Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Espetáculo
7º Festival Internacional de Artes Cênicas

Promovido pelo Sesc, junto com a atriz e diretora de teatro Ruth Escobar, o evento trouxe onze grupos de diferentes regiões da Ásia. Nesse leque, artistas de culturas pouco conhecidas como a japonesa, apresentada através da dança de Carlotta Ikeda no espetáculo Waiting, ou de lugares mais distantes do imaginário coletivo, como solenes monges do Tibete, misturaram-se a poemas épicos da Índia, escritos há milhares de anos e ainda maiores que os notórios Ilíada e Odisséia juntos. Todas essas expressões antiquíssimas e intocáveis se reuniram sob o tema A Presença do Sagrado nas Artes e deram uma demonstração de como preservar cultura, costumes e artes milenares, lançando mão da humildade e da graça de seus artistas.

Os espetáculos foram realizados no Teatro Municipal de São Paulo, onde a Ópera de Pequim mostrou séculos de tradição e história, e nas unidades do Sesc de Vila Mariana, Pompéia e Ipiranga, além do Parque da Independência, que também serviu de palco para as apresentações.

Antes de sermos entendidos como nação, antes mesmo de nossos descobridores atingirem o tão ansiado posto de conquistadores, do outro lado do mundo, onde o sol nasce primeiro, o passado e o presente procuram a harmonia há muito esquecida por outras culturas. Não limitado à preservação de monumentos ou registros históricos, o Oriente intriga quando apresenta seus jovens vestindo, falando e sentindo como seus antepassados. Esta jovem nação, ou mesmo os europeus do Velho Mundo, muito tem a aprender como os fundamentos e os princípios dessa cultura guiada pelo respeito e pela disciplina.

Demônios e reis

Planície central cercada por montanhas ao norte e maciços montanhosos ao sul; clima tropical com chuvas de monção. Assim é a Tailândia, de onde vieram 33 artistas, entre músicos e atores/bailarinos, para apresentar aos brasileiros seu teatro Khôn, estilo clássico tailandês de representação que funde arte cênica e dança, com a música como base para o desenvolvimento da trama. Em sânscrito, os bailarinos contam a história do Rapto de Sita, o episódio mais popular do repertório nacional, que narra a saga do príncipe Rama e sua tentativa de resgatar sua esposa, Sita, das garras do rei dos demônios, o terrível e decacéfalo Thotskan. Com uma hora e quarenta minutos de duração, o entendimento do enredo foi facilitado pela projeção de legendas que apresentam os personagens e que traduzem as poesias. O teatro de 645 lugares do Sesc Vila Mariana reuniu estudantes, usuários e até celebridades como a Primeira Dama, Ruth Cardoso, que acompanharam o som dos xilofones, trompas e tambores e a destreza ora agressiva ora doce desses ilustres convidados asiáticos com suas máscaras de papel machê coloridas e brilhantes.

O místico e o religioso apareceram de maneira ainda mais forte nas apresentações dos monges do Mosteiro De Shetchen e suas danças sagradas. Com mais de duzentos anos, o mosteiro fundando ao leste do Tibete é um dos principais da ordem Nyingmapa e conhecido por sua perfeita disciplina monástica. Com a invasão chinesa, o Mosteiro De Shetchen foi destruído, mas um dos mestres espirituais mais importantes do Nepal, Dilgo Khyentsé Rinpotché, o reconstruiu e hoje o mundo pode conferir que nem só de reclusão e expressões introspectivas vivem os monges tibetanos. Jovens de 16 a 25 anos dançaram ao som de trompetes e tambores, com cálices de prata e efígies, simbolizando eras perdidas e paraísos espirituais.

De Bali, famosa como refúgio preferido por onze entre dez estrelas hollywoodianas, veio a Companhia Panti Pusaka Budaya, mostrando que mar e sol não são os únicos produtos de exportação do lugar. A pequena ilha da Indonésia tem cerca de vinte mil templos, e tradições que remontam a dois mil anos. O grupo trouxe os espetáculos Kecak e Legong Kraton. No primeiro, apresentado no Parque da Independência, sob a coordenação do Sesc Ipiranga um círculo de fogo serve de palco e uma surpreendente sincronia entre sons e vozes simulam instrumentos e movimentos. Já em Legong Kraton, a dança clássica vem para contar uma lenda: mais um rapto, mais reis, princesas, mais poesia.

O festival contou também com um workshop em que a performer e professora norte-americana Nina Wise, acompanhada do percussionista especializado em música oriental, Geoffrey Gordon, apresentou as Influências Asiáticas nas Artes Cênicas Contemporâneas Ocidentais no Sesc Pinheiros. O objetivo dessa oficina foi oferecer aos interessados, entre eles muitos estudantes de teatro, uma experiência com os elementos das artes asiáticas no teatro ocidental moderno. Segundo a professora, "as artes cênicas no Ocidente foram influenciadas pelas tradições orientais, principalmente nos últimos trinta anos".