Ed. 86 – O Envelhecimento Populacional é um dos Principais Desafios da América Latina e do Caribe

23/01/2024

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Foto de Helen Salomão

Introdução

Este artigo apresenta um breve panorama sobre o envelhecimento populacional da América Latina e do Caribe a partir de uma perspectiva gerontológica. O artigo foi elaborado por várias mãos, mais precisamente por 11 pesquisadores, todos membros da Red Latinoamericana Interdisciplinaria de Psicogerontología (Redip), especialmente da Argentina, do Brasil, de Cuba, do Equador, do México, do Uruguai e da Venezuela. Desigualdades sociais, questões de gênero e cor, migração, políticas públicas, diversidade de velhices, direitos, saúde comunitária, educação, inclusão digital; cuidados ao longo da vida, trabalho, pobreza, isolamento, solidão e violências foram temas frequentes que apareceram como fazendo parte do envelhecimento da região aqui apresentada.

Para começar

Entre as transformações sociais mais importantes ocorridas na América Latina e Caribe desde meados do século passado está o envelhecimento populacional, que coloca desafios sem precedentes nas suas múltiplas manifestações. De acordo com estimativas e projeções populacionais, 88,6 milhões de pessoas com mais de 60 anos viviam na região em 2022, o que representa 13,4% da população total, proporção que chegará a 16,5% em 2030. Da mesma forma, a expectativa de vida para ambos os sexos aumentou de 48,6 anos em 1950 para 75,1 anos em 2019. Apesar do declínio de 2,9 anos em 2021 em comparação com 2019 devido ao impacto da pandemia da doença coronavírus, aguarda-se que a expectativa de vida continue a aumentar no futuro e atinja 77,2 anos em 2030.

Esses números mostram como a região tem experimentado um processo de envelhecimento mais rápido em comparação com outras regiões do mundo. Em 1950, por exemplo, as pessoas com 60 ou mais anos representavam 5,2% da população, um valor muito semelhante ao de África (5,3%). Contudo, desde meados da década de 1960, a proporção de pessoas idosas na América Latina e Caribe começa a aumentar de forma constante e, desde a década de 1970, tem seguido uma tendência muito semelhante à da Ásia. Espera-se que em 2060 a proporção de pessoas com 60 ou mais anos na América Latina e Caribe ultrapasse a da Ásia e da Oceania e esteja mais próxima dos valores correspondentes à América do Norte e à Europa. Em 2100, a proporção de pessoas idosas na região atingirá 38,2%, muito próximo da proporção estima- da para a Europa nesse mesmo ano.

Vale lembrar que o processo de envelhecimento não é homogêneo e a média regional esconde diferenças entre países. Além do mais, há ainda diferenças quanto ao sexo: há predominância feminina. Isto tem consequências diversas na concepção de estratégias e políticas para pro- mover o envelhecimento saudável, o que também envolve diferentes arranjos domiciliares. A maior expectativa de vida ao nascer das mu- lheres é explicada por fatores biológicos, mas também por diferentes comportamentos de saúde relacionados, por exemplo, ao consumo de tabaco e álcool, à alimentação, à frequência de exames médicos (pre- venção) e às comorbidades. Da mesma forma, na região, a mortalidade por causas externas (homicídios, acidentes e suicídios) é maior entre os homens. Assim, a mortalidade das mulheres diminuiu mais rapida- mente do que a dos homens na região.

Deve-se considerar que os ganhos na expectativa de vida na região ocorreram em contextos de desenvolvimento socioeconômico incipiente e de elevados níveis de desigualdade econômica e social, discriminação, abandono familiar, falta de cuidados e de opções de trabalho e acesso adequado a serviços sociais. Apesar disso, os países da região fizeram avanços importantes na legislação para garantir a proteção dos direitos humanos da pessoa idosa. Isso se reflete em duas áreas principais: i) o estabelecimento de legislação nacional que proteja os direitos humanos desta faixa etária; e ii) a assinatura, ratificação ou adesão à Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Maiores, aprovada em 15 de junho de 2015 pelos Estados membros da Organização dos Estados Americanos.

A convenção é o primeiro instrumento regional para promoção, proteção e reconhecimento dos direitos humanos da população idosa, e que cria um sistema integral de cuidado para as pessoas mais velhas. O Brasil foi um dos países que assinaram a convenção, no dia 15 de junho de 2015, mas ainda não a ratificou, e por isso não houve a internalização dos princípios previstos no instrumento jurídico. Dos 35 Estados-membros da OEA, apenas 11 depositaram seus instrumentos de ratificação: Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Colômbia, Equador, El Salvador, México, Peru, Suriname e Uruguai.

A América Latina e o Caribe apresentam grande heterogeneidade nos níveis de proteção social que cada país oferece aos seus habitantes. Estas diferenças têm origem nos contextos demográficos particulares, nos indicadores macroeconômicos, na capacidade de arrecadação de impostos, na despesa pública, nas características dos mercados de trabalho e na capacidade institucional para conceber, financiar, implementar, regular e avaliar os sistemas de proteção social.

Dados de relatórios nacionais sobre a aplicação do Plano Internacional de Ação sobre o Envelhecimento de Madri demonstram que 19 países tinham uma lei especial sobre os direitos das pessoas idosas em 2022, da qual surgiram leis específicas que refletem o compromisso de avançar para a expansão e fortalecimento dos mecanismos de proteção dos direitos humanos das pessoas idosas dentro de cada país. Veremos mais adiante alguns deles. Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela são os países latinoamericanos que contam com uma norma específica de proteção dos direitos das pessoas idosas.

Ampliar a cobertura da proteção social às pessoas idosas na região implica: i) reconhecer a diversidade da velhice, ou seja, considerar as diferentes trajetórias de trabalho atuais e passadas da faixa etária, as desigualdades que permeiam ser idoso entre as mulheres, os povos indígenas, os afrodescendentes, as pessoas com deficiência ou migrantes; ii) proporcionar segurança econômica na velhice; iii) procurar expandir a proteção social ao sector informal; iv) desenvolver ações específicas com vista a garantir a proteção social dos idosos nas zonas rurais; v) desenvolver ações específicas para garantir a proteção social dos idosos que cuidam; e vi) considerar o cuidado como um pilar fundamental dos sistemas de proteção social, como a saúde e as pensões.

Quanto à saúde, as doenças não transmissíveis são a primeira causa de morte entre a população com mais de 55 anos de idade na América Latina e no Caribe, com uma proporção de 87,6% em 2019 (em comparação com apenas 8,2% de mortes por doenças transmissíveis). Identificam-se grandes diferenças entre os países, uma vez que o percentual de mortes causadas por doenças não transmissíveis varia de um mínimo de 79,0% na Guatemala a um máximo de 93,9% na Jamaica. Por outro lado, as mortes por acidentes na população com mais de 55 anos apresentam pouca variabilidade entre os países da região.

Muitas doenças não transmissíveis, embora não causem necessariamente a morte, têm um impacto muito importante na qualidade de vida, que é afetada pelo gênero e pela deficiência. Os dados de 2019 mostram uma maior prevalência destas doenças entre as mulheres do que entre os homens com 55 anos ou mais, especialmente quando se trata de doenças digestivas, distúrbios musculoesqueléticos, neurológicos ou mentais e outras doenças não transmissíveis.

Quanto às doenças transmissíveis: (i) o diabetes mellitus ocupa o primeiro ou segundo lugar em importância como causa de incapacidade em todas as faixas etárias; (ii) a doença de Alzheimer e outras demências ganham maior importância a partir dos 75 anos, tornando-se a segunda causa de incapacidade na população dos 80 aos 84 anos e a principal causa no grupo com 85 ou mais anos; (iii) a osteoartrite é causa de incapacidade que está presente em todas as faixas etárias; (iv) as condições bucais que limitam a capacidade da população de comer e beber estão presentes como a segunda ou terceira causa de incapacidade em todas as faixas etárias; (v) erros de refração não corrigidos, que não permitem focar bem e causam deterioração na visão de perto ou de longe, aparecem como a quarta ou quinta causa de incapacidade após os 65 anos; (vi) as dores nas costas e no pescoço estão entre as cinco principais causas de incapacidade na população entre os 60 e os 74 anos; e (vii) os transtornos depressivos ocupam o quarto lugar entre as causas de incapacidade na população de 60 a 64 anos.

