ESTILHAÇOS DE MEMÓRIAS | Obra fotográfica de Eustáquio Neves

31/07/2022

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  Leia a edição de agosto/22 da Revista E na íntegra 

FOTOGRAFIAS DE EUSTÁQUIO NEVES REVELAM DIFERENTES CAMADAS DE CRÍTICAS SOCIAIS E REIVINDICAM LUGAR HISTÓRICO DE AFRODESCENDENTES. OBRA DO ARTISTA MINEIRO ENTRA EM CARTAZ NO SESC IPIRANGA, A PARTIR DE SETEMBRO.

Nascido na cidade mineira de Juatuba, em 1955, José Eustáquio Neves de Paula, ou Eustáquio Neves, como o artista é conhecido dentro e fora do país, propõe reflexões sobre escravidão e racismo em suas imagens. Parte desse trabalho, realizado pelo fotógrafo há aproximadamente 40 anos, poderá ser visto na exposição Outros Navios: Fotografias de Eustáquio Neves a partir de 6/09, no Sesc Ipiranga, com curadoria de Eder Chiodetto. “Para legitimar um discurso sobre reparação histórica, Eustáquio leva a fotografia a sair do seu lugar comum, de recorte da realidade, para uma complexa construção de imagem que se intercala, sobrepõe-se, convoca documentos e fabulação”, explica o curador. 

A formação de Eustáquio como técnico de química industrial contribuiu para um processo de interferência sobre os negativos de fotografias no laboratório, resultando em obras que apresentam diferentes camadas visuais e narrativas. Essas composições, segundo Chiodetto, entram no campo ampliado da fotografia expandida sob outras perspectivas. “A manipulação das imagens via processos químicos é uma das características pontuais no seu trabalho, assim, em seu espaço de experimentação, ele incorpora procedimentos durante muito tempo tratados como tabu para grande parte dos profissionais da área”, complementa.

Descendente direto de pessoas negras escravizadas, Eustáquio Neves costura passado e presente em obras que borram fronteiras entre tempo e espaço. Premiado e reconhecido internacionalmente, o artista dedica-se à composição de obras que refletem sobre a sociedade e o lugar histórico dos afrodescendentes como protagonistas de suas práticas culturais. “As problematizações abordadas por Eustáquio Neves têm grande importância na cena artística por ele fazer parte de um conjunto de artistas que direciona o olhar para a produção de novas narrativas, concebidas com a sensibilidade de quem faz parte da construção histórica da população afro-brasileira”, destaca o curador.

Série Aberto pela Aduana #1 (2020). Técnica mista: fotografia, pintura, colagem e nanquim. Crédito: Eustáquio Neves.
Série Aberto pela Aduana #1 (2020). Técnica mista: fotografia, pintura, colagem e nanquim. Crédito: Eustáquio Neves.

NARRATIVAS VISUAIS E AUDIOVISUAIS
Mostra no Sesc Ipiranga reúne séries fotográficas consagradas e inéditas de autoria de Eustáquio Neves, além de uma seleção de obras de videoarte 

Aberta ao público a partir do dia 6 de setembro, no Sesc Ipiranga, a exposição Outros Navios: Fotografias de Eustáquio Neves é composta de 70 obras, entre fotografias e vídeos, além de uma seleção ampla de materiais utilizados pelo artista em suas criações de caráter analógico. Com curadoria de Eder Chiodetto, a mostra reúne séries do início dos anos 1990, como Objetificação do Corpo (1994), séries inéditas como as Fotopinturas, com obras realizadas em 2022, assim como Outros Navios, série em andamento e que dá nome à exposição. Alguns desses trabalhos serão mostrados pela primeira vez em sua integralidade nessa exposição. 

Segundo o curador, “é importante que as séries de Eustáquio Neves, que têm uma média de 12 imagens [cada], sejam vistas inteiras e nas escalas pensadas pelo artista, pois elas são como poemas em que todas as ‘frases’ são importantes para nos levar ao centro da poética e do gesto político do artista”. Entre os trabalhos de videoarte – mais raros na produção de Eustáquio –, será exibido Post No Bill (2009), em que o cotidiano marcado pelo trânsito e vaivém incessante de pedestres nas ruas de Lagos, na Nigéria, mistura-se com a arte jovem encontrada na favela de Bariga, no subúrbio da cidade. Essa obra será exibida pela primeira vez, em três telas simultâneas, no Sesc Ipiranga.

SERVIÇO
Outros Navios: Fotografias de Eustáquio Neves
local: Sesc Ipiranga (Rua Bom Pastor, 822)
quando:  06/09/22 a 26/2/23
horários: Terça a sexta, das 9h às 21h30. Sábados, das 10h às 21h30. Domingos e feriados, das 10h às 18h30.
Entrada gratuita. Não é necessário realizar agendamento.
Mais informações

Confira uma galeria com algumas das obras que estarão expostas no Sesc Ipiranga, a partir de 6 de setembro:

A EDIÇÃO DE AGOSTO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Neste mês, quando o mundo comemora o Dia Internacional da Juventude (12/08), o Sesc São Paulo promove mais uma edição da Juventudes: Arte e Território, ação que segue até dezembro discutindo e incentivando a potência das produções culturais das diferentes juventudes. Em reportagem desta edição, damos voz a iniciativas artísticas, em todo o estado de São Paulo, que provam que a arte, em suas diferentes linguagens, dá vazão à expressão e ao potencial criativos dos jovens, impactando os territórios que habitam.

Além dessa reportagem, a Revista E de agosto/22 traz outros conteúdos: um texto sobre os desafios e a importância da amamentação para a saúde dos bebês e o vínculo entre mães e filhos; uma entrevista em que a escritora portuguesa Isabel Lucas, que esteve presente na 26ª Bienal do Livro, defende a literatura como um mapa para se conhecer um país; um depoimento de Davi Kopenawa sobre a defesa da cultura indígena e a preservação da floresta; um passeio fotográfico pelos trabalhos de Eustáquio Neves, artista que reflete sobre o lugar histórico dos afrodescendentes e cuja obra será celebrada em exposição no Sesc Ipiranga, a partir de setembro; um perfil que mergulha no legado plural de Flávio de Carvalho (1899-1973), multiartista que protagoniza uma exposição no Sesc Pompeia, a partir do fim de agosto; um encontro com Renato Maluf, pesquisador que aponta os rostos da fome no Brasil; um roteiro por lugares, atividades e intervenções que espalham poesia pela cidade de São Paulo; um conto inédito da escritora Ieda Magri, intitulado “Vida e amores da senhorita X”; e dois artigos que relacionam língua, discursos e diversidade: Gabriel Nascimento escreve sobre racismo linguístico e Dri Azevedo, sobre linguagem neutra.

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