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A descoberta do prazer

Atividade física não é sinônimo de sofrimento. Basta olhar ao redor e escolher uma prática que mais se adapte ao seu gosto.

Maya Garcia é uma advogada que trabalha doze horas por dia e odeia exercícios físicos. Para ela, a idéia de fazer ginástica e ter de freqüentar uma academia é terrível. "Detesto fazer exercício físico porque não suporto ficar dentro de uma academia e conviver com seus freqüentadores." Ela acredita que essas pessoas passam a reparar somente no corpo e esquecem do resto. "Tenho preconceito contra os ‘saraditos’", como ela mesma define aqueles que têm o corpo malhado.

O que a advogada não sabe é que hoje a atividade física pode ser dissociada da academia e trazer muito prazer sem sofrimento. Segundo médicos e especialistas da área, o que vale é a pessoa se autoconhecer e descobrir aquilo que mais gosta de fazer, relacionado com sua personalidade e modo de vida.

Para o fisiologista e professor de medicina esportiva da Universidade Federal de São Paulo, dr. Turíbio Leite Barros, uma pessoa sedentária é aquela que gasta menos de 2.000 calorias por dia, o que equivale a trinta minutos de atividade física por dia. "Nesses trinta minutos estão incluídas atividades como caminhar, subir escada, ir ao supermercado, ou seja, toda situação em que o corpo esteja em movimento."

Sedentarismo

Hoje, segundo levantamento do programa Agita São Paulo, da Secretaria Estadual de Saúde, 70% dos habitantes da Grande São Paulo são sedentários e a maioria tem uma idéia errada e sofrida de atividade física. "Para que uma pessoa adquira o hábito de fazer atividade física", começa explicando Maria Aparecida Ceciliano, técnica do Sesc, "é necessário que ela tenha uma motivação interna e que se identifique com a prática, ou seja, que tenha um componente de satisfação, de prazer."

Uma idéia, que segundo o dr. Turíbio, deve ser passada para aqueles que não gostam de atividade física é que a diferença entre ser sedentário e ser ativo não é tão grande. "Fazer exercício não é praticar atividades de desconforto", explica o médico. "Exercitar-se é realizar movimento, ou seja, aumentar seu gasto calórico de maneira regular e diária, adotando atividades que estejam dentro de seu limite."

Foi buscando uma atividade que lhe desse prazer e fizesse perder peso que o estudante Maurício Damasceno encontrou a capoeira. "Já tinha tentado ir à academia, mas ia por um tempo e depois parava. Aquilo não tinha nada a ver comigo, eu me sentia um ET dentro daquele lugar."

Segundo o professor de educação física Eduardo Carmello, ao iniciar um trabalho com uma pessoa deve-se levar em conta, em primeiro lugar, o fato de que um indivíduo não é só físico, mas também cognitivo, mental e espiritual. "O trabalho com uma pessoa sedentária deve ser iniciado com três perguntas básicas", afirma o professor. "O que ela tem feito nos últimos trinta dias, o que gosta de fazer e o que faz. Depois, deve-se levar em consideração o que ela faz porém não gosta de fazer e, por fim, o contrário: o que ela gosta de fazer mas não está fazendo." Respondidas essas perguntas, o professor conhece o perfil do aluno e desenvolve um programa de atividades juntamente com ele. "O erro de muitos profissionais é fazer um programa para a pessoa e não com a pessoa. É uma diferença sutil, mas responsável pela manutenção do aluno."

O segundo passo para deixar de ser uma pessoa sedentária, depois de descobrir a atividade física que mais lhe dê motivação, é iniciá-la com moderação. "O indivíduo deve, em primeiro lugar, abrir um espaço na sua agenda diária para a prática", retoma dr. Turíbio. "E, depois de mais ou menos três ou quatro semanas, se for o objetivo, partir para um programa que venha a melhorar um pouco mais seu condicionamento físico", explica. O professor Eduardo completa: "A regra básica é fazer um tipo de atividade que você goste. A segunda regra é combiná-la com sessões de alongamento e aquecimento, por exemplo, para que você desenvolva seu corpo como um todo".

Fazer esportes nunca foi o forte da dona de casa Meire da Silveira. Mas há algum tempo ela vinha se sentindo "triste, sem ânimo e cansada". Conversando com uma amiga, descobriu a dança do ventre. "Tenho me sentido bem melhor, com mais disposição", entusiasma-se. "O mais gostoso é que sinto uma melhora na minha auto-estima. Sinto-me mais bonita e atraente." Ana Maria, filha de Meire, acrescenta: "Minha mãe está bem mais tranqüila. Seu humor melhorou muito depois que começou a ir às aulas. Tenho até pensado em fazer algo também".

