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Um caso de sucesso

Foto: Gabriel Cabral

ABRAM SZAJMAN
(Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac)

No ano em que a Petrobras completa 50 anos de existência, quem recebe um presente, na verdade, é a sociedade brasileira, que vê, afinal, a tão sonhada auto-suficiência na área do petróleo praticamente ao alcance da mão. E, mais do que isso, vislumbra num horizonte não muito distante a possibilidade de o Brasil integrar o grupo dos países exportadores dessa matéria-prima. Chegar a esse estágio, no entanto, não foi nada fácil. Ao contrário, exigiu da empresa a superação de obstáculos que, em certos momentos de sua trajetória, chegaram a parecer intransponíveis.

Inaugurada durante o governo de Getúlio Vargas, a Petróleo Brasileiro S.A. nasceu com uma missão estratégica que, à época, parecia impossível: tornar viável o projeto de desenvolvimento industrial do país. Embora de início tivesse a vantagem de deter o monopólio das jazidas nacionais e de todas as atividades inerentes ao setor, a companhia não dispunha de tecnologia nem de mão-de-obra especializada que pudessem garantir o sucesso dessa empreitada. As imensas dificuldades, porém, não foram suficientes para barrar sua ascensão. Dos escassos 2,7 mil barris diários extraídos meio século atrás, a produção saltou para 1,65 milhão de barris por dia em 2003, cerca de 85% das necessidades nacionais.

Hoje a empresa exibe ganhos bilionários, taxas de crescimento anual superiores a 10% e mostra força no supercompetitivo mercado global de petróleo e de gás natural. Aliás, o know-how da Petrobras em exploração petrolífera em águas profundas é dos mais avançados do mundo e representa um valioso item de seu patrimônio, que abrange ainda um parque de cerca de 10 mil poços produtores espalhados por vários países, mais de uma dezena de refinarias em território brasileiro e outras três no exterior, reservas comprovadas de mais de 10 bilhões de barris e um faturamento anual que, em 2002, beirou os R$ 100 bilhões. Por tudo isso, não é mero acaso a Petrobras figurar no grupo das 12 maiores companhias petrolíferas do mundo.

Nem mesmo o temido fim do monopólio, com a desregulamentação do setor iniciada em 1997 e que se tornou total no começo de 2002, abrindo o mercado interno à participação de empresas estrangeiras nas áreas de exploração e produção, abalou o desempenho da Petrobras. Em vez disso, o que se viu foi a desenvoltura da companhia brasileira ao assimilar a mudança, passando a atuar como parceira ou concorrente das 37 concessionárias privadas que começaram a operar no país.

Existe, entretanto, um perigo à espreita, capaz de ameaçar o desempenho daquela que se transformou, nos últimos 50 anos, na maior multinacional brasileira. Trata-se da tentação de o governo voltar a usar a empresa como instrumento de política econômica, a pretexto de atender outros objetivos, como, por exemplo, o controle da inflação. Essa política, que se mostrou ruinosa no passado e atrasou o desenvolvimento de outros setores vitais da economia, pode comprometer a saúde da Petrobras, adiar a meta da auto-suficiência e, por tabela, prejudicar o próprio Estado, ainda seu maior acionista.

É de se esperar que, nessa questão, prevaleça o bom senso, já que, mantendo a vitalidade e a capacidade de investimento da Petrobras, beneficiam-se não só seus acionistas, mas todo o povo brasileiro.

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