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Use, mas não abuse

De tudo o que jogamos fora, um percentual muito baixo é reaproveitado. Isso significa desperdício, e desperdício, por sua vez, corresponde a prejuízo. E não é só o lixo que é mal utilizado: água, alimentos e energia elétrica não recebem a atenção desejada. E o pior é que muitas vezes um simples gesto pode evitar grandes perdas

Mesmo que considere que o assunto não tem nada a ver com você confira, antes de sentar-se confortavelmente na sala para a leitura, se a luz do quarto ficou acesa. Ou se você fechou bem a torneira do chuveiro após o banho. Estes são apenas dois exemplos comuns de desperdício praticados em casa. Ou seja, de alguma maneira desperdiçamos. E impunemente.

Para o professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp, Roberto Romano, no Brasil nós desperdiçamos dinheiro, tempo e talento. "Veja o quanto de talento se desperdiça nas universidades enquanto a maioria dos doutores trabalham em busca do sucesso pessoal", desabafa. "Desperdiçar é um ato primitivo, continua Romano, uma cultura de quem não tem responsabilidade com o futuro". O professor da Unicamp acredita que somente com a "educação das massas se evitará o dano coletivo e essa é uma tarefa primordialmente do Estado".

Mas parece que o ato de desperdiçar começa a perder força para um movimento que a cada dia mobiliza mais a sociedade brasileira e já começa a hastear timidamente a bandeira da economia. É certo que o setor da reciclagem, principalmente o de papel e embalagens, sopra a favor para que novos adeptos engrossem o movimento. "Estamos saindo da estaca zero", comemora André Vilhena, diretor do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem). Segundo ele, aos poucos, governos estaduais, prefeituras e organizações não-governamentais, bem como universidades, "dão tratamento mais sério e adequado ao tema da coleta seletiva, que diminui o lixo e gera fonte de renda".

Mas se não quisermos passar pelo desconforto de conviver com a falta de produtos tão valiosos e indispensáveis como a água, vamos ter que estar ainda mais atentos.

São Paulo pede água

A Sabesp, empresa estatal que responde pela maior parte da distribuição e tratamento de água no Estado, e que produz 60 metros cúbicos de água por segundo, alerta que as fontes de captação de água no Planalto Paulista estão por um fio. A água é recolhida principalmente pelo Sistema Cantareira (55%) e pelo Sistema Guarapiranga-Tietê (20%). Somados a outros menores, esses sistemas geram água potável para 22 milhões de pessoas, sendo 17 milhões somente na capital. "Os rios e mananciais estão acabando porque retira-se mais do que se repõe", explica a engenheira Sônia Nogueira, da Sabesp.

"Estamos reduzidos a drásticos 5% do que restou de recurso natural hídrico em todo o estado, porque 80% de toda a água produzida vira esgoto e dela apenas 4% recebe tratamento, sem falar da depredação do homem, que desertifica rios para irrigação, e da poluição, que dificulta a retirada da água de represas". Sônia está há três anos à frente da coordenação do Programa de Uso Racional da Água da Sabesp, o PURA. Ela calcula que, de toda água produzida pela Sabesp, 45% é desperdiçada e que 25% do total se perde antes de chegar na torneira.

Um bem finito

O desperdício da água começa nas adutoras, onde há rompimentos da tubulação, principalmente à noite, quando a pressão da água é mais forte. "Estas nós classificamos de perdas físicas, explica Sônia, e estamos solucionando o problema através da instalação de redutores automáticos de pressão". As demais a Sabesp classifica de "não-físicas": são as ligações clandestinas e as fraudes nos hidrômetros. Segundo a engenheira, essas infrações são combatidas com fiscalização e campanhas. "Com o 'caça-fraude', através de denúncias detectamos as principais evasões, localizadas principalmente em postos de gasolina e lavanderias, o que já nos rendeu boa economia. Já fizemos o recastramento de todos os consumidores para localizar ligações clandestinas", revela.

