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Você já parou para pensar sobre algo que sabe fazer ou que pratica frequentemente? Lembra onde aprendeu isso? Quem estava com você? Quais foram seus mestres e mestras? Venho de uma família de especialistas em ofícios: mateiros, agricultores, costureiras, artesãs, pedreiros, serralheiros, cozinheiras. Pessoas que tiveram sua formação na experiência cotidiana do fazer, nas necessidades da ordem de cada dia, no aprendizado constante de uns com os outros. Quantas ciências, cálculos, medidas, afetos, histórias, memórias, sabedorias e soluções que só podem ser compreendidos por quem sente?
O maior ensinamento que tive com as mestras e mestres de casa foram a observação e a curiosidade, pois a diferença está nos detalhes e a sabedoria está no que é simples. Ou seja, toda experiência pode se tornar uma jornada de aprendizagem. Isso acendeu em mim uma veia educadora.
Certa vez, escutei de um professor que a gente só consegue perceber aquilo para o qual se está preparado. Nessa época, eu não sabia muito bem qual seria e como seria exercer uma profissão, mas despertou em mim uma vontade arrebatadora de querer contribuir com alguma transformação. Como uma convicção certa: eu quero contribuir com algo e para isso preciso aprender e me preparar para perceber meu mundo.
Em 2012, me formei em geografia. Faço parte da primeira geração com uma graduação da minha família e fui o primeiro a entrar em uma universidade pública. Durante a faculdade, o longo caminho entre minha casa e a sala de aula me permitia observar a cidade de sul a norte. Eu via, sentia os problemas, e tramava possibilidades de mudança. Isso junto aos conteúdos com os quais tinha contato durante as aulas só aumentou a convicção e o desejo de transformar o território de onde eu partia todos os dias, “no lado sul do mapa” (“Da ponte pra cá”, Racionais MC’s – 2002).
Em 2015, fui trabalhar como agente de educação ambiental no Sesc Interlagos. Ali encontrei a chance efetiva de unir minhas convicções sociais à minha formação. A zona Sul, de onde vim, agora era meu território-escola. Em meio a uma região com alta densidade populacional e uma série de problemáticas socioeconômicas e socioambientais, eu estava no meu lugar e entre os meus: agricultura agroecológica, movimentos periféricos, movimentos jovens de arte e educação, saraus, áreas de preservação ambiental, cachoeiras e rios limpos, aldeias indígenas e o resgate das frutas nativas de nossa flora.
Um caldeirão de práticas, tradições e modos de vida. Uma profusão de táticas sociais de luta e de sobrevivência para enfrentamento das adversidades na tentativa de tornar a vida melhor. A manifestação prática do verso do escritor Marco Pezão que usei para dar título a este texto. O exercício de buscar nossas identidades e se reconhecer nos plurais do “nóis por nóis”, viventes que fazem do Brasil um território vivo pelo método da “sevirologia” – a arte de se virar com criatividade e jogo de cintura para encontrar soluções.
O contato com esse meu mundo e com cada pessoa que dele faz parte me fez perceber uma coisa que sempre esteve presente, mas para a qual eu precisei me preparar: o simples é genial! Não se engane, ser simples não é fácil, pois exige conhecimento e experiência. O simples é a expressão natural e eficiente da sabedoria. O conhecimento que depois de aprendermos é tão óbvio, direto e irreversível, mas que foi preciso alguém para nos mostrar.
Mariano Ribeiro da Silva é geógrafo e trabalha como técnico da Gerência de Educação para a Sustentabilidade e Cidadania do Sesc São Paulo.
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