Mistura do Brasil com o Egito propõe outro olhar para 1922

30/09/2022

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CONHEÇA OBRAS DE DESVAIRAR 22, EXPOSIÇÃO NO SESC PINHEIROS QUE PROPÕE OUTRAS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS CEM ANOS APÓS A SEMANA DE ARTE MODERNA

Por Luna D’Alama

No Dicionário Houaiss, o verbo “desvairar” aparece com múltiplos significados: cair em desvario, iludir, exaltar-se. Esse conceito, que mistura delírio e fúria, também está presente no livro de poemas Pauliceia Desvairada (1922), no qual o escritor Mário de Andrade [Leia o Perfil Homem-Multidão, publicado na Revista E no 306, de abril de 2022] reforçou o espírito da Semana de Arte Moderna. Passados cem anos, o desatino de Mário, que propôs a renovação da arte brasileira, está mais vivo e lúcido do que nunca. É ele que batiza a exposição Desvairar 22, em cartaz no Sesc Pinheiros até 15 de janeiro de 2023.

Ao som da marchinha de carnaval Allah-la Ô (1941), de Antônio Nássara e Haroldo Lobo, o público adentra a mostra, composta por uma miscelânea artística dividida em quatro núcleos: Saudades do Egito, Os Ossos do Mundo, Meios de Transporte e Índios Errantes. Reúnem-se nesses ambientes mais de 270 itens, entre pinturas, esculturas, fotografias, textos, vídeos e músicas, além de um sarcófago egípcio original, com mais de 5 mil anos – vindo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e disposto no centro da exposição.

Segundo o trio de curadores Marta Mestre, Veronica Stigger e Eduardo Sterzi, foram escolhidas duas imagens fundamentais: a primeira é a do Egito mítico e delirante, invocado nas artes como “uma espécie de alegoria do próprio inconsciente do tempo na sua busca por outra origem e outra história”. A segunda imagem é a dos “índios errantes”, que representa membros de povos originários que se rebelaram contra a dominação branca e religiosa. Este último núcleo termina com a canção Um Índio (1977), de Caetano Veloso.

Para quem vem de fora, essa mistura do Brasil com o Egito traz, além do sarcófago, fotos da viagem de Dom Pedro II pelo país do nordeste africano, em 1871, e também da ida de Tarsila do Amaral com o então marido Oswald de Andrade ao berço das pirâmides, em 1926. As referências ainda extravasam o espaço expositivo e chegam ao muro de entrada da unidade, onde o desenho de uma esfinge “cansada”, assinada pela cartunista Laerte, diz: “Decifra-me outra hora”. Por ora, nada de devorar, mas de desvairar-se.

Ê, FARAÓ!

MOSTRA DESVAIRAR 22 TAMBÉM MARCA O CENTENÁRIO DE DESCOBERTA DA TUMBA DO FARAÓ TUTANCÂMON

Aberta à visitação em 27 de agosto, a exposição Desvairar 22 propõe, entre fatos e imaginação, novos olhares e narrativas mais inclusivas e diversas para acontecimentos de repercussão histórica. A mostra integra a ação em rede do Sesc São Paulo Diversos 22 – Projetos, Memórias, Conexões, que marca o centenário da Semana de Arte Moderna e o bicentenário da Independência do Brasil. Foi também em 1922 que ocorreu a primeira transmissão de rádio no país e quando foi descoberta a tumba do faraó Tutancâmon, que reinou no Egito entre 1336 e 1327 a.C.

“Ao serem hierarquizadas, seja pelo recorte temático ou pela alegada importância, histórias que contrariem o status quo são, em geral, omitidas ou têm sua relevância questionada. Por outro lado, é com o distanciamento temporal e com a mobilização inquieta de distintas gerações de vozes silenciadas que outras perspectivas históricas podem confrontar as versões tidas como oficiais. Dessa forma, emergem pessoas e situações fundamentais para o entendimento dos processos que nos conduziram até as condições sociais atuais”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

O público da exposição Desvairar 22 pode ver um sarcófago egípcio original, disposto no centro da exposição, cuja montagem circular tem seis vias a serem percorridas. Foto: Ricardo Ferreira.
O público de “Desvairar 22” pode ver um sarcófago egípcio original, disposto no centro da exposição, cuja montagem circular tem seis vias a serem percorridas. Foto: Ricardo Ferreira.

SERVIÇO
Exposição Desvairar 22
Sesc Pinheiros: Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros, São Paulo.
Visitação: Até 15 de janeiro de 2023. De terça a sábado, das 10h30 às 21h. Domingos e feriados, das 10h30 às 18h. Há recursos de acessibilidade disponíveis, como obras táteis, libras e audiodescrição para cegos, e tablets para surdos. Entrada gratuita.

Confira uma galeria de imagens com o registro de algumas das obras que estão expostas na mostra Desvairar 22, no Sesc Pinheiros:

A EDIÇÃO DE OUTUBRO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Neste mês, celebramos as ações solidárias organizadas pela sociedade civil para o combate à fome no país. Na reportagem “Alimentar a mudança”, divulgamos dados alarmantes sobre o cenário de insegurança alimentar no Brasil e indicamos iniciativas e projetos transformadores para enfrentar essa situação, como o Organicamente Rango, a Gastronomia Periférica e o Experimenta!

Além disso, a Revista E de outubro traz outros destaques: uma reportagem que destaca a força do jazz enquanto música afrodiaspórica, diversa e combativa; uma entrevista sobre música, literatura e sociedade com Adriana Calcanhotto; um depoimento de Cassio Scapin sobre a força da comédia e o despertar dos musicais brasileiros; um passeio visual pelas obras da exposição Desvairar 22, em cartaz no Sesc Pinheiros; um perfil de Dias Gomes (1922-1999), nome primordial da dramaturgia brasileira; um encontro com o coordenador da Agência Lupa Chico Marés, que fala sobre checagem de informações; um roteiro por 6 espaços que propõem atividades artísticas para aguçar a sensibilidade das crianças, em outubro; poemas inéditos do escritor Paulo Scott; e dois artigos que destacam a importância da educação midiática para o combate à desinformação.

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