Mas, por incrível que pareça, não é isso o que mais preocupa a Sabesp. E sim o pacato cidadão, que limpa a calçada com mangueira ou deixa a água da torneira correr enquanto faz a barba. São hábitos que podem ser mudados. Por isso a empresa aposta em campanhas de conscientização, que incluem dicas para economizar água. "Quando abrimos a torneira e a água jorra, pensamos que ela jamais vai faltar e isso é um grande equívoco", alerta Sônia Nogueira. Sim, a água é um produto renovável, porém finito.

Para justificar as campanhas, e mesmo medidas como rodízios e racionamentos, a engenheira aponta outro dado que certamente nos deixará com o cabelo em pé (ou com a boca seca): os 60 metros cúbicos de água por segundo produzidos pela Sabesp são insuficientes. Segundo a empresa, seriam necessários 62, já que cada pessoa consome aproximadamente 220 litros por dia. Essa defasagem aumenta durante o verão, quando o ideal seria a produção de 69 metros cúbicos por segundo.

Beabá da economia

Criado há três anos, o PURA quer agora formar o consumidor de amanhã e investe em uma campanha de conscientização nas escolas. Está previsto para este segundo semestre a inclusão do tema nas salas de aula de todas as escolas da rede estadual, graças ao convênio firmado entre a Secretaria Estadual de Educação e a Sabesp. Com ele, os professores estarão preparados para esclarecer os alunos sobre a importância de conter o desperdício de água e suas formas mais racionais de uso. Os professores também terão o apoio de dois programas de vídeo educativos exibidos no mês passado pela TV Cultura, como o "Chuá-Chuágua" e o "Água na Boca". Eles fazem parte de um kit que ainda contêm cartazes e CD-ROM. Onze mil unidades desses kits, desenvolvidos pela Sabesp, serão distribuídos pelas delegacias regionais de ensino a escolas estaduais e municipais. Escolas particulares também serão contempladas.

Fechando a torneira

A maior estatal do setor em toda a América Latina quer atingir outro alvo que, sem dúvida, dará bons resultados: o bolso do cidadão. A Sabesp estuda a implantação de tarifas diferenciadas para estimular o consumidor a economizar água em horários de maior demanda. Isso já vem sendo feito com órgãos municipais e estaduais que aderiram ao PURA. O resultado? 25% de bonificação na conta. Segundo Sônia, "A meta é reduzir entre 40 e 50% a quantidade de água consumida, ou seja, dos atuais 220 litros por habitante/dia, para 110 litros, ou de 60 para 30 metros cúbicos por segundo". A companhia busca ainda outras soluções, como a reutilização de água. Ela passa por um tratamento e é usada em indústrias, como na pintura de carros em algumas montadoras do ABC paulista.

Outra medida que está sendo adotada é o uso de novos equipamentos hidráulicos que limitam a vazão de água. "A construção civil precisa saber que há bacias sanitárias que reduzem em 50% a descarga, sem prejuízo da limpeza. Esses e outros materiais, como mictórios e torneiras com sensores eletrônicos, estão em exposição no show-room da Sabesp". Há projetos-pilotos patrocinados pela companhia e pela iniciativa privada que demonstram a eficácia dos produtos em condomínios, escolas, hospitais, cozinhas industriais e no próprio edificío-sede da Sabesp, em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista.

Para a coordenadora do PURA, são necessárias também medidas de ordem legal e normativa: "Precisamos de leis que punam os desperdícios".

Mudança de hábito

Enquanto custamos a nos convencer de que somos de fato agentes importantes na cadeia do desperdício, que tal prestarmos atenção no nosso dia-a-dia?

