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Ah, Muleque!

Rui Muleque. Foto: Acervo Pessoal.
Rui Muleque. Foto: Acervo Pessoal.

Enquanto o Brasil, até então o país do futebol, tentava entender como aquela seleção com atuações de encher os olhos havia deixado escapar o título da Copa do Mundo de 1982, numa quadra de cimento da cidade de São Paulo, Rui Muleque (que na época ainda era Rui Barbosa), um jovem que não se dava muito bem com a bola nos pés, de repente se entrosou muito bem com aquele artefato composto por um shape, dois trucks e quatro rodinhas - que até então pertencia ao seu irmão - e que logo passou a ser seu por uso capião.

Em pouco tempo ele percebeu que suas manobras poderiam levá-lo para longe. Só não imaginou onde ele e o esporte chegariam.

Na época, o skate era marginalizado no Brasil. Os grandes nomes do esporte eram norte-americanos e os equipamentos e as roupas eram muito caros. E mesmo morando na maior cidade do país, era preciso ir até Jundiaí de trem para andar em uma pista com uma estrutura decente. Próxima parada: Guaratinguetá, cidade localizada na região do Vale do Paraíba que concentrava a “Meca” do skate brasileiro na época. Skatistas de várias regiões do Brasil se reuniam na pista do Itaguará Country Clube.

Em 1985 as marcas começaram a investir no esporte, e ele se fortaleceu.

Em 1988, a prática virou febre e as pistas se multiplicaram. Assim como o número de praticantes, que passaram a competir dentro e fora do Brasil. Nesse ano, ele profissionalizou-se e passou a integrar a lendária equipe “Lifestyle”. No ano seguinte, Rui foi campeão brasileiro e participou do mundial de skate na modalidade Street, que aconteceu na Alemanha e de lá foi para Portugal, onde ficou por 2 meses e mostrou ao mundo o talento do skate brasileiro.

E então vieram os anos 90, e com eles um plano econômico que quebrou as empresas que patrocinavam os atletas.

Mas como cair e levantar faz parte do esporte, Rui abriu uma loja de artigos para skate, promoveu eventos, patrocinou outros atletas e continuou a dar seus rolês, enquanto o país continuou produzindo talentos em massa; até que na virada do século passou a ocupar o topo dos rankings internacionais, e obteve importantes conquistas em diversas modalidades.

Neste período foi criada a Confederação Brasileira de Skate, que aumentou ainda mais o interesse dos brasileiros pelo esporte - também graças à construção de novas pistas e do aumento das competições no território nacional. Segundo o instituto Data Folha, no ano 2000  o Brasil possuía mais de 2,7 milhões de praticantes do skate. Atletas como Sandro Dias e Bob Burniquist passaram a ser considerados lendas no esporte. E tornaram o skate brasileiro  uma referência mundo afora.

Hoje em dia Rui continua atuando na área, dando aulas de skate e participando de eventos relacionados ao esporte. E pelo menos uma vez por semana é possível vê-lo exibindo seu talento em banks e miniramps. O Street já faz parte do passado.

Em 2020 o skate participará pela primeira vez dos jogos olímpicos. E graças a história que Rui e seus contemporâneos começaram a escrever há 30 anos, esse esporte é uma das maiores expectativas de medalhas para o país, tanto no masculino quanto no feminino.

No dia 16 de janeiro Rui Muleque estará no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, junto com o historiador Leonardo Brandão, para uma conversa sobre a inserção do skate como modalidade olímpica e seus desdobramentos socioculturais e esportivos para grupos praticantes.

No dia 19 ele estará no Sesc Campinas participando do projeto Feras do Skate.

Ficou com vontade de executar umas manobras?

Temos pistas te esperando nas unidades Florêncio de Abreu, Guarulhos, Campo Limpo ou Campinas, durante todo o Sesc Verão.

Para conferir a programação completa, acesse: sescsp.org.br/sescverao

Glossário

Banks: Pista que lembra uma piscina, assim como o bowl, mas seu fundo é mais raso e suas bordas não fazem 90º graus com o solo.

Shape: A prancha do skate. Costuma ter uma lixa em sua superfície, para aumentar o atrito entre o calçado e a prancha.

Street: Modalidade surgida entre o final da década de 1970 e início de 1980 nos Estados Unidos em que o skatista enfrenta obstáculos da paisagem das cidades, como bancos, degraus e corrimãos.

Meca: Cidade da Arábia Saudita considerada a mais sagrada no mundo para os muçulmanos. A palavra também é empregada para designar o melhor lugar para fazer uma determinada atividade.

Miniramp: Uma mini rampa utilizada para a prática do skate vertical.

Truck: Eixo do Skate.