ARGENTINA

Situação atual das políticas públicas

A Argentina está entre os países latino-americanos com a maior taxa de envelhecimento populacional. Segundo projeções do Indec (2013), em 2023, o número de pessoas com 60 anos sobe para 7.581.236, atingindo 16,2% do total.

Atualmente, a expectativa de vida é de 78,7 anos para toda a população, 81,4 anos para as mulheres e 74,9 para os homens (estimativas de 2020). As projeções para 2023 mostram que, na Argentina, as mulheres constituem 57% (4.321.635) da população com 60 anos ou mais. À medida que a idade avança, a diferença percentual por sexo aumenta (INDEC, 2013). Assim, as mulheres constituem 80% daqueles que atingem os 100 anos de idade.

Neste contexto, surgem situações inéditas que exigem análises e políticas. Além da sobrevivência das mulheres, há: aumento de pessoas acima de 75 anos ou mais; aumento de lares unipessoais para pessoas idosas e maior incidência de deficiências e dependências básicas ou instrumentais que exigem o desenvolvimento e a melhoria dos diferentes elos da cadeia progressiva de cuidados, bem como intervenções especializadas e cuidados de longa duração (ARIAS, 2013; INDEC, 2012).

Em 2012 foi realizada pela primeira vez no país uma Pesquisa Nacional sobre Qualidade de Vida de Idosos pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC, 2012), que mostrou que as dependências básicas e instrumentais aumentam significativamente em idosos com idades avançadas. Esta situação reflete a necessidade de atender às demandas de uma população heterogênea de pessoas idosas e a importância de gerar dispositivos, tanto de promoção e prevenção quanto de cuidados de longa duração. Neste sentido, nas últimas décadas foi desenvolvido um conjunto de políticas a favor das pessoas idosas. Em primeiro lugar, cabe destacar a ratificação da Convenção Interamericana para a Proteção dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa e a sua sanção em nível nacional como lei com caráter constitucional.

Da mesma forma, desde os governos nacionais, provinciais e municipais e de organizações como Pami (Instituto Nacional de Serviços Sociais para Aposentados e Pensionistas), Anses, universidades nacionais, entre outros, foram implementadas diversas medidas como a expansão da cobertura da segurança social, incluindo as reformas não contributivas e das donas de casa, cobertura médica completa, subsídio de habitação, cobertura integral de despesas com medicamentos, descontos no pagamento de serviços, ajuda domiciliar, casa protegida, ajuda técnica, voluntariado, universidade para idosos, cursos de pré-reforma, atividades culturais, clubes e centros dia, grupos de apoio, programas que visam à promoção, educação e formação de apoios informais, projetos intergeracionais, programas de inclusão digital, campanhas de educação pública, bom tratamento às pessoas idosas, formação de recursos humanos em Gerontologia e formação de cuidadores domiciliares, entre outros (ARIAS, 2013; ROQUÉ & FAS- SIO, 2007). Muitas destas políticas visam garantir que as pessoas idosas permaneçam no lugar onde vivem e participem ativamente na comunidade. No entanto, como parte do sistema formal de apoio, também podemos incluir as residências de longa permanência que são contempladas como um benefício do Pami, a obra social que reúne a grande maioria das pessoas idosas do país.

As referidas políticas obtiveram avanços importantes a partir de uma abordagem baseada em direitos, mas ainda é necessário continuar trabalhando para aprofundá-las, ampliando seu alcance, bem como desenhar e executar novas linhas que, juntas, possibilitem o pleno acesso a elas, a conquista de melhores condições de vida e de maior bem-estar integral para as pessoas idosas.

Uma jornada de conquistas e desafios exploratórios e prospectivos

A extensão da vida gerou um novo problema social. Deu origem à existência de um número crescente de pessoas longevas que solicitam a inclusão sociocultural na sociedade. Diante disso, parece oportuno avançar na reconstrução coletiva de uma nova cultura do envelhecimento e da velhice em torno da percepção da velhice e de suas repercussões na contemporaneidade.

Na sociedade emergente e desafiadora em que estamos imersos, a educação representa um dos pilares mais oportunos para alcançar a inclusão como cidadãos críticos, capazes de enfrentar um mundo diferente. Um mundo em que novos protagonistas, cenários e vínculos aparecem todos os dias enquanto antigas práticas desaparecem, são reconfiguradas continuamente com novas e/ou mudam de significado.

Estudos e intervenções realizados durante três décadas na Universidade de Santiago del Estero (Unse) fortaleceram uma linha de pesquisa educacional “em” e “com” as pessoas idosas e geraram conhecimentos relevantes e contextualizados sobre a educação ao longo da vida (life long learning). É uma condição inevitável viver numa sociedade dinâmica como a atual e que emerge com desafios inesperados que multiplicam os argumentos que revelam a necessidade de sermos aprendizes ao longo da vida e, portanto, de exercermos o direito à educação em qualquer idade.

Embora a educação de adultos tenha uma longa tradição na Argentina, a conquista da extensão da vida nos leva a repensar as relações entre envelhecimento e educação como um processo construtivo, que visa maximizar as capacidades e habilidades disponíveis (cognitivas, físicas, emocionais e relacionais) de cada pessoa, em todos os momentos da vida. Envolve melhorar a percepção da pessoa idosa sobre o seu próprio processo de envelhecimento, buscando um equilíbrio entre perdas e ganhos, equilíbrio que não é exclusivo deste ciclo vital. Um processo de construção que afeta também o meio social do qual fazemos parte e os contextos em que interagimos.

A educação num território como o da universidade contribui para construir, a par da visão pessoal, outras visões sociais do envelhecimento. Melhorar estas visões e abordagens significa antecipar, com alguma previsão, o tipo de sociedades em que terão de viver aqueles que hoje são jovens ou muito jovens, que não têm consciência de que as suas vidas serão muito mais afetadas pelo fenômeno do envelhecimento do que atualmente.

As universidades são ambientes relevantes e oportunos para a educação e formação das pessoas idosas. Elas sustentam e endossam a construção de novas visões pessoais e socioculturais do mundo nas idades avançadas de suas vidas. Numerosas evidências em todos os campos do conhecimento científico, bem como na literatura, no cinema ou na música, fornecem dados de que a idade, mesmo a mais avançada, pode ser um fator de qualidade criativa. Para isso, é necessário que a educação contribua para uma mudança cultural dos estereótipos e crenças negativas presentes na sociedade. Essa ação pode dar origem a uma construção cognitiva baseada em tarefas e situações de aprendizagem através de processos de interação social de pessoas em contextos específicos, a fim de promover novos conhecimentos, reinterpretações e reorganizações da realidade. É precisamente a longa vida pós-trabalho que oferece uma oportunidade para construir uma perspectiva emancipatória da própria vida: a vivida e a por vir.

O valor e a importância das experiências educativas com pessoas idosas na universidade, como é o caso dos Programas Universitários para Idosos (PUM) na Argentina e, em particular, o Programa Educacional para Idosos (Peam-Unse, 1995-2023) tendem a redefinir a heterogeneidade e a diversidade das velhices, dada pelas variadas condições – sociais, econômicas, de saúde, pessoais, estéticas etc., que leva a projetos vitais singulares sustentados por esses processos de aprendizagem específicos ao longo da vida.