  • Repare na escovação dos dentes. Se você fecha a torneira assim que molha a escova, parabéns! Se ainda enxaguar a boca com um copo de água, você economiza 11,5 litros. Agora, pegue um lápis e multiplique isso pelo número de vezes que escova os dentes durante um mês.
  • Sem querer desestimular sua vocação para cantor de ópera, tome banho mais depressa e com o cuidado de fechar a torneira enquanto se ensaboa. O gasto cai de 135 litros (em 15 minutos) para 45 litros.
  • Não faça da bacia sanitária um cinzeiro para dar descarga sem necessidade. Por falar em dar descarga, antes de sair do banheiro verifique se a válvula está em ordem. Se estiver defeituosa, o gasto será o tripo do necessário.
  • Com meia torneira aberta durante 15 minutos, lá se vão 117 litros para a lavação da louça. Mas é possível baixar para 20 litros se a mesma água, colocada até a metade da cuba, for usada para ensaboar pratos e talheres. Depois é só renovar a água na cuba para enxaguar.
  • Nada de lavar apenas o uniforme de futebol do filho que chega da escola anunciando que vai haver jogo no dia seguinte contra o time do outro bairro. Na hora de lavar roupa, o ideal é colocar no tanque ou na máquina a maior quantidade possível de peças.
  • O hábito de regar jardins e canteiros pode ser disciplinado. No verão, regue logo de manhãzinha ou ao anoitecer. No inverno, as plantas se contentam com um banho dia sim, dia não, pela manhã. Se usar mangueira com esguicho-revólver, melhor ainda. Em 10 minutos de rega, você usa apenas 96 litros. Se ainda não estiver adotando estas medidas, gasta por dia 186 litros de água só com as plantas.
  • Nada contra manter a caranga limpa. Mas, se em vez de gastar 30 minutos, gastar 10 e lavá-la uma vez ao mês, você economiza água e poupa a pintura do carro.
  • Quem "varre" a calçada com a água, joga fora 279 litros do precioso líquido em apenas 15 minutos. Aliás, esse e outros procedimentos começam a ser questionados pela sociedade (ver boxe).

Para manter a luz acesa

Não bastasse o desperdício de água, nós também pouco sabemos valorizar a luz.

A questão da energia elétrica no estado de São Paulo vive perspectivas de uma nova era com as privatizações de três das quatro distribuidoras (CPFL, Eletropaulo e Eletro), sendo que a Bandeirante deve ser leiloada até o final do ano. Com a privatização, as empresas terão que investir 1%, cerca de 100 milhões de reais, de sua receita anual, em campanhas de conscientização (0,25%) e na eliminação de perdas no âmbito das próprias distribuidoras (0,75%). Em outras palavras, o combate ao desperdício permanece na ordem do dia.

Se levarmos em conta a visão empresarial, no contrato firmado entre o governo paulista e as empresas ganhadoras nos leilões de privatização nem seria preciso tal regra. Afinal, nenhum empresário quer perder dinheiro - e desperdício é dinheiro indo para o ralo. Além disso, convenhamos, é bem melhor viver sem os fantasmas de racionamento de energia e os pavores de blecautes. Outra: o setor energético paulista importa energia. A grande metrópole produz apenas 44,7% da energia que consome.

"A meta é diminuir gastos que nos possibilitem economizar, até o ano de 2015, o equivalente ao que seria investido para a construção de uma nova usina de Itaipu", prevê Rubens Leme Filho, do departamento de Gestão de Demanda e Novos Negócios da Eletropaulo Metropolitana, recentemente privatizada e que distribui energia para a capital paulista e mais 24 municípios da Grande São Paulo, ou seja, para 50% da população. "Diminuindo a demanda, teremos mais fôlego para novos investimentos e o produto será de melhor qualidade", conclui Leme Filho.

Campanhas

Dados da Agência para Aplicação de Energia, ligada à Secretaria de Energia do estado de São Paulo, dão conta de que o paulista devora 30% de toda a energia elétrica do país. Desse eletrizante montante, as indústrias são as que mais consomem: 45%. Depois, as residências, com 28%, comércio e serviços públicos, 15%, e ainda os setores agrícola e agroindustrial, com 12%.

