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A volta do auditório
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A cada quinze dias, o programa Vozes do Brasil, diariamente no ar, é transmitido direto do auditório do Sesc Vila Mariana, com direito a auditório e show ao vivo

Antes da televisão, o rádio era o veículo responsável pelo entretenimento da família brasileira. Os artistas, principalmente os músicos, transmitiam nas ondas invisíveis a voz e o som que deleitavam milhares de ouvintes. Havia uma atmosfera misteriosa, já que a fisionomia dos astros permanecia oculta da vista do grande público. E muitas vezes, as reputações eram construídas às cegas: quantas moças não desmaiaram no raiar dos primeiros acordes da voz de um Chico Alves, “O Rei da Voz”?
O historiador de cinema Máximo Barro lembra que foi a grande tela que tornou populares os rostos dos cantantes. “Nos filmes de Carnaval, esses artistas participavam de cenas aleatórias, com o único propósito de aparecer e, muitas vezes, sem concordância alguma com o enredo. Os espectadores reconheceram pela primeira vez a figura dos ídolos.”
E mesmo diante de uma feiúra inequívoca, como a de Orlando Silva, o público não arrefecia o fanatismo que envolvia os cantores do rádio. Durante sua primeira visita a São Paulo, no fim da década de 30, o cantor carioca estremeceu corações. Em sua apresentação na rádio Cruzeiro do Sul, situada num prédio na Praça do Patriarca, uma multidão “indomável” se acotovelava para receber acenos do seu ídolo. E, durante um inocente passeio de Orlando Silva pelas ruas do centro, as moças quase o deixaram nu em pêlo, segundo as crônicas da época.
Essa breve introdução serve para demarcar a importância do rádio. Na verdade, como acontece hoje com a televisão, os programas de rádio contavam com a presença de um entusiasmado auditório, ávido por acompanhar, de perto, a performance dos ídolos. Essa época é conhecida pelo que se convencionou denominar “tempos românticos”.
Depois, com o advento de outras mídias, deixou de ser interessante (e lucrativo) para as emissoras prosseguirem com essas transmissões. Assim, gradativamente, os programas de auditório entraram em rota de extinção. Seria essa, portanto, a triste sina do famigerado “tempo romântico”, não fosse o Sesc Vila Mariana, em parceria com a Rádio Eldorado FM, (re)inaugurarem, no mês passado, essa modalidade tão simpática.
O esquema é o seguinte: de quinze em quinze dias, o programa Vozes do Brasil, que vai ao ar diariamente, às 11h, é transmitido ao vivo, direto do auditório do Sesc Vila Mariana, com direito a público e à participação especial de um artista, responsável pela trilha sonora.
A reportagem da Revista E acompanhou a transmissão (e seus bastidores) ocorrida no último dia 29 de março, quando aos milhares de ouvintes habituais do Vozes, no carro, em casa, no trabalho, somaram-se cerca de 150 privilegiados que acompanharam in loco o show de Itamar Assumpção. “A idéia principal é fazer com que o público se sinta num estúdio”, explica Patrícia Palumbo, apresentadora e idealizadora do programa. “Eu sempre recebia esses músicos maravilhosos na rádio, mas apenas eu podia aproveitar suas presenças. Aqui, compartilho essa experiência com mais gente. Outro fator importante é que a trilha sonora ao vivo enriquece muito o programa, além de abrir espaço para que músicos de muita qualidade, mas que nem sempre são solicitados pela mídia, apareçam.”

Ao vivo e a cores
Nas ocasiões em que é gravado no Sesc Vila Mariana, a rotina antes do programa entrar no ar segue a ordem normal de todos os dias, a não ser pela presença do público.
Às 11h, Patrícia entra ao vivo apresentando a atração da vez e já solicita a intervenção da platéia, que interage a todo o momento. De fato, o que se assiste no auditório é um verdadeiro show, com iluminação e cenografia, “visível” apenas para poucos privilegiados. “É sensacional. Foi incrível escutar ao vivo e a cores aquilo que milhares de ouvintes acompanhavam a distância. Realme0nte me senti em um estúdio, até porque, durante os intervalos comerciais, o som da rádio era ouvido no auditório”, disse Alexandre de Oliveira. Mas e o músico, o que achou? “Tocar no rádio torna-se um pouco misterioso, pois seu público esta incógnito. É como conversar com o invisível. Além disso, esse é um espaço muito bom aberto a músicos que não têm acesso à mídia de massa”, explica o co-protagonista da manhã, Itamar Assumpção.
Durante a performance, a apresentadora abre os microfones aos interessados em fazer perguntas ao artista. Além disso, escutam-se muitas interjeições e interferências por parte da platéia. “Nesse caso, o improviso é total. Não podemos prever a reação do público e muito menos a do músico, como no caso do Itamar, que alterou o repertório no meio do show.”
Houve espaço, inclusive, para que sua filha e produtora, Anelis Assumpção, subisse ao palco para conceder a famosa “palhinha” em uma das canções. Mas o melhor mesmo ainda estava por vir: após o término do programa, quando o sinal de “no ar” se apagou definitivamente, o público presente escutou, com exclusividade, duas músicas de bis. “Esse é mais um motivo para que os ouvintes venham ver o programa aqui no Sesc Vila Mariana”, convida Patrícia Palumbo.