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Eterno regresso

No ano do centenário de nascimento de Pablo Neruda, o Sesc Ipiranga prepara exposição com fotos das inúmeras viagens que o poeta chileno fez pelo mundo, inclusive ao Brasil

Amor, amizade, mar, viagens, natureza, memória, política e comunhão entre os homens. Esses são os elementos que constantemente surgem na poesia do chileno Pablo Neruda (1904 - 1973), considerado um dos poetas latino-americanos mais importantes do século 20. E também são os componentes que dividem a exposição Pablo Neruda: Navegação e Regresso, realizada pelo Sesc Ipiranga e inaugurada no dia 30 de junho. “Foi em função desses oito temas que nós começamos a nuclear as fotos junto com os textos”, explica Welington Andrade, pesquisador de literatura que prestou assessoria na organização da exposição. “Cada tema é apresentado por uma memória de Neruda, um texto que se relaciona com um poema que, por sua vez, tem a ver diretamente com as fotos que giram em torno dele. E o grande guarda-chuva que abriga tudo isso, me parece, é mesmo a questão da navegação e do regresso. Isso é muito claro na obra dele, por isso o título da mostra.” Ainda menino, Pablo Neruda saiu da pequena cidade chilena de Temuco para ganhar o mundo, mas jamais perdeu de vista a pátria que o consagrou. Viajante por vocação, o escritor conheceu, ao longo dos 69 anos de vida, os mais diferentes lugares do planeta, do Ceilão à Espanha, passando pela ex-União Soviética, México e também Brasil. “Mas o tempo todo ele volta para o Chile”, continua Welington. “Uma volta metafórica e física. Isso chamou a nossa atenção durante as pesquisas. Trata-se de um poeta isolado, no sentido etimológico mesmo da palavra, ele está numa ilha, muito solitário, mas o tempo todo faz ligações com o mundo”, analisa o pesquisador, referindo-se à Isla Negra (Ilha Negra), um vilarejo de pescadores a poucas horas de Santiago, onde o autor comprou uma casa, hoje um museu. “Neruda é um poeta cosmopolita, embora seja marcadamente chileno.”


Olhar para a América Latina
No ano em que se completa o centenário do nascimento do poeta chileno, a ser comemorado em 12 de julho, o Sesc Ipiranga produz uma exposição que pretende, por meio de textos literários, memórias e mais trinta fotografias do acervo pessoal do artista, cedidas pela Fundação Pablo Neruda, no Chile, oferecer às novas gerações a oportunidade de conhecer a grande personalidade do autor, cuja vida pública marcou a história da América Latina, e que, por força de sua obra, acabou por se tornar um artista do mundo. “Nas fotos que mostram as visitas ao Brasil, há imagens dele jovem com Jorge Amado, o artista plástico Carybé e Vinicius de Moraes”, conta Lídia Tolaba, técnica da unidade. “Além disso, há as passagens dele por Minas Gerais e Bahia. São fotos importantes para o Brasil. Temos, inclusive, uma muito antiga, de 1945, que mostra sua participação num recital de poesia num teatro da Bahia, onde foi recebido por autoridades e pelo povo.” Mais que relembrar o quanto o Brasil era caro a Neruda, a exposição traz nas entrelinhas a intenção de levar o olhar brasileiro aos irmãos de continente. “Tradicionalmente o Brasil parece voltar as costas para a América Latina e sempre olhar para a Europa e os Estados Unidos”, afirma Welington. “A idéia da exposição é promover o contrário: olhar a América Latina de frente. Neruda sempre fez isso. Na cultura brasileira, essa celebração da latinidade foi algo característico até os anos de 1960 mais ou menos. A partir da década de 1970, isso passou a ser considerado meio piegas e ultrapassado. Acho que a mostra é uma tentativa de voltar a valorizar a relação, por meio dessa figura tão emblemática que foi Pablo Neruda.” A inauguração no dia 30 foi marcada pela realização de um recital, com a presença do cantor Renato Braz e dos atores Leona Cavali e Cacá Carvalho. No repertório, leituras dramáticas de poemas e textos em prosa de Neruda e ainda a execução de músicas tematicamente ligadas ao universo do poeta, como canções de Chico Buarque e Milton Nascimento.