Segundo a agência, que trabalha há 15 anos no campo da eficiência energética e desenvolvimento tecnológico, cerca de 25% dessa energia é desperdiçada, o que daria para iluminar a cidade de São Paulo por um ano. No ano passado, foi lançada a campanha "São Paulo Contra o Desperdício de Energia" com a distribuição de cerca de nove milhões de folhetos e lançamento de CD-ROM sobre a economia de energia em residências. "É difícil calcular o resultado, mas precisamos continuar apostando nas campanhas educacionais", afirma o diretor da Agência, Oscar de Lima e Silva. Para passar noções de economia em doses homeopáticas, a tática é primeiro mostrar à população que não há por que manter acesas todas as luzes e ligados e todos os eletrodomésticos da casa. "Depois desse processo que visa essencialmente a mudança de hábitos, procuramos incentivar o consumidor a investir na compra de equipamentos mais sofisticados, como lâmpadas e eletrodomésticos com o selo do PROCEL de Economia de Energia", explica Lima e Silva, referindo-se ao programa do governo federal para uso racional de energia.

Por outro lado, ele não descarta medidas mais drásticas (para o bolso). Uma forma de evitar o gasto de energia nos chamados "horários de pico", entre 17h30 e 20h30, é a implementação da tarifa diferenciada, ou tarifa amarela. Lima e Silva anuncia também a instalação de equipamentos de controle de demanda nas caixas de força das residências: "com eles, havendo abuso, o corte na energia é automático.

Indústrias e prefeituras

A campanha de conscientização, que também abrange escolas e comércio, pretende chegar agora ao setor que mais utiliza energia no estado: a FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - e a ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Ambas firmaram um convênio com a Secretaria de Energia e as empresas de energia para a execução de cinco projetos de demonstrações de uso racional de energia na indústria automobilística. "Neste caso, explica o diretor da Agência, será possível economizar 260 mil MW/ano, o que dá pra abastecer 170 mil casas populares durante um ano", contabiliza.

Os mentores do programa junto às indústrias acreditam tanto na sua eficácia que esperam que as quinze fábricas contempladas com os projetos sirvam de exemplo para as montadoras de veículos e outros setores industriais. "Só estamos aguardando pela licitação que vai indicar as consultorias externas que irão acompanhar o trabalho", promete Oscar de Lima e Silva.

Outro setor onde a Agência de Aplicação espera colher bons resultados são as prefeituras. O programa "Formação de Gerentes Municipais de Energia" já visitou quase metade das prefeituras do estado de São Paulo. A idéia é ajudar a modernizar a administração pública. "A Eletrobrás financia os projetos, explica Silva, e nós acompanhamos a execução do plano para alguns ajustes posteriores e já comemoramos bons resultados em prefeituras como as de São José dos Campos e de Piracicaba, onde a economia chega a 20% do consumo".

Para manter a luz sempre acesa, o setor energético se vê obrigado a investir em fontes alternativas de produção, como termoelétrica a gás, biomassas (energia elétrica a partir do vapor, extraído da cana-de-açúcar e cogeração de energia, que combina a produção simultânea e sequencial de energia térmica e elétrica, a partir de um mesmo combustível. Porque os recursos hídricos em todo o território paulista já estão esgotados.

Comida pra quem precisa de comida

O desperdício de energia elétrica e água fazem pensar no estrago ecológico que podem provocar. Isso nos mobiliza, claro. Mas o que dizer da imagem de alimentos no lixo, quando se sabe que a maior ferida do planeta é a fome?

Somente no estado de São Paulo, são jogados anualmente fora 30% da produção agrícola, ou cerca de R$ 10 bilhões. Se esse alimento fosse transformado em cesta básica, sustentaria 7 milhões de famílias durante um ano! Por esse motivo, o governo e diversos setores da sociedade estudam formas de diminuir as perdas. E o que é mais alentador: transformá-las em comida para quem precisa - calcula-se que 32 milhões de brasileiros estão abaixo da linha de pobreza e vivem sob a ameaça da fome.