Entre os novos horizontes, vislumbramos: a) ressignificar a educação como a estratégia mais pertinente que temos para o desenvolvimento da curiosidade, da criatividade, de uma mente aberta e livre de preconceitos, para mobilizar nossos recursos cognitivos, emocionais e sociais; b) desaprender algumas atitudes seletivas e excludentes para aprender novas formas de convivência; c) fortalecer as nossas atitudes individuais e coletivas visando a interdependência, reciprocidade, complementaridade e intergeracionalidade; e d) comprometer-se com a solidariedade entre gerações para se tornar uma sociedade que tome consciência de que o que mais necessita é a socialização “com” os outros.

Em suma, temos que nos reinventar em cenários de mudança com flexibilidade de pensamento para construir um novo presente.

BRASIL

Envelhecer reflete as desigualdades, de gênero e de cor da pele

O Brasil passa por um rápido e acelerado processo de envelhecimento populacional. Segundo o Censo Demográfico de 2022, o país chegou a 203,1 milhões de habitantes, sendo que a proporção de idosos aumentou, já que ocorreu diminuição do número de crianças e jovens. Além disto, houve incremento na esperança ou expectativa de vida, atingindo em 2022, 77 anos, devendo aumentar nas próximas déca- das (IBGE, 2022).

Esta maior expectativa de vida é consequência de melhorias nas condições de vida e de trabalho, de avanços previdenciários e na proteção social, do incremento das imunizações e de outros avanços médicos. Entretanto, envelhecer no Brasil, varia significativamente conforme o local de moradia, do gênero, do estrato social e da cor da pele. Estados do Norte e Nordeste do país tem menor expectativa de vida e, mesmo dentro de municípios, há desigualdades, reflexo das inequidades de acesso a serviços públicos, à moradia, à alimentação adequada e à saneamento básico (IBGE, 2017).

A população idosa afrodescendente e indígena apresenta desvantagens cumulativas devido às características do processo sócio histórico brasileiro, que gerou inúmeras desigualdades. Assim, pessoas pretas e pardas tem menor acesso à educação, dificuldades em se manter na escola, mais empregos informais, menor representatividade política e representam a maior porcentagem de pessoas abaixo da linha de pobreza. São ainda as maiores vítimas de homicídios em idades jovens (15 a 29 anos) no país, o que torna o envelhecer um desafio (IBGE, 2019).

No Brasil, entre 1998 e 2019, houve uma tendência à melhoria da qualidade de saúde autorreferida da população de idosos. Porém, estudos demostram que a autopercepção negativa de saúde se correlaciona, ao longo dos anos, com a cor da pele, gênero, renda e escolaridade no país. Assim, ser preto, ser mulher, ter menor renda e baixa escolaridade faz com que a avaliação de saúde seja pior (MREJEN et al., 2023; ANTUNES et al., 2018).

No país o gênero é outra variável importante que impacta no envelhecimento. Apesar de as mulheres viverem mais do que os homens, recebem menores aposentadorias devido às disparidades salariais ao longo da vida, estão mais sujeitas à violência estrutural e simbólica e apresentam mais afecções crônicas devido ao estresse cumulativo de jornadas de trabalho fora e dentro do domicílio, entre outros fatores. Esta situação nada mais é do que reflexo da situação do envelhecimento feminino no mundo (MANSO, LOPES, 2017).

Ser mulher e afrodescendente afeta o processo de envelhecer no país, já que se interseccionam violências estruturais relacionadas ao racismo e ao sexismo com o idadismo ou ageísmo. Este último, relativo à discriminação relacionada à idade, afeta estas mulheres como violência simbólica importante, relacionada à visão do envelhecer como uma fase de incapacidades e enfermidades, no qual a pessoa perde sua autonomia e independência apenas por estar com determinada idade (MANSO et al., 2023; MANSO, GOBBO, 2023). Ou seja, no Brasil, ser mulher ainda se relaciona com a violência de gênero, invisível para a sociedade.

No Brasil, envelhecer é uma experiência complexa que reflete as desigualdades, de gênero e as relacionadas à cor da pele. Continuar a pensar o envelhecer apenas em seus aspectos biológicos não abarca as diversas velhices resultantes de processos sócio-históricos complexos. Entender estas diversidades é um desafio, importante para o governo e para a sociedade, exigindo políticas públicas especificas para garantir dignidade e cidadania para as pessoas que envelhecem no país.

20 anos do Estatuto da Pessoa Idosa

As pessoas idosas brasileiras começaram a ser inseridas na agenda governamental a partir da Constituição Federal, promulgada aos 05 de outubro de 1988, que trouxe disposições de direitos às pessoas idosas. Mas é o Estatuto da Pessoa Idosa – Lei Federal n.o 10.74, de 1o de outubro de 2003 – que acabou de completar 20 anos, que define direitos de várias ordens para a população acima de 60 anos. Nesse período houve muitos avanços, mas precisamos de políticas públicas mais eficientes, que considerem as velhices plurais, as desigualdades sociais, assim como precisamos de atitudes pessoais e coletivas mais inclusivas, protetivas e empáticas com o futuro de todos nós.

Os 20 anos do Estatuto da Pessoa Idosa são um marco histórico para o Brasil, pois garante uma proteção extremamente necessária para pessoas idosas que ainda passam fome, não têm acesso a saneamento básico, são analfabetas (em especial digitais), excluídas de tratamentos em saúde e vítimas de muitas outras ordens de violência. Como assinala Verdi (2023), “ao longo dessas duas décadas, boa parte das pessoas idosas morreu, em condições precárias e sem dignidade alguma, sem conseguir nem mesmo se aposentar, depois de anos de trabalhos, por vezes em situações do que hoje chamam de empreendedorismo, mas que, na realidade, eram decorrentes de atividades esporádicas, sem qualquer proteção legal ou contribuição previdenciária efetiva por- que comer e seguir a vida eram mais importantes. Outras tantas estão passando privações inúmeras e seguem, em uma vida meramente biológica, em alguns cenários, sem qualquer dignidade”.

CUBA

O envelhecimento saudável e a saúde comunitária

O envelhecimento da população cubana é caracterizado pela rapidez do seu processo. Se em 2019, 20,8% dos homens e mulheres cubanos estavam ou passaram da sexta década de vida, no final de 2022 este indicador era de 22,3%, praticamente dois pontos percentuais a mais em apenas três anos, segundo o Escritório Nacional de Estatística e Informação (Onei). Em seu recente relatório The Aging Population; Cuba e seus Territórios (edição de maio de 2023), a Onei aponta que o rápido envelhecimento da sua população é precisamente o principal desafio de Cuba: “Este processo teve como causas fundamentais a velocidade acelerada da sua transição demográfica, a estabilização dos baixos níveis de fecundidade e mortalidade, variáveis que, juntamente com o comportamento das migrações nos últimos anos, provocaram taxas de crescimento quase nulas ou negativas”, assinala o relatório. No final de 2022, o grau de envelhecimento reflete 22,3%, com uma população de 60 anos e mais de 2. 478.087 pessoas. Ou seja, em apenas 20 anos o grau de envelhecimento cresceu 7,7 pontos percentuais, consolidando o país como um dos mais envelhecidos da América Latina. De acordo com a última projeção populacional realizada pela Onei, prevê-se que até 2050 a população idosa atinja 3.343.520 pessoas, o que representaria um grau de envelhecimento de 35,9%. O comportamento deste segmento da população por sexo mostra que os homens crescem em 35.565 para uma taxa média anual de 32,3%, enquanto a população feminina cresce a um ritmo superior em 44.411 com uma taxa de 34,3%.

