Representação e representatividade feminina no cinema brasileiro

05/05/2023

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A indústria cinematográfica no Brasil possui uma longa e diversa trajetória, mas pouco se fala sobre a participação das mulheres nessa história e sobre a representatividade feminina no cinema brasileiro. Diretoras, produtoras, roteiristas, fotógrafas, atrizes e tantas outras profissionais têm contribuído, desde os primórdios de nossa produção audiovisual, para enriquecer e representar a cinematografia nacional.

Com essa premissa, o Sesc Consolação traz a pesquisadora Carolinne Mendes para falar da importância do papel da mulher na indústria cinematográfica do país em uma atividade gratuita, de 13/05 a 03/06, sábados, das 10h30 às 12h30.

O curso Representação e representatividade feminina no cinema brasileiro busca iluminar a história das mulheres no cinema brasileiro dos anos 1960 aos dias atuais. Marcada pela chamada “Segunda Onda” Feminista, que se iniciou na Europa e Estados Unidos, mas também chegou ao Brasil, as mulheres se afirmaram como protagonistas de suas narrativas, em uma evidente expressão da luta feminista nesse campo contra representações objetificadas pelo olhar masculino.

As inscrições se iniciam no dia 9 de maio, a partir das 14h pelo aplicativo Credencial Sesc SP ou no site centralrelacionamento.sescsp.org.br.

Cineasta Lúcia Murat (Foto: Mídia Ninja)


Cinema Novo pra quem? Questionamentos femininos nos anos 60

O primeiro encontro debruça-se principalmente no Cinema Novo, movimento de inovações estéticas e de conteúdo que marcou o cinema nacional. A conversa amplia-se, ainda, sobre como cineastas do movimento abordaram o papel da mulher no cinema brasileiro na época. Ainda que sua preocupação principal fosse a desigualdade social no Brasil, a discussão de gênero aparece por meio de personagens femininas que muitas vezes demonstram insatisfação com o modelo tradicional do “ser mulher”, associado ao casamento e à maternidade.

Entre diretores do Cinema Novo, Helena Solberg é reconhecida como o único nome feminino; seu filme de estreia, A entrevista, de 1966, discute a virgindade feminina.


Década de 1970: onda feminista e repressão no cinema nacional

Para o segundo encontro, os alunos viajam para a década de 70, quando o cinema foi apropriado por um discurso crítico por parte de mulheres que denunciavam a situação de desigualdade, ao mesmo tempo em que a repressão da ditadura militar buscava fortalecer as tradicionais normas de conduta para os gêneros.

Teresa Trautman, em seu longa-metragem Os homens que eu tive (1973), evidencia o machismo e a dificuldade dos homens em lidar com a autonomia feminina, inclusive no âmbito das relações consideradas não-convencionais. Curiosamente, os anos 70 e 80 marcam também a mulher enquanto objeto sexual de diferentes produções da pornochanchada, gênero associado às comédias eróticas.


A Retomada é delas: mulheres no cinema brasileiro contemporâneo

Nos anos 90, muitas mulheres despontaram no cenário audiovisual do país. Para o terceiro sábado, Carolinne fala do episódio após a extinção da Empresa Brasileira de Filmes S.A. (Embrafilme), quando o cinema nacional passa por grandes dificuldades de financiamento, coprodução e distribuição.

Nessa época, o longa-metragem de Carla Camurati – Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995) – foi considerado um marco da Retomada do cinema nacional, atingindo cerca de 1,5 milhão de espectadores devido a uma iniciativa de distribuição independente da própria diretora. Outros nomes de cineastas que se destacam desde então são os de Lúcia Murat, Laís Bodanzky e Anna Muylaert.


Interseccionalidade e cinema: representação e representatividade das mulheres negras

No último dia, discutiremos como falta representatividade para as mulheres no cinema nacional, já que elas são minoria nos elencos e produções, desproporcionalmente à sua presença na sociedade brasileira. Para as mulheres negras a falta de representatividade é ainda mais grave: quando observamos o campo da atuação, elas foram representadas em uma quantidade menor de papéis, muitas vezes estereotipadas.

Ao observarmos o campo da direção, pouquíssimas mulheres negras conseguiram alçar esse cargo, principalmente nos longas-metragens de ficção – produções que demandam maior investimento. Adélia Sampaio foi a primeira mulher negra a lançar um filme desse tipo, Amor Maldito, em 1984. Viviane Ferreira foi a segunda, lançando Um Dia com Jerusa, apenas em 2020.


Carolinne Mendes (Foto: Divulgação)

Sobre a ministrante

Carolinne Mendes da Silva é doutora e mestre pela Universidade de São Paulo (USP), com pesquisa sobre a representação do negro no Cinema Novo e sobre a questão de gênero neste mesmo movimento. Ela também é autora do livro O negro no cinema brasileiro (LiberArs, 2017).

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