O problema do desperdício começa no campo, no manuseio do produto durante a colheita e no armazenamento. No caminho para os grandes centros consumidores, as embalagens inadequadas e as estradas vicinais em estado de conservação precário deterioram ainda mais os alimentos.

A Ceagesp, onde são comercializados R$ 4 milhões por dia em milhares de toneladas de frutas, legumes e verduras, é um dos maiores focos de desperdício. Ali são produzidas, aproximadamente, 70 toneladas de rejeitos por dia. Mas as perdas continuam nas feiras-livres (20%) e nos supermercados (10%).

Novas embalagens e classificação

Todos que integram a imensa rede de complexas etapas que levam o alimento da fazenda à mesa do consumidor parecem estar decididos a diminuir perdas. Se depender deles, os arcaicos caixotes estão com os dias contados. Em algumas regiões, como Moji das Cruzes, no interior paulista, os agricultores estão trocando as caixas de madeira por embalagens padronizadas de papelão ou plástico. "As primeiras experiências são com tomate, berinjela e cenoura", conta Luis Iano, do Sindicato Rural de Moji das Cruzes".

Proteger as mercadorias no transporte não é suficiente. Para evitar manuseio, é necessário que o comprador tenha certeza da qualidade do produto. "Através de rótulos, identifica-se o produto", atesta o superintendente da Associação Paulista de Supermercados - APAS - Gelsomino Di Francesco.

Ele se refere ao processo de "classificação" dos produtos. "A mercadoria, estando devidamente classificada, vai direto para as gôndolas, e todos lucrarão com isso", diz Francesco. A Ceagesp já estuda a implantação do processo de paletização, que é o descarregamento mecânico da carga. Além de contribuir para a conservação dos produtos, a paletização contribui em agilidade. Hoje, um caminhão pode demorar até duas horas para descarregar mercadorias nos armazéns da Ceagesp.

Busca onde sobra, entrega onde falta

Na luta para evitar o desperdício, algumas iniciativas têm notadamente atenuado a fome de pessoas necessitadas. Uma delas é o programa Mesa São Paulo - Colheita Urbana", do Sesc. O programa, iniciado há quatro anos, tem atualmente dezenas de empresas colaboradoras e 40 instituições cadastradas. Técnicos de várias áreas, como higiene alimentar, nutrição, microbiologia e culinária, contribuem voluntariamente com o programa. "Nosso trabalho consiste em mapear pontos onde haja sobras de alimentos próprios para o consumo, como centrais de abastecimento, supermercados, atacadistas, hotéis, restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos onde coletamos os produtos", explica Rita de Cássia Munhoz Martins, técnica do Sesc e coordenadora do programa Mesa São Paulo. "Fazemos a distribuição diretamente com instituições que trabalham com segmentos carentes da população", prossegue a coordenadora. Segundo Rita, a receptividade ao programa é animadora e o Mesa São Paulo já bateu recorde de recolher 56 toneladas de alimentos em abril passado, oportunidade em que foram alimentadas 224 mil pessoas.

Já a nutricionista do Mesa São Paulo, Luciana Machado Gonçalves, acredita que o programa ganhará incentivo e abrangerá um maior número de necessitados quando for aprovado o Estatuto do Bom Samaritano, um conjunto de leis que está sendo discutido no Congresso Nacional. Uma vez em vigor, o estatuto isenta o empresário de responsabilidades civil e criminal por qualquer dano ao beneficiário. "A nossa expectativa é que o Estatuto do Bom Samaritano seja aprovado até o Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro", espera a nutricionista.

É um lixo só

Um dos graves problemas dos grandes centros urbanos é o lixo. Somente na cidade de São Paulo são coletadas diariamente cerca de 12 mil toneladas, segundo a Limpurb, departamento da Prefeitura responsável pela limpeza urbana da capital. E pensar que a maior parte do lixo paulistano poderia ser muito bem aproveitada.