Segundo o paradigma da Organização Mundial da Saúde (OMS), o envelhecimento saudável é um processo dinâmico, reflete ações que ocorrem ao longo do curso de vida e é influenciado por fatores como as capacidades mentais e físicas, o seu ambiente de desenvolvimento e as relações entre eles que contribuem para o bem-estar. No marco do envelhecimento saudável, foi criada uma estrutura para investigação e ação através da Década do Envelhecimento Saudável das Nações Unidas (2021-2030), bem como para ações que abordem a missão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável “não deixar ninguém para trás”. Os investigadores, os governos e a sociedade civil são instados a desenvolver estratégias ao longo da década para identificar e abordar as desigualdades e promover o envelhecimento saudável. Estas estratégias devem ser preferencialmente multidisciplinares, multissetoriais e de âmbito universal para promover um maior impacto.

No caso cubano, este período, apesar das consequências da pandemia e das graves dificuldades socioeconômicas atuais que tornam complexo o cotidiano das pessoas, especialmente as idosas, o ano de 2022, segundo estatísticas oficiais, fechou com um envelhecimento populacional de 22,3%. O Ministério da Saúde Pública (Minsap) mantém entre as suas principais prioridades o Programa Nacional de Atenção ao Idoso (PNAAM – Programa Nacional de Atención al Adulto Mayor), que, integrado no processo de melhoria da Atenção Primária à Saúde (APS) no país, prevê o resgate de importantes estruturas, como a Equipe Multidisciplinar de Cuidados Gerontológicos (Emag) a nível comunitário.

O poder de reativar após a pandemia o normal funcionamento do PNAAM tem sido a principal conquista; uma vez que este programa inclui três subprogramas: o hospitalar, o institucional e o comunitário. Este último incorpora mais de 95% da população idosa e é o principal elo no acompanhamento da capacidade funcional do idoso; porque na comunidade o Exame Periódico de Saúde (EPS) é realizado nas pessoas idosas, pelo menos uma vez por ano, nos consultórios do médico de família onde, juntamente com a entrevista e o exame físico, é incorporada a escala multidimensional de avaliação funcional geriátrica e escalas relacionadas à capacidade ou não de realizar atividades de vida diária. Os resultados da investigação ativa fornecem à equipe básica de saúde (médico de família e enfermeiro) informação básica nas áreas biomédica, psicológica, social e funcional e é possível identificar o idoso frágil ou necessitado. E se assim for, é avaliado pela Emag, que é composta de médico, psicólogo, assistente social e enfermeiro com formação mínima ao nível de diploma em gerontologia e geriatria comunitária. Essa equipe realiza avaliação multidisciplinar e orienta um plano de ação em prol da recuperação da capacidade funcional e da prevenção de incapacidades. Na triagem ou avaliação multidisciplinar, os processos de cuidado ao idoso dependente são realizados no local em que os cuidadores são treinados: escolas de cuidadores em policlínicas comunitárias. Este regime básico ao nível dos cuidados comunitários aos idosos está integrado multissetorialmente e visa proteger os direitos e dignificar a imagem da pessoa idosa como sujeito de desenvolvimento pessoal e social.

Apesar das dificuldades de recursos, de vários tipos, esta estrutura é sustentada com esforços conjugados, muita iniciativa da equipe assistencial e das próprias pessoas idosas que conseguem ser protagonistas da sua própria história. As ações são combinadas e são realizados esforços para promover a aprendizagem ao longo da vida, os cuidados de saúde de qualidade e a transformação e inclusão digital. Diversas ações de ensino e pesquisa têm sido incorporadas à aprendizagem ao longo da vida sobre o tema envelhecimento saudável na graduação, pós-graduação e formação comunitária nas diversas fases do ciclo vital. Nos cuidados de saúde e no apoio assistencial de qualidade, é proporcionada a abordagem através da EPS às principais necessidades e motivações das pessoas idosas e à sua capacidade funcional para estruturar planos de ação individualizados, integrados e focados na pessoa idosa com a sua participação proativa. E a formação progressiva de equipes multidisciplinares de cuidados gerontológicos contribui para esse objetivo. Na assistência é possível reativar progressivamente as escolas de cuidadores. São realizados cursos de cultura do cuidado apoiados nas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) e publicados na La Cartilla de la Persona Cuidadora (impressa e digital).

Na transformação e inclusão digital, foi desenvolvido um aplicativo móvel apoiado em regras de produção de inteligência artificial e no sistema operacional Android: SharExam.ForAM.EPS versão 1.1 para autoavaliação de funcionalidade e versão 2.1 que inclui testes para avaliar atividades básicas de vida diária e fragilidade; ambos como apoio à pesquisa na APS. Outra contribuição foi o pedido de reativação dos GeroClub no Clube Jovem de Informática e Eletrônica (JCCE) como baluartes destas ações. As alianças entre o JCCE, a organização medi-Cuba-Suíça e o Ministério da Saúde Pública aumentam as forças para alcançar resultados.

Experiência cubana das Cátedras de Idosos

“A educação para a velhice, na velhice e para quem aborda ou cuida da velhice” é uma estratégia poderosa para alcançar mudanças no imaginário social; ação que constitui a gênese de movimentos mais profundos no trabalho social e político para/com as pessoas idosas (OROSA e SÁNCHEZ, 2022, p. 169).

E é nesses movimentos que se insere claramente a visão das pessoas idosas como sujeitos de direitos, antes ignorados dos referenciais tradicionais, assistenciais e involutivos, e com máxima expressão de conquistas quando as pessoas idosas passam a ser chamadas para programas que as atendem do ponto de vista educacional.

Por isso, conhecer e saber gerir direitos tornou-se um dos objetivos fundamentais do programa de educação para e com as pessoas idosas em Cuba, denominado Cátedra da Pessoa Idosa, inicialmente fundado pela Universidade de Havana há 23 anos e, posteriormente, ampliado como extensão, em todos os centros de ensino superior do país (Orosa, 2018). A Cátedra da Pessoa Idosa da Universidade de Havana foi constituída sob a Resolução Reitoral no 73/2000, sendo Centro de Referência Nacional sobre este tema. Foi fundada precisamente em 14 de fevereiro de 2000, com sede na Faculdade de Psicologia sob o copatrocínio da Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC) e da Associação de Pedagogos de Cuba (APC). Constitui um grupo multidisciplinar com missões de investigação, aconselhamento de projetos e formação gerontológica, bem como desenvolvimento e gestão do programa de aulas ou também denominadas universidades abertas. Desde a sua criação, demonstra seu impacto na melhoria da qualidade de vida de seus alunos, entendendo a educação como fator de prevenção à saúde e de empoderamento social.

O programa nacional conta com salas de aula urbanas e rurais, e funcionam em campi universitários, em casas culturais, museus lo- cais, áreas de saúde, cooperativas agrícolas e em escolas, entre outros locais comunitários. Foram várias as lições aprendidas, mas sem dúvida a primeira delas é a demonstração da educabilidade das pessoas idosas e a marca da educação como a melhor ferramenta que permite a inclusão social, a segurança e o empoderamento. Na experiência educativa da Universidade de Havana, 19.339 pessoas idosas se beneficiaram do chamado curso básico com duração de um ano letivo, do qual são transferidos para diversos cursos que dão continuidade ao seu processo de aprendizagem ao longo da vida.

Através da educação, se contribui para o desmantelamento da representação social da velhice ainda como etapa final da vida e ausente de projetos, em função de uma nova cultura gerontológica, assessorando o trabalho dos meios de comunicação. Pesquisas realizadas sobre os impactos do programa demonstram a melhora na percepção de qualidade de vida dos alunos. Por outro lado, o programa universitário com pessoas idosas em Cuba permitiu a inserção do tema gerontológico em todas as funções substantivas do Ensino Superior cubano.

Durante a pandemia, e mesmo sem aulas presenciais, a cátedra teve um papel importante na promoção da proteção da autonomia, e de- senvolveu estratégias de cuidado e apoio a milhares de pessoas idosas através do projeto Psicogrupos de WhatsApp e outras alternativas para o seu Observatório Psicogerontológico, entregue à liderança do país. O programa tem assento permanente na Comissão Governamental de Atenção à Dinâmica Demográfica.

