Imagens e cantos entremeados por histórias e dados científicos sobre aves observadas no Sesc Bertioga pousam em livro lançado pelas Edições Sesc São Paulo
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POR MARIA JÚLIA LLEDÓ
FOTOS FABIO SCHUNCK
Um dia, todas as aves foram brancas. Pelo menos é o que diz a lenda. Até que, em um determinado momento, inspiradas pelas cores de outros seres da natureza, cada uma encontrou sua paleta. “Assim, algumas delas ficaram verdes por se esfregarem nas folhas das árvores; outras fizeram o mesmo nos troncos e passaram a ser marrons; e teve aquelas que, ao se atritarem nos liquens, ficaram com cores diversas. Além dessas, houve as que se expuseram ao luar para obter penas azuis, e outras que exageraram na exposição ao sol, ficando escuras, do cinza ao preto”, descreve o biólogo e ornitólogo Fabio Schunck no livro Aves no Sesc Bertioga: do mar à serra (Edições Sesc São Paulo, 2024). Nutrido pela poesia e sabedoria que habitam histórias transmitidas de geração a geração por comunidades tradicionais, povos indígenas e quilombolas, o especialista convida os leitores a observar mais de perto as revoadas de macucos, juruvas, mariquitas e tantos outros pássaros pelo céu do Parque Estadual Serra do Mar no litoral do estado paulista.
Entre lendas e histórias, registros em imagens e sons – os cantos dos pássaros podem ser apreciados por meio de QR Codes –, cerca de 300 espécies que habitam a maior área contínua de Mata Atlântica preservada do Brasil. A publicação é resultado da expedição do ornitólogo, junto à sua equipe, pelas áreas do Sesc Bertioga – como o Centro de Férias e a Reserva Natural –, para o mapeamento e identificação das aves. “Os momentos mais marcantes foram aqueles em que ficamos acampados no interior da mata por semanas, em busca das aves, com sol, chuva e frio”. Além disso, Schunck destaca que a imersão na mata permitiu uma maior concentração e conexão com a natureza. “Todos os encontros que tivemos com as aves também foram especiais, desde uma espécie comum até uma espécie rara. Essa é a magia da ornitologia”, afirma.
No livro, o autor ainda revela curiosidades sobre as espécies, como a motivação por trás do canto e da dança, comportamento biológico natural das aves. “O canto é utilizado para defesa do território, comunicação e atração das fêmeas, que acontece no período de reprodução. Já a dança é exclusiva do período reprodutivo, no qual, em geral, os machos fazem um tipo de exibição corporal, sozinhos ou em grupos, para atrair as fêmeas”, explica. Os tangarás machos, por exemplo, “se reúnem em um local chamado de arena, onde ficam dançando insistentemente para atrair a atenção de uma única fêmea, que vai escolher o melhor dançarino para se reproduzir”, complementa.
Cada página amplia o olhar para as cores das plumagens, os diferentes formatos de bico, as miudezas desses seres alados, que encantaram músicos, como o maestro Tom Jobim (1927-1994), que também foi um observador de pássaros, ou o poeta Manoel de Barros (1916-2014), reconhecido por sua conexão com o Pantanal. “Eu espero que os leitores gostem dessa terceira edição do livro, feita de maneira especial por muitas pessoas, e convido todos a nos acompanharem nessa fascinante caminhada do mar à serra, conhecendo os ambientes e as aves da Mata Atlântica no Sesc Bertioga, uma das regiões com a maior biodiversidade do planeta”, arremata.
para ver no sesc / gráfica
Outros voos
Terceira edição do livro Aves no Sesc Bertioga: do mar à serra reúne maior número de espécies identificadas e busca engajar o público na proteção da biodiversidade
Situado no litoral paulista e em funcionamento desde 1948, o Sesc Bertioga possui uma área total de mais de quatro milhões e oitocentos mil metros quadrados, e incentiva, a partir de um projeto de educação permanente, o contato e o engajamento com o meio ambiente para preservação e conservação da biodiversidade local. A criação da Reserva Natural Sesc Bertioga, uma unidade de conservação que conta com 60 hectares de floresta alta de restinga na Mata Atlântica, em meio ao território urbano da cidade de Bertioga, faz parte dessa iniciativa. Outro exemplo é o Projeto Avifauna, que mobiliza, desde 1993, o conhecimento sobre as aves como ferramenta de educação para a sustentabilidade somada a estudos das espécies presentes nas áreas dessa unidade do Sesc e em seus arredores.
Lançada pelas Edições Sesc São Paulo, a terceira edição do livro Aves no Sesc Bertioga: do mar à serra (2024) traz uma atualização do Projeto Avifauna, dado a um aumento expressivo do número de registros de aves identificadas – de 100 espécies que compõem a primeira edição para cerca de 300. Para isso, o biólogo e ornitólogo Fabio Schunck percorreu um caminho que parte do limite da orla (em frente ao portão principal do Centro de Férias e chega ao topo da Serra do Mar, a mais de 900 metros de altitude. A partir do mapeamento das aves visitantes, o ornitólogo descreve comportamentos e características marcantes das espécies. Ainda na publicação, há textos de Marcelo Bokermann, supervisor de Educação para a Sustentabilidade do Sesc Bertioga, sobre o Projeto Avifauna, e da bióloga Martha Argel, sobre a arte da observação de aves.
“Iniciativas direcionadas à conservação dos espaços naturais, como a edição de Aves no Sesc Bertioga: do mar à serra, constituem uma trama de dispositivos educativos aptos a colaborar para a proteção da biodiversidade local, ao mesmo tempo em que engajam a comunidade em um senso de dever e cuidado compartilhados. Espera-se que ações desse tipo possam promover um aumento da consciência crítica, fruto de um trabalho de educação permanente, que tem como premissa enxergar mundos possíveis, onde a interconexão entre seres humanos e meio ambiente seja a substância vital de uma coexistência harmoniosa e sustentável”, afirma Luiz Deoclecio Massaro Galina, diretor do Sesc São Paulo, em texto da publicação.
Ouça a playlist com o canto de aves de Bertioga
EDIÇÕES SESC SÃO PAULO
Aves no Sesc Bertioga: do mar à serra (2024)
332 páginas
sescsp.org.br/edicoessesc
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