"O lixo da cidade de São Paulo é o terceiro mais rico do mundo", constata Carlos Alberto Venturelli, diretor da Limpurb, que soube desse dado ao participar de um encontro que discutiu recentemente na Espanha a problemática do lixo urbano.

De fato: dados da própria Limpurb indicam que mais da metade do lixo retirado (60%) diariamente das ruas da cidade é composta de material orgânico. Cerca de 30% são embalagens. Ou seja, apenas uma pequena quantidade é de fato lixo, que não tem o menor aproveitamento. A fim de dar uma reviravolta na situação, a Prefeitura de São Paulo iniciou na capital o serviço de coleta mecanizada de lixo.

Com esse novo método, os caminhões passam em alguns locais da cidade recolhendo os sacos que já estão acondicionados em contêineres seletivos. Eles são deixados previamente pelo serviço de limpeza municipal em condomínios e conjuntos habitacionais. O diretor da Limpurb espera que o sistema de coleta mecanizada de lixo abranja toda a cidade até 2002, quando cerca de 1 milhão de contêineres terão sido distribuídos à população. "A vantagem desse sistema, diz Carlos Alberto Venturelli, "é que, ao recolher o lixo no nascedouro e já selecionado, podemos separá-lo de forma que somente o material imprestável siga para os incineradores. O lixo orgânico irá para as usinas de compostagem para a produção de adubo, e papéis e aluminínio irão para a indústria de reciclagem", prevê.

No seu bolso

A vereadora paulistana Maria Helena vai apresentar um projeto de lei na Câmara Municipal proibindo a lavagem de calçadas e estabelecendo normas para a rega de jardins, dependendo das estações do ano. No inverno, nos endereços ímpares a rega só será permitida aos sábados. E os pares, aos domingos. No verão, endereços ímpares e pares revezam-se a cada dia da semana, emnos às segundas-feiras. O projeto visa ainda proibir a lavagem de carro nas ruas. A vereadora se baseia no exemplo da cidade norte-americana de Frasno, no estado da Califórnia, onde os moradores que não cumprem essas normas são multados. Ela lembra que já existe uma lei que proíbe a lavagem de veículos: "É de 1987, sancionada pelo então prefeito Jânio Quadors, mas que ninguém cumpre". O projeto de lei também prevê a obrigação do uso de bacias sanitárias com caixas acopladas de no máximo seis litros nas novas edificações.

O mundo está doente

Os recursos naturais do planeta estão diminuindo, a qualidade de vida nas grandes cidades também. Mudar isso não é fácil, mas cada um pode fazer sua parte. O primeiro passo é perceber que o mundo começa dentro de nossa própria casa. Ou seja, saber o que está acontecendo com a Terra como um todo, e atuar dentro do que está ao seu alcance, seja na sua casa, no seu trabalho ou na sua cidade. Aqui estão algumas informações que certamente vão reciclar o nosso modo de pensar:

  1. O vidro demora 500 anos para se decompor. Reciclar uma tonelada de vidro gasta 70% menos energia do que a mesma quantidade de vidro fabricado.
  2. Os sacos plásticos demoram 40 anos para desaparecer. As garrafas de plástico, 100 anos. Uma tonelada de plástico recicladao economiza 130 quilos de petróleo.
  3. A lata pode resistir 100 anos à ação do tempo. Reciclar uma tonelada de alumínio gasta 95% menos energia do que fabricar a mesma quantidade.
  4. Reciclar uma tonelada de papel poupa 22 árvores. Consome 71% menos energia elétrica e polui o ar 74% menos do que fabricá-la.
  5. O papel demora, no mínimo, três meses para bioddegradar. Jornais e revistas ficam intactos por décadas.

Incentivo humano

Problemas sociais crônicos colocam o Brasil em listas nada agradáveis que medem miséria, injustiça e má distribuição de renda. Porém, sobre tais questões, já se provou que suas soluções não são simples, e nem tampouco repousam somente na mão dos governantes. O Sesc e a Federação do Comércio de São Paulo, preocupados com as mazelas do nosso país, muito têm feito para apontar saídas para vários deles, dando o exemplo à sociedade.

