azedinha. O pé de ingá atrai a molecada para escalar, sem experiência prévia. O ingazeiro sabe o que faz. 

Por mais que a desesperança dê o ar da graça de vez em quando, hoje não me vejo mais como agente de educação ambiental apenas. Meus colegas e eu somos também facilitadores do reencontro ser humano-natureza.  

Memória, afeto, pertencimento, reconhecimento são algumas das sementes que a gente cultiva sem saber onde, como e quando vão germinar. 

E por mais esforços que a ciência faça para valorar os serviços ambientais, há uma subjetividade na íntima relação daquilo que é a vida e que dificilmente será mensurada, calculada e precificada. Mas que pode ser sentida e cultivada de graça. Nosso trabalho está apenas começando.  

Ana C. Jimenez é geógrafa e atua como agente de Educação Ambiental no Sesc Interlagos. 

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