Ações que mostram um cenário positivo em que ainda temos muito a fazer para alcançar um envelhecimento saudável. Se todos contribuirmos e nos integrarmos, partilhando esforços e experiências daquilo que nos corresponde, conseguiremos aproximar-nos deste objetivo na década do envelhecimento saudável.

EQUADOR

Idosos no Equador. Alguns desafios

O envelhecimento populacional é um dos fenômenos globais mais impactantes do nosso tempo e o Equador não é estranho a esta realidade, estando entre os países em transição demográfica. Nas últimas décadas, a taxa de crescimento populacional do país diminuiu, segundo o Instituto Equatoriano de Estatística e Censo (Inec, 2012) entre os censos de 1950 a 1962 o crescimento foi de 2,96%, enquanto entre os anos de 2001 e 2010, o crescimento foi de 1,95%. No país, o crescimento populacional tem sido contínuo ao longo das décadas, passando de aproximadamente 3 milhões em 1950 para mais de 17 milhões de habitantes em 2020, porém, a partir de 2010, ocorreu uma nova composição etária, marcada pelo aumento significativo da população com mais de 65 anos (FORTTES, 2020).

Esta transição demográfica anuncia que até 2030 o Equador apresentará um baixo limiar de substituição, ou seja, a partir desse momento, os novos nascimentos não serão suficientes para substituir a população atual e aos poucos o processo de envelhecimento fará com que a população comece a diminuir, reduzindo seu tamanho (VILLACÍS e CARRILLO, 2012). No entanto, quanto maior for a proporção de idosos numa população, maiores serão as necessidades e exigências, fazendo com que as pessoas idosas no Equador enfrentem vários desafios que afetam a sua qualidade de vida e bem-estar, incluindo:

Cuidado de saúde – em relação à saúde em geral, sabe-se que os homens assinalam que a sua saúde é boa em maior proporção do que as mulheres, e o mau estado de saúde é maior nos adultos com mais de 75 anos (WATERS, FREIRE e ORTEGA, 2020). No que diz respeito à saúde mental, o estudo de Erazo e Fors (2018) constatou que a prevalência de depressão nesta faixa etária foi de 55,0%, com predomínio em homens, em pessoas divorciadas, nos residentes em zonas rurais, nas pessoas com ensino secundário, nas pessoas com diagnóstico de doença de Parkinson e nas pessoas hospitalizadas. Ou seja, quanto maior o risco social, maior a prevalência de depressão nos idosos. Identifica-se a necessidade de se desenvolver programas de intervenção para a prevenção de patologias e cuidados de saúde mental que estimulem a participação da população idosa na comunidade, reforcem os laços intergeracionais, que permitam às pessoas idosas sentirem-se ativas e integradas na família e na comunidade, mas considerando principalmente a heterogeneidade que existe neste grupo populacional.

Superar a pobreza e respeitar os seus direitos – pela Constituição do Equador, as pessoas idosas são um grupo de atenção prioritária, e com base nesta concepção foram estabelecidos alguns benefícios, como isenção ou restituição do pagamento do imposto de renda, pagamento de taxas reduzidas em shows públicos, transporte e acesso preferencial a diversos serviços de saúde, embora alguns tenham segurança social ou acesso a uma pensão de reforma. São muito poucos os que têm plano de saúde privado, e a maior percentagem desta faixa etária não tem acesso a estes serviços e benefícios (Conselho Nacional para a Igualdade Intergeracional, s/f). De acordo com dados da pesquisa Sabe no Equador, as pessoas idosas vivem em diversas condições socioeconômicas, mas uma porcentagem significativa delas vive em condições desfavoráveis: uma em cada quatro pessoas idosas vive em condições boas ou muito boas, quatro em cada dez em condições regulares, e mais de três em cada dez em condições de pobreza ou indigência (FREIRE, 2010). Neste aspecto, é fundamental o papel do Estado, que tem a obrigação de gerar políticas que diminuam o fosso econômico e respondam às necessidades apresentadas pelas pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza nas diversas áreas e, desta forma, conseguirem o que estabelece a Constituição do país.

Integração versus isolamento social – para Valdivieso et al. (2020), os equatorianos têm uma percepção mais favorável das pessoas de 70 anos do que os demais países da América Latina e Caribe, já que 83% da população as vê com respeito, 73% as consideram amigáveis e apenas 19% as identificam como um fardo. No entanto, é comum que, quando as pessoas idosas completam o seu ciclo de trabalho e não podem contribuir financeiramente no lar, fiquem isoladas do resto da família e da sociedade em geral, porque nenhum dos filhos quer cuidar deles em regime estável, promovendo residências temporárias com cada um deles, o que os faz se sentirem um fardo. Por outro lado, encontramos um percentual significativo de pessoas que vivem sozinhas, principalmente os mais idosos, dando origem a sentimentos de solidão. É importante que o Estado estabeleça programas de inclusão com enfoque intergeracional e de gênero. Por outro lado, é importante que os laços afetivos sejam fortalecidos nos ambientes familiares, uma vez que a família constitui a rede de apoio social mais valorizada pelas pessoas idosas.

Para concluir, o Equador é um país em plena transição demográfica onde as pessoas idosas enfrentam vários desafios para alcançar a plena vivência dos seus direitos e navegar na velhice com qualidade de vida e bem-estar.

MÉXICO

Situação atual do envelhecimento e perspectivas futuras

Um fato inédito na história da humanidade, que poderíamos qualificar como uma conquista enquanto espécie humana, é o aumento da expectativa de vida, especialmente desde a segunda metade do século passado. Hoje é possível observar, cada vez mais, casos de convivência entre 4 a 5 gerações na mesma família. Um dos efeitos do México, como país em desenvolvimento submetido às estratégias macroeconômicas do neoliberalismo, foi o aumento da expectativa de vida ao nascer e a expansão da cobertura de saúde, o que possibilitou a redução tanto da taxa de mortalidade como da taxa de natalidade. A consequência populacional foi clara: mais pessoas atingiram idades mais avançadas com mais de seis décadas de vida. Assim, a expectativa de vida no México passou de 36,2 anos em 1930 para 87 e 81,8 anos para mulheres e homens, respectivamente, em 2023 (ACOSTA, 2023). O México é considerado outro país envelhecido na América Latina. Este fato demográfico coloca em discussão diversas questões prioritárias para refletir e a partir delas criar ações estratégicas.

As pessoas idosas são definidas no México a partir dos 60 anos de idade, representando cerca de 18 milhões de pessoas atualmente, que convivem com os problemas históricos que parecem ter piorado após a pandemia, como saúde, educação, violência, concentração de poder, pobreza e desigualdade, além dos problemas que podem agravar-se na velhice: doenças, dependência, pobreza, solidão, isolamento, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, falta de proteção social, falta de oportunidades de trabalho, aumento da desigualdade contra as mulheres que ocorre não só devido a questões de gênero, mas também devido a uma maior expectativa de vida.

Hoje sabemos que a velhice é a fase que mais dura de todas aquelas que compõem o ciclo de vida humano. A boa notícia é que também sabemos que a partir dos 60 anos as estatísticas nos mostram que temos uma margem de 20 anos para podermos viver com níveis de saúde satisfatórios que nos permitam alcançar uma vida plena e poder consolidar um projeto de vida. Então teremos que assumir a obrigação de gerar as condições que nos permitam alcançar um processo de envelhecimento saudável e bem-sucedido.