A mais recente prova disso é o Estatuto do Bom Samaritano, um conjunto de quatro anteprojetos e mais um de convênio com ICMS, que oferece garantias à empresários, e demais interessados, no ato de doação de alimento as pessoas que precisam. Um deles, já sancionado, isenta empresários da responsabilidade civil e criminal no caso de danos causados ao beneficiado em virtude do bem doado (exceto no caso de má conduta intencional, negligência ou descumprimento da legislação aplicáveis à fabricação e preparo dos alimentos doados). Ou seja, se antes donos de hotéis, restaurantes e lanchonetes temiam doar seus excedentes pela iminência de uma punição no caso da ingestão de alimento estragado, hoje não têm mais justificativa para jogar comida fora.

Os demais anteprojetos, ainda em trâmite, propõem dedução no imposto de renda a pessoas jurídicas que estejam dispostas a doarem alimentos - ou comida preparada em suas próprias cozinhas no caso de restaurantes, hotéis etc., e ainda máquinas e utensílios utilizáveis para isso.

Como explicou Abram Szajman, Presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e do Conselho Regional do Sesc-SP, em carta ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, "o objetivo do Estatuto do Bom Samaritano é sugerir procedimentos destinados a remover limitações de natureza legal, e favorecer a adesão de um grande número de empresas já sensibilizadas".

Multiplicação dos pães

- É difícil de acreditar. Mas é sempre bom lembrar que os alimentos podem ser usados em sua totalidade. E somente assim ele se tornará totalmente nutritivo. É o caso de cascas, talos e folhas e até a casca de ovo que é rica em cálcio. Com eles você pode ter boas novas na cozinha. Que tal experimentar?

SUCO COM TALO DE COUVE - Pegue três limões, com casca e sem sementes. Em seguida, 2 folhas de couve com os talos. Depois de lavar bem, coloque no liquidificador com um litro de água e açucar a gosto. E depois, coe. Você acabou de fazer suco pra toda a família, que ficou mais rica em vitaminas C e A, complexo B, cálcio, fósforo e ferro.

Filho de peixe, farelo é

A Ceagesp --Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo - é um pequeno "bairro" de 760 mil metros quadrados encravada na Vila Leopoldina, zona oeste da capital. "Por aqui passam diariamente cerca de 10 mil toneladas de mercadorias, que chegam em 10 mil caminhões, e uma população flutuante de 60 mil pessoas", diz, sempre impressionado, Gerson Vada, gerente de entrepostos e há 28 anos na Ceagesp.

Com toda essa grandeza, é de se esperar um local que produza muito lixo. "Fora a cidade de São Paulo, somos nós que mais produzimos lixo, cerca de um por cento de tudo que chega nos armazéns, ou seja, 100 toneladas de diversos produtos misturados com detritos", reconhece Luciano Rodrigues Legaste, do setor de Limpeza e Reciclagem da Ceagesp.

Agumas experiências começam a despontar indicando o objetivo da Ceagesp em diminuir perdas.Em parceria com uma empresa produtora de farinha para ração animal, feita a partir de rejeitos, a Ceagesp há três meses deixou de jogar fora restos de pescado. "Ganham a companhia, que elimina gastos com transporte para aterros sanitários, a empresa que diariamente vem retirar as sobras de peixe, e os lençóis freáticos, que deixam de ser contaminados", comemora Legaste, autor da idéia.Geógrafo formado pela USP, com mestrado em área de rejeitos, Luciano Legaste trabalha há 15 anos na Ceagesp. À frente do departamento de limpeza e reciclagem há oito meses, ele imagina a possibilidade de diminuir o desperdício do entreposto em aproximadamente 80% com a multiplicação dessas parcerias. "Fico entulhado de caixotes que podem muito bem abastecer fornos de padarias", queixa-se Legaste, sempre à procura de algum interessado.