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Feito por nós, e com muito protagonismo

Foto: Vanessa de Paula
Foto: Vanessa de Paula

Texto: Juliana Viana Barbosa e Vanessa Gonçalves Rodrigues de Paula 

 

Em 2017, a unidade do Sesc Vila Mariana recebeu o desafio de ser a anfitriã do projeto institucional Cá entre Nós, em sua edição do segundo semestre. Tendo como objetivo maior obter o conceito de protagonis- mo, nós da equipe técnica nos debruçamos sobre diferentes aspectos e possibilidades para viabilizar a potencialidade do tema junto aos nossos idosos, especialmente os que formavam a comissão do projeto, os reais responsáveis por criar, estruturar e executar a programação do evento seguindo as orientações das próprias linhas conceituais já estabelecidas.

Durante cerca de cinco meses, buscamos referências e inspiração nos próprios idosos para desenhar todo o processo de mediação e de construção da proposta. A partir de vivências, experimentações e reflexões, o grupo foi conhecendo na prática essa formação para enfim darmos início ao que seria, naquele momento, apenas um embrião do que veio a se tornar o Feito por Nós, tema oficial de nosso encontro em 2017.

O termo protagonista significa “(...) o sujeito que, de maneira ativa, imprime singularidade na construção de sua trajetória, contribuindo com as relações entre os indivíduos e com o meio em que vivem (...)”. Partindo desse pressuposto, a construção do projeto começou com uma atividade de artes manuais, na qual um jogo de memória e afetividade almejava extrair dos idosos sensações e sentimentos que pudessem sinalizar nossas intenções e ações.

Os idosos produziram inúmeros cartazes que faziam referência a como gostariam de ser re- cebidos em determinado lugar, como gostariam que fosse esse lugar e o que adorariam encontrar. A imaginação era o personagem principal, assim como o exercício de alteridade. Se assim sonho em ser recebido, como posso propiciar a melhor experiência ao outro?

Seguindo o eixo temático corpo e movimento (uma das diretrizes que embasam conceitualmente o Trabalho Social com Idosos do Sesc São Paulo), o segundo encontro buscou trazer uma atividade física em que o protagonista das proposições fosse um idoso. Convidamos para atuar junto à comissão como mediador o aluno Newton Augusto Ribeiro, praticante das aulas de Ginástica Multifuncional (GMF) de nossa unidade e participante assíduo da recreação de badminton. Newton ministrou um encontro em que conceituou o badminton, apresentou quais são suas regras e, por fim, supervisionou nossa comissão na prática dessa modalidade.

Já no terceiro encontro, pautado no eixo arte e expressão, os idosos foram desafiados a relembrar quais foram as ações artísticas que mais marcaram suas vidas e o porquê desse impacto ter sido tão intenso. Após esse exercício de memória, todos confeccionaram, com o auxílio da aluna Elena Takako Noguchi, do curso de práticas aquáticas, origamis. O intuito do trabalho foi trazer à tona o conceito de que toda proposição gera um impacto, e que não basta apenas propor, temos que imaginar que nossas ações possuem uma continuidade, uma espécie de legado, que seria inclusive compartilhado com todos os visitantes que viriam para o “nosso” Cá entre Nós. A partir dessa experiência com os origamis foi desenvolvida a ideia da confecção de crachás personalizados, que detalharemos a seguir.

Após todas essas propostas de sensibilização, chegou o momento de reflexão e construção mais factual do que poderíamos fazer enquanto unidade anfitriã. Como o desenrolar do processo foi intenso, com o envolvimento de idosos protagonistas no que cabe à execução das ações, a comissão apresentou a ideia do Feito por Nós. Não apenas a programação seria pensada pelo corpo idoso da comissão, mas também os temas e as próprias oficinas seriam executadas por idosos frequentadores do Vila Mariana. Assim, a comissão partiu em busca de uma curadoria de ações que fossem interessantes, sensíveis e pertinentes aos idosos, e ministrada por nossos frequentadores +60. Atividades que pudessem impactar positivamente, ficando para a memória e gerando um legado de bem-estar e autocuidado.

A pesquisa por “talentos” teve seu início e o cronograma de programações do Cá entre Nós nasceu:

• Abertura: Música do Círculo.

• Apresentação dos resultados da oficina de teatro do Sesc Vila Mariana: Radionovela.

• Apresentação de Taiko.

• Oficina de Furoshiki.

• Oficina de Aquarela.

• Oficina de Badminton.

• Confecção de Bolachinhas de Chocolate.

• Show da banda Doce Veneno.

Todas as atividades foram, como já mencionado, propostas pelos idosos da comissão e sua mediação e execução realizadas pelos idosos frequentadores da unidade. De oficina de culinária, que tinha como proposta trazer a receita de bo- lachinhas (um segredo absoluto, usado apenas para se presentear pessoas muito queridas), até oficinas de aquarela. Tivemos ainda uma apre- sentação de Taiko na qual quem fez a mediação foi nossa querida Elena Tanako, integrante da comissão e também de um tradicional grupo de Taiko, até a apresentação teatral da radionovela, sugestão de Maria Conceição, grande revelação como atriz, já que foi com essa oficina no Sesc Vila Mariana que Conceição iniciou a sua expe- riência nas artes cênicas.

O evento foi composto, ainda, da entrega de cerca de 200 origamis feitos por nossa comissão para receber bem e presentear as outras três uni- dades convidadas (Belenzinho, Interlagos e Santo Amaro). Eles possuíam o formato de coração e eram compostos de três cores diferentes para identificar cada unidade.

Finalizando com o show da banda Doce Veneno, nos despedimos em alto e bom som de uma edição deste encontro institucional que para nós foi muito especial.

Com aquele gosto de Feito por Nós, este relato busca registrar a experiência do quanto potencializar o protagonismo é um caminho para gerarmos felicidade, empoderamento, en- contro, novos objetivos e relações com o outro, com nós mesmos e com o mundo.

Com aquele gosto de presente, pessoal e intransferível, com aquele cheiro de bolo que foi feito para quem amamos, o Cá entre Nós Feito por Nós ficou registrado entre nossas ações do Trabalho Social com Idosos (TSI) como exercício de alteridade e troca de sensações e superações. O que ficou para nós? Idosos empoderados e um projeto permanente de ações para todos os anos de 2018 e 2019.