Um papel relevante, mas ao mesmo tempo esquecido, é o de cuidadores. As pessoas idosas dependentes representam 14% do total de idosos dependentes (segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento- BID). Traduzido em números, isso representa que no país temos cerca de 2.520.000 idosos dependentes, representando um problema significativo para muitas famílias mexicanas. Isso implica a necessidade de estarmos atentos a quem dedica boa parte da sua vida ao cuidado de uma pessoa idosa dependente. Alguns dos problemas mais relevantes que enfrentamos hoje no México e suas possíveis soluções são:

Problema 1 – idadismo, que é a discriminação social baseada na idade, uma situação que afeta muitas pessoas idosas e que anda de mãos dadas com o termo velhice, que implica um conjunto de preconceitos, estereótipos e discriminações em relação às pessoas mais velhas, exclusivamente em função da idade. Esta é a forma de discriminação que afeta o maior número de pessoas. Soluções: a) realização de diversas ações em prol da educação e promoção de uma imagem atualizada, variada e positiva das pessoas idosas, enfatizando atividades que conduzam ao seu direito a viver um envelhecimento saudável e bem-sucedido; b) as pessoas idosas não estão incluídas no mercado de trabalho, portanto deve-se promover legislação que defenda e garanta os direitos laborais dos idosos; e c) é fundamental introduzir o tema da “nova longevidade” em todos os níveis educativos para que deixemos de ver a velhice como uma fase negativa e, sim, a consolidemos como uma aspiração.

Problema 2 – não existem programas de prevenção atualizados e suficientes para promover uma vida saudável. Soluções: a) É necessária a alocação de recursos humanos capacitados e recursos financeiros suficientes para estabelecer programas destinados a promover estilos de vida saudáveis através de atividade física, cognitivas, períodos de descanso suficientes, orientação nutricional e geração de redes de apoio social.

Problema 3 – acesso aos serviços de saúde para todos. Na prática, e como diz Gutierrez Robledo, “todos gastamos mais recursos no último ano de nossas vidas, independentemente da idade no momento da morte”. Acredita-se que o cuidado à pessoa idosa custa necessariamente mais caro, mas o direito à saúde não exclui ninguém pela idade. É fato que a discriminação etária prevalece no acesso aos serviços de saúde públicos e privados. Não se pode tolerar que as companhias de seguros neguem serviços porque as pessoas vivem mais tempo. Recordemos que cerca de 80% das pessoas não sofrem de nenhuma deficiência, ou seja, são cerca de 20% que correm um risco elevado de ter uma deficiência e com ela algum grau de dependência. A gestão preventiva é, portanto, importante em pessoas frágeis através de cuidado integral que permita diferir a condição de dependência. Soluções: a) Colocar em funcionamento no Sistema de Saúde a estratégia de cuidados integrados estabelecida pela OMS a partir do nível de cuidados primários. A ideia é dar prioridade às pessoas idosas mais pobres, adaptando e aproximando os serviços às suas condições de vida; b) a formação de equipes interdisciplinares de atenção gerontológica é importante para garantir melhores serviços de atenção. Para isso, é relevante introduzir temas gerontológicos no currículo de todas as profissões da saúde. A coordenação dos três níveis de Governo será também relevante para conceber, estruturar e operacionalizar um plano de saúde que inclua as pessoas idosas.

Problema 4 – violência, abusos e maus-tratos que são gerados independentemente da violência generalizada que vive México. Este tipo de violência tende a permanecer invisível no seio das famílias ou dos centros de acolhimento de pessoas idosas em situação de dependência. A violência pode ser psicológica, física, chegando até o abuso e/ou abandono. Sem falar no grande número de casos que terminam em fraude ou abuso financeiro, nos quais estão frequentemente envolvidos pessoas ou familiares próximos, especialmente com idosos que sofrem de deficiência cognitiva. Soluções: a) é importante gerar campanhas e atividades para dar visibilidade a esse fenômeno, divulgando formas de prevenção e detecção de abusos e ao mesmo tempo orientando sobre as instâncias onde esses eventos podem ser denunciados; b) capacitar os profissionais de saúde para que saibam detectar estes casos e como encaminhá-los às autoridades correspondentes; e c) criar mecanismos de apoio às vítimas e punição e/ou reabilitação dos agressores.

Problema 5 – existência de ambientes físicos e sociais pouco favoráveis às necessidades das pessoas idosas porque na maioria das nossas cidades falta um desenho universal que garanta a acessibilidade de toda a população aos diferentes ambientes urbanos. Soluções: a) é importante promover medidas que facilitem a acessibilidade das pessoas idosas a espaços públicos, edifícios, transportes, habitação etc.; e b) criar eventos e ações que promovam atividades sociais, laborais, recreativas e culturais destinadas a gerar redes de apoio às pessoas idosas e evitar o isolamento que favorece a solidão, que, por si só, é um problema que muitas pessoas idosas já enfrentam hoje.

Problema 6 – solidão gerada pela perda de familiares e amigos que os acompanharam ao longo da vida. Isso dificulta atividades como sair de casa e o problema torna-se maior com as pessoas mais pobres, que muitas vezes têm menos preparação e não têm facilidade de acesso aos diversos recursos digitais que, de alguma forma, poderiam ajudá-los a lidar com a solidão. Soluções: a) criar espaços públicos onde a convivência social seja facilitada e seja fornecido apoio com tecnologia, além de se prover e internet de fácil acesso para a comunicação com familiares que estão distantes. O fenômeno migratório que ocorre no México incentiva cada vez mais as pessoas idosas a permanecerem nas suas casas enquanto os membros mais jovens da família partem em busca de melhores oportunidades de trabalho fora do país.

Problema 7 – o trabalho invisível dos cuidadores que ocorre de- vido ao fato de existirem cada vez mais pessoas idosas em situação de dependência, o que provoca alterações na estrutura das famílias, desestruturando o ambiente e afetando a economia e o próprio funcionamento da família. Quando uma pessoa idosa se torna dependente, necessita do apoio de outra pessoa ou pessoas para cuidar dela. E essa situação costuma recair principalmente sobre as mulheres da família. Este problema gera graves consequências para as famílias e, portanto, para a comunidade, a sociedade e o Estado. Soluções: a) é necessário tornar visível a questão dos cuidadores que, às vezes voluntariamente, às vezes forçados, têm que se encarregar de assistir pessoas idosas dependentes que, pela gravidade da sua deficiência, necessitam de ajuda permanente; b) é necessária a formação contínua dos cuidadores, tanto informal (familiares próximos, amigos, vizinhos) como formal (pessoas com ou sem formação profissional que trabalham como tal). Para ajudar, é preciso saber como fazer; c) é necessário avaliar a possibilidade de fornecer apoio financeiro aos cuidadores informais que não têm qualquer remuneração pelo seu trabalho e que não dispõem de recursos para manter uma vida digna.

Promoção da saúde mental nas pessoas idosas

Dentre os impactos psicossociais vinculados ao envelhecimento populacional, destacam-se: a) cobertura de saúde, tanto física, no que diz respeito ao cuidado de doenças crônico-degenerativas, quanto de saúde mental. Nesta área, é fundamental identificar que a saúde mental é um catalisador “sem igual” da saúde física e social; b) otimização financeira, através de sistemas de pensões que sejam financeiramente viáveis e cuja cobertura responda às necessidades dos idosos; c) o desenvolvimento de habitações adaptadas e de infraestruturas urbanas amigáveis que respondam às necessidades de uma população com exigências físicas específicas; d) o desenvolvimento de uma cultura inclusiva onde todos os tipos de velhice e as suas particularidades subculturais possam ser acomodados, reduzindo preconceitos, eliminando tabus e facilitando o respeito pelos direitos humanos; e e) o fortalecimento de redes de apoio e cuidados que permitam a troca eficiente de serviços entre os diferentes subsistemas em que os adul- tos se desenvolvem, desde a família, passando pela comunidade, até o sistema social regulador.

