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Depoimentos
O
coreógrafo norte-americano Steve Paxton fala da ditadura dos corpos
perfeitos na dança e do contato-improvisação, técnica
que ele mesmo criou Steve Paxton é
um dos nomes mais respeitados da dança contemporânea por
ter criado, nos anos 70, a técnica "contato-improvisação"
- cuja idéia principal se apóia numa equação
do toque e do peso dos corpos. Durante sua passagem pelo Brasil, onde
apresentou em janeiro no Sesc Belenzinho o espetáculo Sonho de
Uma Noite de Verão Paxton, o coreógrafo falou à Revista
E sobre a ditadura de corpos esteticamente perfeitos e saudáveis
e bailarinos magérrimos, de partes do corpo que foram esquecidas
pela dança ocidental, além da aplicação de
sua técnica na educação das crianças. Aos
menos íntimos do assunto, num primeiro momento o contato- improvisação
pode parecer algo que não passe do inventado na hora. Nada disso.
"O contato-improvisação tem parâmetros claros.
Por meio dos sentidos, sabemos onde e como estamos no espaço. De
certa maneira, é uma improvisação formal", explica.
Depois de ter vindo algumas vezes ao Brasil, o coreógrafo anda
encantado pelo samba, que conheceu em 2000, numa apresentação
da Vai-Vai. "Percebi que é um ritmo muito saudável
para a pélvis. O treinamento que tive de dança moderna ocidental
me ensinou que essa parte do corpo era uma espécie de âncora,
um lugar fixo, e as pernas se movimentavam a partir dela. No samba, na
capoeira e em toda cultura física brasileira há muita informação
para transformar essas idéias com o que vi", diz. E o que
ele viu? "Braços e coluna bem livres, muita elegância
masculina e movimentos muito inventivos e bonitos, além de um ritmo
muito forte. Há uma improvisação do mestre-sala,
que dança em volta da porta-bandeira, que é muito elegante." Cresci envolvido pela cultura norte-americana de dança moderna. Graças ao efeito do contato que tive com outros modos de mexer o corpo, como as danças balinesas ou as artes marciais japonesa e chinesa, muito rápido percebi que havia várias organizações para o movimento em diferentes culturas. No Japão aprendi muito com o aikido [arte marcial japonesa]. Em Bali [uma das ilhas da Indonésia] pude ver muitas performances, que aconteciam nas casas das vilas locais. Essas performances não eram exatamente para as pessoas verem, eram para os deuses. Isso foi muito refrescante, depois de séculos de performances norte-americanas. No balé clássico e na dança moderna, a escápula [osso que compõe a articulação do ombro, antigamente chamado de omoplata] geralmente é reprimida, ela fica estabilizada e para baixo, os ombros não sobem, como se os braços estivessem presos a uma articulação fixa. Certa vez, vi também um filme sobre dança javanesa e percebi que a escápula era usada expressivamente. Eles pensam na dança muito mais próxima da coluna do que a dança ocidental."
Corpos magníficos? Contato-improvisação
nas escolas
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