Para a maioria dos especialistas, a partir do momento em que a pessoa sente-se melhor consigo mesma, adquire a consciência da importância da atividade física e torna isso um hábito. "A atividade que passa a ser sistemática faz com que a pessoa passe a liberar substâncias químicas que lhe trazem uma enorme sensação de bem-estar", acrescenta o fisiologista Turíbio. "Podemos dizer que o indivíduo fica ‘viciado’ pela sensação promovida pela atividade física."

A prática

Marco Antonio Petronio é um executivo que trabalhava doze horas por dia e, inevitavelmente, chegava em casa sempre cansado e sem ânimo. Sua mulher, Ana Paula, conta: "Marco não tinha ânimo para nada. Resolvi convencê-lo a fazer um esporte e juntos começamos a freqüentar uma academia". O incentivo valeu a pena. Segundo Marco, muita coisa melhorou na vida do casal. "Estou mais bem humorado, fico mais tempo com minha mulher e passei a dividir melhor meu horário de trabalho e lazer." Assim, com todo esse entusiasmo, o casal já freqüenta a academia há dois anos. "Fizemos disso parte da nossa rotina", conta ele. "O mais gostoso é que sempre superamos nossos limites. Quando comecei a malhar, não agüentava nem andar na esteira direito, hoje corro meia hora com tranqüilidade", comemora o executivo.

Segundo estabelece o professor Eduardo Carmello, Marco Antonio estaria na fase denominada manutenção, ou seja, a fase em que fazer exercício vira um estilo de vida. Aliás, para o professor, ao ingressar na vida ativa, um indivíduo passa por vários estágios. Desde que uma pessoa começa a pensar em se exercitar até fazer disso um hábito corriqueiro, passa por cinco deles. "Seriam", começa a listar o professor Carmello, "as fases de pré-contemplação, em que o indivíduo nem pensa em fazer exercício; contemplação, momento em que a pessoa pára para pensar no assunto; em seguida, preparação, momento em que a pessoa compra uma roupa nova e abre espaço na agenda para essa atividade; ação, o início propriamente dito da prática – que dura por volta de três meses; e, por último, manutenção."

Os profissionais notam que as pessoas que fazem atividade física com prazer, ou seja, estabelecem uma relação pessoal, natural e harmoniosa com a prática esportiva, tendem a permanecer nela. Saem daquele vai-e-vem frustrante pelo qual muitos passam ao começar e parar uma atividade, seja por falta de motivação ou interesse. O grande desafio do Sesc, retoma a técnica Maria Aparecida, é fazer com que a pessoa conheça as mais diversas práticas. "Assim, ela pode escolher e começar a praticar porque gosta. Isso garantirá uma continuidade."

O professor Eduardo Carmello acrescenta: "Existem duas formas de motivar uma pessoa a fazer exercício: pela necessidade, quando o médico manda; e pela possibilidade, quando o indivíduo pensa no bem que isso irá lhe causar". Um bom exemplo disso é a dançarina Adriana Mateus, que começou a fazer dança como uma maneira de se exercitar. "Nunca fui gorda ou tive problemas de peso, queria um corpo mais sadio", conta ela, que hoje chega a ensaiar seis horas por dia. "Me descobri totalmente e é isso o que eu quero para a minha vida. Adoro dançar."

Ninguém precisa virar atleta profissional, ou fazer do exercício uma obrigação. O interessante é descobrir do que se gosta e mexer o corpo. Existe uma gama de possibilidades que agrada gregos e troianos. Escolha a sua!

Movimente-se - O importante é mexer o corpo

Preocupado com a grande porcentagem da população que não faz nenhuma atividade física, o Sesc Verão, projeto que o Sesc São Paulo realiza todos os anos, quer incentivar as pessoas a descobrir o prazer do movimento. O objetivo é fazê-las entender que a atividade pode ser escolhida de acordo com os interesses. Para o Sesc, a principal maneira de criar o hábito da prática esportiva é por meio da identidade que a pessoa irá desenvolver com a modalidade escolhida.

A conseqüência disso é que a pessoa passa a ver o esporte como algo prazeroso, acabando com a idéia de que exercício físico é sinônimo de sofrimento e reconhecendo que ele proporciona bem-estar, saúde e satisfação. "Uma das principais ações do projeto Sesc Verão é oferecer possibilidades", explica a técnica do Sesc, Maria Aparecida Ceciliano. "Se a pessoa se permitir conhecer e experimentar práticas de atividades corporais, com certeza irá encontrar uma que lhe desperte interesse e motivação", afirma.