Apresentamos três categorias de estratégias fundamentadas para a promoção da saúde mental em pessoas idosas no México (MONTE- RO-LÓPEZ LENA, 2021; 2022). São elas:

Saúde – a saúde deve ser reconceitualizada, não apenas em termos físicos, mas também em termos emocionais e sociais. Está comprovado que as pessoas seguem as instruções sobre sua saúde de forma mais eficiente se for estabelecida uma boa adesão terapêutica. Isso é essencial na fase da velhice em que, além de dar à pessoa idosa os elementos para melhorar ou prevenir uma maior deterioração, deve-se também dar um sentido de vida para ela perseverar em seu esforço de permanecer saudável. Portanto, a saúde mental é essencial e deve ser estudada e promovida.

Funcionamento familiar – está exaustivamente documentado que a família pode ser um contexto de proteção ou de risco durante a infância e a adolescência. Isso se aplica também durante a idade adulta. Já foi documentado que os agressores mais frequentes estão localizados nas famílias. Portanto, seria estratégico dar apoio às famílias para tratar as pessoas idosas e assim facilitar o intercâmbio intergeracional dos seus membros.

Políticas públicas – é essencial que o Estado tome medidas para pro- mover a saúde, os cuidados econômicos e o desenvolvimento urbano de uma forma bem fundamentada. Neste sentido, estabelecer pontes entre a academia, onde se gera conhecimento fundamentado, e os formuladores de políticas de serviços que decidem a distribuição do orçamento, deverá ser um caminho de mão dupla e contínuo.

URUGUAI

Situação das pessoas idosas

O Uruguai apresenta um envelhecimento avançado de sua população, pois iniciou um processo de transição demográfica muito precoce na região, que remonta ao final do século XIX e terminou na segunda metade do século XX (PELLEGRINO, 2013). Atualmente, quase um quinto da população do país tem 60 anos ou mais. Em termos de políticas, o Estado uruguaio alcançou uma cobertura quase universal em matéria de segurança social e um elevado nível de suficiência no contexto regional, pelo menos até 2019 (ZUNINO, 2019). Nas demais áreas, a partir de 2009, após um longo período de ações fragmentadas e com baixo nível de participação social, foi criada uma governança institucional, o chamado Instituto Nacional de las Personas Mayores (Instituto Nacional das Pessoas Idosas), iniciando, assim, um período de articulação institucional e de participação efetiva dos cidadãos e de organizações em torno de políticas específicas. Tudo isto em um contexto de uma sociedade que apresenta uma avaliação negativa do envelhecimento. A incorporação de uma perspectiva de direitos humanos na política, a participação de representantes de organizações de pessoas idosas em órgãos consultivos nacionais e regionais articularam-se em ações de promoção dos problemas das pessoas idosas, da inclusão em diversas esferas, fundamentalmente social, mas também cultural e digital, este último por meio do Plano Ibirapitá4 (IMPO, 2015).

Entre 2009-2020, foram desenvolvidos dois planos nacionais sobre o tema, endossados pelo Conselho Consultivo, que representaram progressos numa perspectiva de curso de vida, direitos humanos e uma concepção participativa de políticas. Foi também lançada a implementação progressiva de um Sistema Nacional Integrado de Cuidados que integrasse a questão da dependência em pessoas idosas. O avanço fundamental no direito positivo nacional é representado pela Convenção Interamericana sobre os Direitos Humanos da Pessoa Idosa, aprovada por lei pelo Parlamento Nacional em 2016, tornando o Uruguai o primeiro país a ratificar o instrumento. Faz parte de um processo que tem funcionado conceitualmente, bem como alguns indícios de transformações na percepção social do envelhecimento, do lugar social e níveis de reconhecimento efetivo da participação das pessoas idosas. Por sua vez, isto tem sido sustentado e dado origem a processos de subjetivação sem precedentes, expressos em processos coletivos de pessoas idosas, como a consolidação da Rede Nacional de Organizações de Pessoas Idosas (Redam) e do Movimento de Residentes e Familiares de Estabelecimentos de Longa Permanência para Idosos (ILPI).

Desde a pandemia da covid-19 e da mudança das autoridades nacionais em 2020, o processo de avanço da situação das pessoas idosas no Uruguai começa a entrar num período paradoxal devido a três fenômenos simultâneos: O primeiro deles é a definição das pessoas idosas como grupo de risco no contexto da pandemia. Isso contribuiu para reinstalar um discurso institucional que enfraquece e objetifica os idosos com base em declarações de autoridades nacionais e ações sem consulta e que não incluem cuidados. Uma política baseada num critério de idade leva a uma deterioração da imagem social do envelhecimento e dos idosos por parte dos outros e por si próprios, e fortalece a categoria dos idosos como um “tipo” (HACKING, 2006) de pessoas “a serem cuidadas”, e não como atores relevantes e autônomos nos processos sociais. O segundo é um novo avanço do reducionismo nas concepções prevalecentes sobre a saúde dos idosos no campo social e institucional. Nesse sentido, a Década do Envelhecimento Saudável, declarada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 2020 para o período 2021-2030, tem sido identificada pelos idosos organizados no país e pela academia como uma proposta muitas vezes formulada em termos biológicos e sua centralidade nas estratégias políticas globais como despolitizante (BERRIEL, RÍOS e SILVERA, 2023).

O terceiro consiste numa deterioração institucional geral das políticas públicas sobre o envelhecimento, a velhice e os idosos no Uruguai. As tentativas de desmantelamento do Instituto Nacional del Adulto Mayor (Inmayores) registradas no início de 2020, rejeitadas devido à ação da Rede Nacional do Idoso, ao enfraquecimento do Plano Ibirapitá e ao declínio da participação nas políticas de saúde, têm sido acompanhadas de redução de recursos e perda de autonomia e articulação com a sociedade civil das equipes diretamente envolvidas no desenvolvimento de políticas na área, bem como perda de continuidade no desenvolvimento de planos articulados como eram realizados anteriormente. Isto está alinhado com o relatório sobre “direitos humanos dos idosos e sistemas nacionais de proteção nas Américas” elaborado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, do qual se pode concluir que, embora se reconheça o progresso normativo e o reconhecimento dos direitos, há estagnação no seu efetivo cumprimento.(CIDH-OEA, 2022).

A articulação da ação das pessoas idosas organizadas, da academia e dos movimentos sociais parece ser um caminho já percorrido e necessário para inverter as tendências negativas registradas recentemente. Regressar ao caminho do progresso na garantia do pleno gozo dos direitos das pessoas idosas e da construção de um Uruguai não idadista.

VENEZUELA

Mais pobre, mais velha, mais dependente

A Venezuela, segundo os resultados do Psicodata: um Retrato Social (2023), é um país cujos cidadãos vivenciam baixa confiança interpessoal, afeto negativo pelo país, estresse econômico, mal-estar geral, luto constante e limitações na expressão de emoções. Além disso, nas últimas duas décadas viveu a maior expulsão migratória de sua história, depois de ter sido país receptor, tornou-se um país expulsor, onde 75% dos venezuelanos vivenciaram a ausência de familiares ou amigos próximos devido à migração nos últimos dois anos. Os processos migratórios têm gerado um impacto substancial nos aspectos econômicos, sociais e psicológicos das pessoas de todas as idades. Esses processos não só modificam a dinâmica populacional, mas também transformam a composição familiar, bem como os fatores psicológicos, tanto de quem se desloca como de quem fica. Ao mesmo tempo, representa uma mudança nas condições estruturais da vida das pessoas, afetando a sua saúde mental, bem-estar social e psicológico (SILVA et al., 2016).

As principais consequências do processo migratório envolvem o rápido envelhecimento dos países em desenvolvimento, acompanhado por mudanças dramáticas nas estruturas e papéis familiares, nas exigências do trabalho, bem como nas consequências geradas pela deslocalização (GÓMEZ et al., 2016). Esses movimentos impactam de duas formas: na reconfiguração das redes sociais e nos arranjos dos grupos familiares (MONTES DE OCA et al., 2008). Esta nova realidade tem como consequência um complexo processo de ajustamento psicossocial e cultural, cujos resultados podem ser decisivos para uma convivência social positiva ou, pelo contrário, para a produção de novas formas de exclusão social (RODRÍGUEZ-CARVAJAl et al., 2010).

Durante muito tempo, a velhice foi considerada uma fase de dependência, fragilidade e perda de autonomia. Neste sentido, esta concepção parece estar muito longe de um olhar renovado sobre a ideia de aumento da expectativa de vida e de agravamento de cenários socioeconômicos que exigem iniciativa e capacidade de resolução de problemas. Um adulto que vive na Venezuela é testemunha e vítima das poucas políticas e instituições do Estado dedicadas à atenção à saúde das pessoas idosas. De acordo com a demografia, a população envelhece se a proporção de indivíduos nas faixas etárias mais avançadas aumentar. Quando a mortalidade diminui e a fertilidade aumenta, ocorre crescimento. Se for o contrário, isso influencia não só o número total de habitantes, mas também os seus níveis de produtividade, devido à idade dos seus residentes, que podem ser muito jovens ou bastante idosos. Com a migração, o destino torna-se mais jovem e a origem fica sem uma força de trabalho economicamente ativa (YBÁÑEZ e ALAR- CÓN, 2007). Na Venezuela, diferentes dinâmicas têm se desenvolvido a partir destas transferências.

Uma reportagem publicada pela BBC News, em 18 de agosto de 2021, assinala que cerca de 60% dos migrantes venezuelanos são pessoas entre 15 e 50 anos, o que implica uma diminuição significativa da força de trabalho e um aumento do peso da população mais velha, que geralmente utiliza mais recursos do sistema de saúde e recebe aposentadorias, sobre as contas públicas. A reportagem menciona dados compilados pela Encovi, os quais apontam que Venezuela conta atualmente com 65 dependentes (menores de 15 anos e maiores de 60 anos) para cada 100 pessoas em idade ativa (BERMÚDEZ, 2021).

Anitza Freitez, diretora do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade Católica Andrés Bello, em Caracas, em entrevista à imprensa internacional (BERMÚDEZ, 2021), afirmou que “De acordo com as projeções do INE, esperava-se que em 2039 a proporção de pessoas com 60 anos ou mais atingisse 12%, 13% da população, mas esse quadro foi antecipado para 2020, de acordo com as atualizações das projeções populacionais para a Venezuela realizadas pelas Nações Unidas. O envelhecimento avançou quase 20 anos devido à seletividade da emigração, que significou o êxodo dos jovens”.

De acordo com dados da ONU, a Venezuela é o país do mundo que mais perdeu população nos últimos cinco anos, mais ainda que a Síria, que está imersa em uma guerra civil. O país é o único da América Latina que chegou a perder habitantes na última década. O encolhimento populacional se deve principalmente à emigração em massa, mas também à queda da natalidade e ao aumento da mortalidade. Venezuela se tornou um país de velhos e de crianças. Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur)5 sinalizam que mais de 5,6 milhões de venezuelanos emigraram nos últimos anos. São centenas de milhares de famílias em situação semelhante e por vezes pior, já que muitos avós venezuelanos não têm acesso à tecnologia para fazer chamadas de vídeo, não possuem passaportes ou recursos financeiros para visitar os netos a cada tantos anos, às vezes nem dinheiro para pagar pelos medicamentos. Esse novo cenário tem graves implicações para o futuro.

Segundo dados do Encovi (Pesquisa Nacional de Condições de Vida), hoje há mais domicílios habitados por apenas uma pessoa, além de maior número de domicílios chefiados por mulheres, como explica Anitza Freitez: “Nossa migração é principalmente masculina. Isso fez com que as mulheres acabassem se tornando chefes de família – temos um percentual de famílias chefiadas por mulheres acima de 50%. Não há outro país na América Latina que tenha nível tão alto – a média da região é da ordem de 36%”.

A situação particular da Venezuela, em relação às pessoas idosas, pode ser descrita a partir das adversidades que enfrentam: solidão, dependência, alterações físicas, perda de capacidades, rescisão de emprego, entre outros. A isso se somam os programas sociais governamentais destinados a esta população, que geralmente são de natureza assistencial e respondem mais a referências estrangeiras do que a diagnósticos feitos sobre a realidade dos idosos no país e, portanto, não cobrem todas as necessidades (MORA, 2018).

Não há dúvidas sobre a capacidade das pessoas idosas de se adaptarem à situação particular da Venezuela. O portal Prodavinci, em seu relatório Promessa Quebrada, analisa o sistema previdenciário do país e mostra que entre 2000 e 2020, o valor acumulado que uma pessoa receberia em 25 anos perdeu 99,70% do seu valor. Estes baixos rendimentos demonstram a capacidade dos venezuelanos mais velhos para sobreviver e resolver problemas. Em vez de salários ou rendimentos do trabalho, a dependência é alcançada quando as necessidades são satisfeitas através de uma pensão, ajuda familiar, redes de apoio social, programas governamentais e privados, ou instituições de caridade públicas. Em muitos casos, isto implica o empobrecimento não só da pessoa idosa, mas também do seu ambiente familiar e social (HAM- -CHANDE, 2000).

Os aspectos relacionados com a situação econômica das pessoas idosas e o montante dos rendimentos que recebem influenciarão a posição social em que podem funcionar e, portanto, a saúde, a propriedade e a manutenção da habitação, bem como a continuidade das relações sociais e a qualidade da vida em geral. Uma renda adequada às necessidades de cada pessoa pode permitir que ela se sinta bem e mantenha a autoestima elevada (ZETINA, 1999). O término de sua atividade laboral, seja abrupta ou gradual, acarreta sempre perda de rendimentos para a população idosa, o que terá repercussões de diversas formas dependendo das capacidades e características de cada pessoa. Porém, parece que a autonomia como variável pessoal se destaca no adulto venezuelano por permitir-lhe enfrentar circunstâncias atenuantes, bem como qualquer mudança no ambiente, embora a percepção subjetiva de desconforto psicológico esteja presente. A capacidade de resolução, a tomada de decisões e a salvaguarda dos ativos num país em crise são as principais estratégias para enfrentar as adversidades.

Algumas considerações

Embora a região tenha ciência de que houve avanços no reconhecimento dos direitos das pessoas idosas, há estagnação e até retrocesso quanto à efetividade de vários marcos legais de proteção à população envelhecida. Ou seja, a deterioração institucional geral das políticas públicas sobre o envelhecimento, a velhice e os idosos é um fato presente na América Latina. Há desmantelamento de políticas sociais, com redução de recursos, e descontinuidade de planos realizados anteriormente.

Portanto, o envelhecimento populacional continua sendo um dos principais desafios da América Latina e do Caribe, região que envelheceu vertiginosamente, sendo pobre, e sem ter resolvido questões estruturais, como as desigualdades socioeconômicas que acabam afetando o viver. A par destas questões, ressaltamos a aprendizagem ao longo da vida, muito bem expressa por colegas da Argentina e Cuba, já que um dos maiores desafios globais é aprender a envelhecer, até para se combater o idadismo, tarefa que compete a todos nós, estudantes, profissionais ou pessoas idosas. Conhecer para melhor longeviver.

Autores:

Red Latinoamericana Interdisciplinaria de Psicogerontología

Norma Liliana Tamer normatamer2010@yahoo.com.ar

Claudia Josefina Arias cjarias@mdp.edu.ar

Beltrina Côrte beltrinac@gmail.com

Maria Elisa Gonzalez Manso mansomeg@hotmail.com

Eduardo Triana Álvarez gpcte@infomed.sld.cu

Teresa Orosa Fraíz torosa@infomed.sld.cu

Ximena Andrade Cáceres xandrade@ups.edu.ec

Marco Antonio Cubillo León marcocub@hotmail.com

María Montero-López Lena monterol@unam.mx

Fernando Berriel ferber@psico.edu.uy

Victoria Tirro victoriatirro@gmail.com

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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